liberdade e sigilo

Invasão de privacidade e Liberdade de expressão. Por Meraldo Zisman

… Apesar de já ter acumulado muita experiência ao longo da minha vida, continuo surpreso com as infrações hoje cometidas em nome da liberdade.

Muitos são os erros cometidos em nome da liberdade e, como médico, tenho o dever de denunciar as invasões de privacidade que ocorrem quando as pessoas estão doentes. É um dever fundamental da sociedade resguardar o direito humano à privacidade, principalmente quando se trata de assuntos médicos.

Acredito que o respeito à vida privada de cada pessoa é um aspecto importante da dignidade humana. Infelizmente, observo um aumento preocupante nas violações de privacidade em nome do pretenso interesse público. O pior é que a mídia faz o que considera ser o seu papel, ou seja, evidenciar tudo aquilo que as pessoas estão ávidas por assistir, visando sempre o lucro, apesar do desrespeito à condição humana.

Quando um grupo social apresenta comportamento de histeria coletiva corre o perigo de se nivelar aos criminosos que ele mesmo criou. Como profissional da área psicopatológica, não posso deixar de ficar apreensivo com o interesse mórbido por vezes exibido pela população. Não vejo qual é o real interesse em saber detalhes íntimos da vida de um paciente, como quantas vezes ele foi ao banheiro ou se se tornou impotente depois de uma cirurgia. A mídia parece estar mais interessada em chocar o público do que em esclarecer a situação. Isso é uma desconsideração com o paciente, seus familiares, médicos e enfermeiros. Afinal de contas, a intimidade de alguém só interessa a um número limitado de pessoas.

A curiosidade mórbida em saber como uma doença se desenvolveu ou como foi tratada é desnecessária e invasiva. Como médico e cidadão, é meu dever levantar essas questões. Onde está o respeito pela dignidade humana? A sociedade está caminhando para a obscuridade e o laissez faire (deixar fazer) absoluto e absurdo.  Não podemos permitir que a consideração com o doente seja deixada de lado. O respeito à condição humana é o único caminho para preservar a liberdade e a dignidade. E, sem elas, não há cidadania.
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Meraldo Zisman Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.

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