clube de amigos

…Dá pra imaginar que, no fundo, o “clube de amigos” que poria fim à guerra na Ucrânia não era o objetivo maior de Lula. Se fosse isso, Luiz Inácio teria agarrado a ocasião de dar um forte abraço no líder do país invadido…

clube de amigos

Está difícil captar a lógica de Lula da Silva no caso da guerra provocada pela invasão da Ucrânia por tropas russas. Analistas de todos os quadrantes – inclusive este escriba – têm atribuído o bizarro comportamento de Lula a diferentes causas: antiamericanismo primário, desejo de ficar na história como aquele que parou uma guerra, necessidade de ser visto como pacificador planetário.

Talvez as palavras e os gestos de nosso presidente reflitam um pouco de cada uma dessas razões. Mas tem mais. Um curto vídeo rodado na abertura da reunião da qual participaram todos os líderes (os do G7 e os de países convidados) revela que, à entrada de Zelenski, todos se levantaram e se dirigiram para acolhê-lo. Lula, fingindo estar entretido na leitura de um documento, nem ergueu a cabeça. Ficou sentado como se tivesse entrado a moça do café.

Lula da Silva não é homem culto. Mas também bobo não é. Se ele tivesse a intenção sincera de “levar a paz” àquela região e minorar o sofrimento de seus inocentes habitantes, sua atitude certamente seria outra. Ao ver, a dois metros de distância, entrar o líder de um dos países em conflito, teria se levantado imediatamente para saudá-lo, apertar-lhe a mão e soprar-lhe no ouvido: “Logo mais, vamos conversar”.

Não foi o que ele fez. Ao se fazer de estátua enquanto o resto dos líderes recepcionava o visitante, deu um recado: “Não vou porque não quero”. Pode-se traduzir por uma frase que criança usava antigamente: “Não sei quem é esse aí, não quero saber e tenho raiva de quem sabe”.

Em suma, o desaforo que Lula fez a Zelenski não foi gratuito. Tem um motivo, mas qual?

Lula aparenta ter ficado extremamente irritado com a presença do convidado surpresa. Zelenski, popstar conhecido e famoso no mundo todo, ofuscou o papel de protagonista que Lula imaginava assumir. Roubou-lhe a cena. O mau humor de Luiz Inácio é a face visível do ciúme e da raiva que lhe roem a alma.

Dá pra imaginar que, no fundo, o “clube de amigos” que poria fim à guerra na Ucrânia não era o objetivo maior de Lula. Se fosse isso, Luiz Inácio teria agarrado a ocasião de dar um forte abraço no líder do país invadido. O grande objetivo de Lula era dominar a cena do festival, como fazia nos bons tempos em que era “o cara” de Obama. No fundo, para quem dizia querer criar um “clube de amigos”, o procedimento de Lula foi inamistoso e revelou sua falta de sinceridade.

Pois é, os tempos mudaram, mas Luiz Inácio esqueceu de evoluir. A continuar assim, periga nem ser convidado para o G7 do ano que vem.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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4 thoughts on “Clube de amigos? Por José Horta Manzano

  1. Caro Manzano,
    Uns piores defeitos do ser humano é se dar a importância que não tem.
    Quando restrito ao ambiente familiar, de trabalho ou convívio social, podemos ignora-lo, chama-lo de chato e esnobe e tudo bem.
    Agora, quando é alguém exposto aos holofotes e, principalmente político, vira questão de estado.
    Nosso atual presidente eleva sua egolatria – principalmente agora que quer mostrar à atual esposa o mundo – ao nível máximo.
    Esquece que é presidente de um país que, é grande pelo amanho, mas no contexto mundial ainda tem que “comer muito feijão” para ser comparado àqueles onde ele vai ou com os quais se encontra nessas reuniões em que muito se fala, discursa, para continuar tudo como sempre foi.
    Lógico, negócios são a tônica das conversas, cada um puxando a “brasa para sua sardinha”, afinal o mundo funciona assim desde priscas eras.
    Mas, na cabeça de Lula não é assim: vai como convidado, fala um mote de asneiras, palpita sobre o que nada sabe, tem soluções esdrúxulas para qualquer assunto e, pasmem pede apoio financeiro para a Argentina, como se de lá fosse.
    Do Brasil nada falou de útil, pois afinal por aqui estamos como sempre “deitado em berço esplêndido”.
    No fim sai amuado, tal qual criança birrenta, por não ter sido o centro de um encontro onde entrou de favor e, ao ver um verdadeiro líder ser adulado, não contém sua inveja.
    Um abraço!
    Inté!
    SP 23/05/23

    1. Xará, salve!

      Lula não consegue (ou não quer) se dar conta de que, se seus dois primeiros mandatos foram um sucesso, não foi tanto em virtude de seu trabalho, mas antes em razão dos bons tempos de bonança mundial e de crescimento exponencial da China.

      Entrou de sola neste mandato temporão imaginando que tudo seria como antes, num tempo em que até no pântano brotavam flores. Está descobrindo, à sua custa, que já não é assim. O mundo mudou, ele envelheceu, perdeu energia e deixou escapar o “momentum”. Daqui para a frente, não dá pra vislumbrar nada de bom.

      Que fique claro: é sempre melhor que seu predecessor, que, em mais quatro anos, teria demolido o país. Mas bem que o Lula podia parar de dizer besteira. Já seria um bálsamo.

    2. Isso mesmo. Lula é um caso interessante a ser estudado: possui um egocentrismo cuja base é seu profundo complexo de inferioridade e necessidade visceral de aprovação e de bajulação.
      Ao mesmo tempo, consegue também ser narcisista.

  2. Lula é um ser doente.
    Longe dele querer promover a paz seja de quem for.
    Fosse assim, colocaria em prática essa vontade na própria casa em vez de colocar mais lenha na fogueira – aliás, fogueira que ele mesmo iniciou lá nos idos de 2002 com a história de “nós contra eles”.
    Magoou ao perceber que Zelensky recebeu mais atenção do que ele – e com essa atitude descobrimos que ele também é invejoso.

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