Militância de sofá

Militância de sofá. Por José Horta Manzano

Bolsonaristas não são militantes políticos no sentido tradicional. O asfalto não é seu terreno. Preferem o conforto de um sofá macio de onde possam mexer os dedinhos, navegar por redes sociais e juntar-se a “patriotas” que pensam todos igual…

miitancia de sofá

Bolsonaristas não são militantes políticos no sentido tradicional. O asfalto não é seu terreno. Preferem o conforto de um sofá macio de onde possam mexer os dedinhos, navegar por redes sociais e juntar-se a “patriotas” que pensam todos igual. Slogans e invectivas não são lançados pela boca, mas dedilhados no celular. É bem mais maneiro; desfilar debaixo de sol ou chuva é coisa de pobre. (Disclaimer: é ironia.)

Banido de todo cargo eletivo aos 68 anos, Bolsonaro está praticamente fora do jogo político para sempre. Só poderá voltar aos 75 anos, idade em que quase todo cidadão costuma estar em casa curtindo reumatismo e artrose de chinelo e pijama. Se a cabeça estiver funcionando, naturalmente.

Este escriba não frequenta redes sociais. Não por desamor, mas por achar que não são da minha idade. Um artigo do jornal O Globo publicado na esteira da condenação do capitão informa o seguinte: “um monitoramento interno do TSE, que acompanha eventuais ameaças à integridade dos ministros do tribunal, constatou um ambiente de calmaria nas redes bolsonaristas.

É de causar espanto a ausência de reação dos devotos diante da condenação do “mito”. Parecem ter baixado os braços. Não se vê movimentação nem nas ruas nem nas redes. É de deixar encafifado. Se o apoio dos partidários de Bolsonaro é assim tão frágil e superficial, como é possível que tenham armado aquela batalha campal do 8 de janeiro? Terão sido realmente adeptos ou quem sabe se tratava de militância remunerada? (Essa é pra pensar em casa.)

Mas há males que vêm pra bem. A constatação de que a fidelidade dos apoiadores do ex-presidente é curta e frágil dá aos tribunais superiores uma dica de como agir na análise da pilha de processos que o capitão carrega nas costas. Se as reações ante a condenação pelo TSE foram tão minguadas, não há por que hesitar quando vier a hora de abrir-lhe as portas da Papuda.

Até algum tempo atrás, temia-se que eventual prisão de Bolsonaro pudesse provocar comoção nacional. Vê-se hoje que não é bem assim. O máximo que seus fãs saberiam fazer é armar tempestade dentro das redes. Nas ruas, nem um pé. O bicho é manso. As coisas mudaram. Ou teremos sido nós que, por prudência, havíamos exagerado nossos temores?

Podem jair preparando o camburão.

__________________________________________

JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

______________________________________________________________

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter