doação de órgãos

Doação de órgãos. Por Adilson Roberto Gonçalves

Obviamente motivada pela situação médica do apresentador Fausto Silva, a discussão sobre a doação e transplantes de órgãos veio à tona. Setores de captação de órgãos para transplante identificaram alta nas doações nos últimos dias, também reflexo do momento televisivo. É o lado bom da história.

CORAÇÃO

Nessa toada, foi importante o artigo de Gustavo Fernandes Ferreira, Presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, na Folha de S. Paulo (“A vida renovada pela doação de órgãos”, 1/9) e a campanha para estimular mais e mais doações de órgãos neste mês de setembro, já que é muito difícil voltar à obviedade de transformar todos em doadores universais.

Tal pressuposto de doação universal estava na promulgação da Lei 9.434/1997 (Lei de Doação de Órgãos), mas foi retirado pela repulsa da população em ser colocada nessa condição de forma imposta. Isso é chamado “efeito rebote”, o que levou à alteração naquele dispositivo, invertendo a questão. Mas um meio termo seria plausível: o indivíduo deixar consignado em cartório que quer doar seus órgãos, independentemente da decisão de familiares, e isso ser o documento impositivo, após a constatação da morte encefálica, nos termos da citada lei. Da forma como está, mesmo eu sendo doador de tudo o que possa ainda prestar em meu corpo depois de morrer, a doação somente será efetivada se os parentes assim atestarem. E não são poucos os casos de negação da família, mesmo com expressa manifestação do doador em vida.

Antes disso, um mês atrás, outro artigo chamou a atenção sobre a questão de transplantes, mas suscitou um comentário importante sobre as manifestações das entidades médicas. É louvável o esforço dos envolvidos com as modernas práticas de transplante de órgãos no Brasil, relatadas no artigo de Silvano Raia, professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e Elias David-Neto, Diretor do Serviço de Transplante de Rim do Hospital das Clínicas da FMUSP (“Novas fronteiras para a doação e o transplante de órgãos” 26/7).

O problema é que a classe médica esteve mais engajada em defender políticas negacionistas junto ao governo anterior do que explicitar a importância da pesquisa científica, necessária nesses estudos. Refutaram também o programa Mais Médicos e muitos defendem pseudociências, haja vista a introdução de práticas não científicas no rol de procedimentos aceitos pelo Ministério da Saúde com chancela do Conselho Federal de Medicina. Que, junto à visibilidade do caso do Faustão, os autores consigam semear uma nova postura dos homens de branco.

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Perfil ambiental e político – Adilson Roberto Gonçalves –  pesquisador da  Universidade Estadual Paulista, Unesp, membro de várias instituições culturais do interior paulista. Mantém o Blog dos Três Parágrafos. Vive em Campinas.

 

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