guerra sem vitórias

Uma guerra sem vitórias ou glórias. Por Wladimir Weltman

… E novamente Israel está em guerra. Novamente o país corre o risco de destruição. E novamente, nós, os judeus, temos que nos explicar para o mundo não-judaico que temos direito de nos defender e responder à altura os que ameaçam nossos irmãos…

guerra E novamente Israel está em guerra. Novamente o país corre o risco de destruição. E novamente, nós, os judeus, temos que nos explicar para o mundo não-judaico que temos direito de nos defender e responder à altura os que ameaçam nossos irmãos, que ousaram nascer e viver na terra de nossos ancestrais.

Além do sofrimento já vivido até o presente momento, e nos preparando para os que hão de vir, temos que explicar aos idiotas da objetividade que, apesar de todos os erros e maus passos do atual governo israelense, isso não dá direito a ninguém de nos aniquilar, massacrar, estuprar, raptar e dessacralizar nossos cadáveres de homens, mulheres, crianças e velhos.

Como judeu, jornalista e ser humano confesso meu mais profundo cansaço e desgosto com a raça humana. Nossa sociedade mundial é patética, ridícula, ignorante e lamentável.  E não me refiro aos antissemitas mais absurdos, como gente da KKK, supremacistas brancos, neonazistas, seguidores de Louis Farrakhan, e a imprensa árabe em geral. Nem mesmo os terroristas do Hezbolah, Hamas e companhia limitada. Esses se definem por si só. Falar deles é chover no molhado. Falo do resto de boa porcentagem do mundo judaico-cristão.

Não tenho nenhuma fantasia. O mundo não judaico é, por definição, antissemita. Sei do que estou falando. Nasci no Brasil e cresci cercado pela sociedade do maior país católico do mundo ouvindo os alto falantes das igrejas na Semana Santa declarando em alto e bom som, todos os anos, que nós os judeus matamos Jesus.

Pouco importa que isso não seja verdade. Josué-filho-de-José era um rabino galileu zelote (sob forte influência farisaica) que foi condenado à cruz pelo prefeito romano da Judeia por subversão contra o império romano. Se apresentou em Jerusalém montado num burrico – como estipulavam as escrituras que o Messias judeu apareceria – na semana mais volátil do calendário judaico da época. Na Páscoa judaica, quando todo o país se reunia em Jerusalém para cumprir obrigações religiosas no Templo.

Não satisfeito de ser sido recebido por todos os habitantes da cidade como o possível Messias (candidato a rei, não a Deus) – já que era descendente da Casa de David – Jesus resolveu bater nos cambistas do templo, que exploravam a população com cotações absurdas. Dinheiro necessário para comprar oferendas ao templo. Se tornou obviamente uma dor de cabeça ao representante de Roma.

Poncio Pilatos, o prefeito romano da Judéia, conhecido por sua disposição violenta, estava na cidade contra vontade, para conter a possível massa revolta. Com Jesus se apresentando como candidato ao trono de Israel em lugar de Herodes, um títere romano – ou seja desafiando o poder de Roma – seu destino estava selado.

O truculento Pilatos (que não lavava a mão de todas as condenações numerosas de judeus, que acabaram fazendo que perdesse o emprego na Judéia) tratou de aprisioná-lo e crucificá-lo antes que a coisa fugisse ao seu controle.

… O ser humano precisa sempre ter outro ser humano um pouco diferente para odiar. Pode ser judeu, negro, homossexual, alguém com alguma necessidade especial, cigano, mulher e, segundo o apetite árabe, os curdos e armênios também servem…

Tempos depois, um tal de Paulo vindo da Grécia viu na história de Jesus uma boa forma de criar sua própria religião. Meu sábio pai sempre me disse – queres ficar rico? Inventa uma religião, não é Bispo Macedo? Pois Paulo recontou a história de Jesus a seu bel prazer e levantou uma boa grana no processo. Quando apareceu em Jerusalém com os bolsos fartos, Pedro e os outros discípulos de Jesus ficaram sabendo das invenções dele e tentaram apedrejá-lo (que era a tradicional forma de execução judaica, nada a ver com crucificação). Mas isso já é uma outra história.

O fato é que a versão dos fatos editados por Paulo e seus seguidores resultou na culpa judaica que se perpetuou “per saecula saeculorum”.

Qual o ponto? O ponto é que os judeus viraram a bola da vez desde então. Mas claro, não fossem eles, outro povo ou grupo teria sido ungido com tal função. O ser humano precisa sempre ter outro ser humano um pouco diferente para odiar. Pode ser judeu, negro, homossexual, alguém com alguma necessidade especial, cigano, mulher e, segundo o apetite árabe, os curdos e armênios também servem.

O mundo é assim. Mitos como os de que os judeus são usurários, ricos, querem dominar o mundo, são apenas agendas pueris que idiotas repetem pra si mesmos. Os mais sofisticados fingem amar os judeus, mas demonizam os sionistas. Sentem profunda pena dos palestinos, mas cagam e andam por todos os oprimidos na África, na Ásia ou na Rocinha (ucranianos e norte-coreanos não são muito populares entre eles também).

Como nos filmes policiais, sempre me pergunto quem sai ganhando com esse crime? Os palestinos? Duvido. Vão pagar um preço alto pela ousadia. Um preço triste em sangue. Os israelenses? De jeito nenhum. Estes já estão perdendo e muito até agora e vão continuar, com seus jovens soldados morrendo como moscas pra satisfazer a ânsia de vingança de seus conterrâneos. Restam apenas dois grupos que devem estar felicíssimos com tudo isso, o Hamas e seus comandantes covardes, que já devem estar longe de Gaza, que terão demonstrado ao mundo “quão violentos e irascíveis são os sionistas”. E Netanyahu, seus comparsas no governo e nas colônias da Cisjordânia, que agora terão carta branca pra fazer o que quiserem por lá e em Gaza.

Estou cada vez mais velho e amargo. A humanidade me dá profundo asco.

guerra
rosa do deserto

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WLADIMIR WELTMAN – é jornalista, roteirista de cinema e TV e diretor de TV. Cobre Hollywood, de onde informa tudo para o Chumbo Gordo

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(DIRETO DE LOS ANGELES)

1 thought on “Uma guerra sem vitórias ou glórias. Por Wladimir Weltman

  1. “Como judeu, jornalista e ser humano confesso meu mais profundo cansaço e desgosto com a raça humana.” Entendo esse sentimento e me solidarizo… ter de justificar o direito de existir é mesmo desgastante. Ter que repetir mais e mais uima vez que Israel é maior que o governo do momento… assim como o Brasil é maior que o governo daquele ou deste… É impossível aceitar todo aquele que não condena este ataque.

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