Romário- feijoada

Romário nem imagina. Por Laurete Godoy

Romário nem imagina que me proporcionou a imensa alegria de vivenciar uma situação inédita e profundamente agradável.

romário - feijoada/ X

O catalão Enric Homedes é escritor e professor emérito na Espanha, sendo considerado um dos mais conceituados mestres, a nível internacional, na Terapia Floral para Animais. No ano de 2017 participou de um congresso que foi realizado em São Paulo. Como é amigo de minha irmã Lucy, por ser a primeira vez que Enric viria ao Brasil, ela perguntou o que ele gostaria de conhecer por estas bandas. Ele queria três coisas.

  1. Sentia muita vontade de assistir a um ensaio de escola de samba, para “mirar el ritmo y los pechos de las mujeres brasileñas“.
  2. Queria também beber água de coco, porque ficava encantado quando via pela tevê, nas praias cariocas, o vendedor cortar a parte superior da fruta com um facão, em um golpe só, certeiro, para colocar o canudo e entregar ao comprador. Não foi à praia do Rio de Janeiro, mas matou a vontade de ver a acrobacia do vendedor no Parque da Água Branca.  E adorou a água de coco. Achou-a deliciosa.

       Porém, o melhor ainda estava por vir.

  1. Foi ao participar do terceiro desejo de Enric, que tivemos, minha irmã e eu, a oportunidade de ver o momento exato em que um sonho se transformou em realidade. Por ter sido uma emoção profundamente forte, senti desejos de relatar a experiência e faço-o agora.

       Concedemos a ele o direito de saborear uma caprichada feijoada brasileira e jamais esquecerei a expressão de Enric, quando viu chegar a bandeja que trouxe os objetos de seus desejos…

     Ele olhava cada prato e se admirava a cada detalhe: o torresmo, o arroz, a couve, a farofa, a cumbuca de barro com o feijão preto, a laranja cortada e as carnes. Tirou várias fotos com o celular. Ele examinava a comida, aspirava o aroma, salivava, engolia a saliva, sorria, os olhos brilhavam, aspirava de novo demoradamente e fechava os olhos em êxtase, como que desejando guardar aquele odor e imagens em sua memória e em seu coração, de forma indelével. O fato repetiu-se por duas ou três vezes. Atitude idêntica ele teve em relação à caipirinha. Por sinal, tomou três copos: o dele e os nossos.

       Jamais vi alguém saborear um alimento como fez Enric. Ele mastigava calmamente, olhos brilhando, demorava para engolir e todo esse ritual era intercalado por suspiros e pequenos goles da bebida. Satisfeito o seu maior desejo, ele irradiava felicidade por todos os poros. Findo o almoço comentou: – “Hoje realizei um dos grandes sonhos da minha vida: comer uma feijoada e tomar caipirinha. Vontade que eu acalentava há vinte e dois anos.”.

       Deixamos que ele usufruísse, em silêncio, desses deliciosos momentos. Porém, mais tarde, senti curiosidade, perguntei como surgiu esse desejo e recebi a informação que precisava.

       O jogador Romário atuava, com brilhantismo, no Futbol Club Barcelona. No início de 1995, em uma entrevista pela tevê, ele mandou um recado: – “Mãe, estou indo para o Brasil. Por favor, prepara AQUELA FEIJOADA para mim.”

      Romário falou de uma forma tão empolgada e com tanta ênfase, que Enric teve certeza de que aquele prato deveria ser especial. Por isso, a partir daí, sentiu uma vontade imensa de comer a tal da feijoada.    Perguntou a uma senhora brasileira que vivia em Barcelona, e ela explicou que era um guisado de feijões com carnes de porco, acompanhado de arroz. Ele conseguiu imaginar o que seria, porém, ficou surpreso, quando lhe falaram que o prato era acompanhado de uma bebida chamada Caipirinha. Caipirinha! A vontade de conhecer triplicou pela “caipirinha”.

       O que Enric achou de tudo que experimentou?

       – “A feijoada, deliciosa! Quanto à “caipirinha”, foi uma grande experiência, onde estavam mesclados um delicioso sabor, com uma interessante e inolvidável textura.”

       Após três caipirinhas, Enric saiu do restaurante com olhos fora de foco e pernas trôpegas. Apoiado em mim e na minha irmã, percorreu duas quadras com um sorriso permanente nos lábios e transmitindo um ar de felicidade tão grande, que provocou inveja a muita gente pelo caminho.

       É por isso que Romário nem imagina a alegria que me proporcionou, em uma ensolarada quarta-feira, do ano da graça de 2017.

      Vivenciei todos os emocionantes momentos de ver um sonho se transformar em realidade.

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Laurete Godoy

Laurete Godoy  Escritora e pesquisadora. Autora de Brasileiros voadores – 300 anos pelos céus do mundo. 

 

 

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