TEMPERATURA

Temperatura comportamental. Por Adilson Roberto Gonçalves

… Acelerar o metabolismo, por exemplo, pode ser uma consequência do aumento da temperatura em que o corpo está, apesar de sermos seres de sangue quente, muito bem equilibrados termicamente. Lembremos que a temperatura média ambiente é de 25o C, enquanto nosso corpo fica por volta de 37o C, doze graus acima…

TEMPERATURA

O aumento da temperatura acelera as reações químicas porque leva a maior agitação das partículas que se chocam com mais frequência. Há uma regra, estabelecida por meio de estudos cinéticos, que diz que a velocidade dobra a cada 10 graus Celsius de aumento na temperatura. Velocidade nesse caso não significa que os frascos no laboratório vão sair correndo. A definição é a quantidade de material que é convertida (ou reagida) por unidade de tempo. Assim temos reações rápidas e lentas.

É uma regra útil, mas nem sempre seguida por todos os materiais e substâncias. Há as exceções que maravilham quem com elas trabalha; e procura esclarecer o porquê de comportamentos chamados atípicos ou anômalos.

Acelerar o metabolismo, por exemplo, pode ser uma consequência do aumento da temperatura em que o corpo está, apesar de sermos seres de sangue quente, muito bem equilibrados termicamente. Lembremos que a temperatura média ambiente é de 25o C, enquanto nosso corpo fica por volta de 37o C, doze graus acima, ou seja, mais que dobrando as velocidades de reações em relação ao que aconteceria sem o autocontrole térmico.

No entanto, alguns estudos estão pipocando aqui e ali tentando explicar que pessoas que vivem em ambiente mais quente seriam mais expostas a explosões de comportamento, e, portanto, mais agressivas e com comprometimento da cognição. Somente na Folha de S. Paulo, o jornalista e filósofo Hélio Schwartsman publicou dois artigos nesse sentido, questionados, mas não respondidos.

Em 28/5 ele se perguntou se “o calor cozinha nossos miolos”, uma ponderação com um forte viés de confirmação, pois usou um suposto experimento que coloca quem está acostumado ao frio (um europeu, por exemplo) a realizar atividades cognitivas no calor, o que não é um estudo específico para avaliar a influência da temperatura. Parece mais uma nova versão das teorias eugênicas de séculos passados.

Um contraexemplo para refutar essa premissa é o desenvolvimento astronômico e matemático do Oriente Médio, lugar mais quente, que foi notável, muito mais avançado do que a Europa, muito mais fria. Já no dia 2/6, reclamei que essa história de influência da temperatura no comportamento humano sem bases científicas estava incomodando nas crônicas de Hélio Schwartsman, que publicou, dentro da crônica “O peso da natureza”, essas mesmas falsas premissas.

Ou são apresentados estudos verdadeiramente científicos, com metodologias, referências cruzadas, estudos duplo-cego, grupos controle, etc., ou o articulista estará se tornando mais um paladino de pseudociências.

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Perfil ambiental e político – Adilson Roberto Gonçalves –  pesquisador da  Universidade Estadual Paulista, Unesp, membro de várias instituições culturais do interior paulista.  Vive em Campinas.

 

 

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