Juras de amor e convergência

Parece incrível, mas houve quem tecesse loas ao legado
de Guido Mantega no ministério da Fazenda
, em especial à inflação
de 6,4% no ano passado, muito embora esta tenha superado a meta em quase dois
pontos percentuais, no limite máximo permitido, e mesmo assim à custa de
controles de preços que desarrumaram ainda mais a economia.
Se, porém, o elogio é pernicioso,
pior é a tentativa fajuta de vender a ideia que a inflação elevada é um
“problema estrutural”, sina da qual o país não pode escapar.
Segundo esta
historinha, no governo Dilma a inflação ficou em 6,2% ao ano, apenas um pouco
acima do observado no governo Lula, quando a média atingiu 5,8% ao ano. Assim,
de alguma forma, a inflação brasileira “tenderia” a um patamar ao redor de 6% e
o melhor seria se acostumar com esta ideia.
Não é preciso muito
para localizar os furos do argumento. A começar pelo uso da média, conceito
que, se mal utilizado, serve para revelar apenas o que se deseja, ocultando o
fundamental. De fato, no governo Lula a inflação média ficou em 5,8% ao ano,
mas isto esconde que no segundo mandato caiu para 5,1% ao ano, bem inferior aos
6,4% ao ano observados entre 2003 e 2006.
Aliás, mesmo este
número é exagerado, pois reflete em grande medida os impactos da crise política
de 2002, visíveis na elevada inflação do primeiro trimestre de 2003 (5,1%). Entre
abril de 2003 e dezembro de 2006 a inflação registrou 5,4% ao ano.
Fica claro, portanto,
que a inflação veio em queda durante o governo Lula, ainda que com oscilações
ao longo do processo. É no governo Dilma que a trajetória se inverte, apesar do
uso generalizado do controle de preços.
Mais importante, porém,
é o desvio da inflação com relação à meta, lembrando que a meta foi mais alta
no período 2003-2006 do que nos anos subsequentes, quando estacionou em 4,5%. Durante
os oito anos do governo Lula o desvio médio foi 0,7% por ano, praticamente
igual nos dois mandatos. Já no período 2011-14 atingiu 1,7% por ano, um ponto
percentual a mais do que o observado anteriormente.
Resumindo, o governo
Dilma foi marcado por inflação mais alta e ainda mais distante da meta. Nenhum
destes processos é consistente com a noção de uma “inflação estrutural”, contra
a qual pouco se pode fazer. Pelo contrário, se a inflação subiu, isto significa
necessariamente que ela já foi mais baixa e que, portanto, não há nenhum
obstáculo intransponível para a obtenção de resultados melhores do que os
registrados no período mais recente.
Faltou, é claro, uma
atuação mais destemida do BC. Desde muito cedo o Copom deixou de perseguir a
meta, fato revelado pela redução da taxa de juros mesmo em face de inflação
corrente e esperada crescentes, na contramão do indicado por qualquer compêndio
de política monetária.
Agora, mais uma vez, o
BC promete trazer a inflação de volta à meta em 2016, devoto do “fiado só
amanhã”. No entanto, ao explicar a alta inflacionária em 2014 seu presidente se
apressa ao negar qualquer responsabilidade, atribuindo o problema ao encarecimento do dólar e ao aumento
dos preços administrados
.
Deixa convenientemente
de lado o represamento a que estes preços foram sujeitos em anos anteriores,
assim como a pesada intervenção no mercado de câmbio. Satisfeito com isto, o BC
não agiu para reduzir a inflação.
Tivesse o BC feito o
que era necessário, os impactos do dólar e dos preços administrados (que devem
se repetir este ano) implicariam riscos bem menores quanto ao possível
“estouro” do limite superior da meta.
O primeiro passo para recuperar
a credibilidade do BC seria o reconhecimento da sua responsabilidade no
processo, assim como o bom diagnóstico é base para a cura.

O histórico de inflação
acima da meta já não ajuda, mas, sem o mea
culpa
, fica ainda mais difícil acreditar em nova jura de convergência,
principalmente em face dos números que nos aguardam no começo de 2015.
Agora à vera
(Publicado 14/Jan/2015)

12 thoughts on “Juras de amor e convergência

  1. Porque certos blogueiros liberais ou conservadores,sempre fazem criticam nao so do Brasil mas dos EUA também .Rodrigo Constantino,Leandro Narloch,Reinaldo Azevedo,Olavo de Carvalho.

    Nao lhe preocupa as tentativas dos paises de avançar cada vez mais sobre as liberdades individuais,sufocando a vida dos indivíduos e das empresas?

    Nao tem um post no Blog do senhor fazendo uma critica ao Obamacare,que representa uma tentativa de socialização do sistema de saude dos EUA,fora o aumento de impostos para financialo que prejudica as empresas e os indivíduos.

  2. "Meu português e ótimo"

    Liga nao meu xapa, ese alex e um pobrema. Vevi impricando com nois que somus curtos e instruido.
    Ele deve ter comprexo, um incurto e inguinorante
    Um abrasso, te vejo na convenção do PT cumpanheiro

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