A luz no fim do túnel está longe ainda. Por Edmilson Siqueira

A LUZ NO FIM DO TÚNEL ESTÁ LONGE AINDA

EDMILSON SIQUEIRA

…As medidas que o ministro da Economia, Paulo Guedes, está tentando fazer valer, apontam para um futuro muito melhor do Brasil, mas esbarram na falta de costura política – que pulveriza a maior parte delas, fazendo-as perder a força inicial e atrasando ainda mais suas saudáveis consequências – e na retrógrada oposição brasileira…

Um projeto de lei, aprovado numa dessas comissões legislativas, mas ainda não transformado em lei, obriga empresas como a Netflix a produzirem um elevado percentual de filmes brasileiros para continuarem vendendo suas assinaturas para o consumidor tupiniquim.

O projeto, uma excrescência autoritária impossível numa economia liberal, é da esquerda, claro. Mas ele, embora tenha poucas chances de virar lei, é um retrato cuspido e escarrado do que a esquerda fez ao Brasil nos últimos 30 anos mais ou menos.

A Constituição de 88 já é um caderno de obrigações tanto para o governo quanto para empresas difíceis de cumprir e que engessa o desenvolvimento, tanto da parte governamental quanto empresarial. Com seus tentáculos lançados em leis ordinárias, na CLT, nos estatutos de servidores, da magistratura e dos legislativos espalhados por aí, acrescidos de leis próprias elaboradas por deputados, senadores, vereadores, juízes e membros do Poder Executivo visando sempre ao favorecimento dos servidores ativos e inativos, o país começou a travar.

Primeiro apareceram os déficits nos municípios, com tantas obrigações a cumprir na folha de pagamentos que pouco, ou nada, sobrava para obras e manutenção da cidade. O negócio era emprestar dos bancos, quando não ir de chapéu na mão aos ministérios pedir quase esmolas para tentar cumprir, pelo menos, 10% do que foi prometido na campanha. Sem contar a corrupção, que drenava os parcos recursos para o bolso da bandidagem política.

Depois os estados começaram a sofrer da mesma falência. Aposentados crescendo e ganhando o mesmo que na ativa, dezenas de milhares de professores para suprir a falta de escolas particulares (que não se interessam, e nem poderiam mesmo, em abrir estabelecimentos onde o povo não pode pagar mensalidades), servidores com direitos cada vez maiores e, claro, políticos inescrupulosos fazendo demagogia com verbas inexistentes e, na maioria das vezes, deixando pesadas dívidas para o sucessor. Sem contar a corrupção etc. e tal.

O caixa central, lá em Brasília, foi sentindo o baque aos poucos. Sarney fez um estrago enorme para enriquecer a família toda e praticamente virar dono de um estado inteiro, o Maranhão, talvez, et pour cause,  o mais miserável do Brasil. Collor, que veio a seguir, se perdeu na corrupção e na loucura do poder.  Seu plano econômico daria cadeira elétrica num país liberal. Aqui, foi apenas cassado, mas se livraria se tivesse comprado deputados e senadores, ávidos por trocar o voto por uma mala preta. Ou mochila, onde cabe mais.

FHC foi um suspiro inicial. Arrumou a economia com o Plano Real (que afinal está aí até hoje), mas foi poltrão, covarde mesmo, para tomar atitudes mais enérgicas que levariam o Brasil a se desenvolver com base sólida, como privatizações e enxugamento da máquina. Deixou a esquerda crescer a ponto de eleger a incógnita Lula, que provocou a subida da inflação a níveis inimagináveis para a economia incipiente ainda do Plano Real. A história não perdoará FHC e seu medo de avançar. Aliás, já não perdoa.

Lula foi o que foi, fazendo o país retroceder com aumento absurdo de servidores, de estatais, de escolha de empresários para torná-los poderosos e “gentis” com o poder e com a, digamos, prática da corrupção – aqui um caso a parte, pois foi a maior da história do mundo, levando à beira da falência até uma empresa com o volume de recursos da Petrobras. E teve corrupção em todos (sim, todos!) os ministérios e em todas (sim, todas!) as estatais, tanto as antigas quando as novas.

Aí, quando chegou a conta da farra, já no governo Dilma, foi um déficit anual atrás do outro, configurando a maior recessão que o Brasil já teve: mais de 13 milhões de desempregados, a miséria voltando, orçamentos prevendo furos acima de 100 bilhões de reais. Tanto que, passados, três anos do fim da tenebrosa era PT, o Brasil fica feliz com a perspectiva de crescer 0,9% neste ano e, talvez, 2% ano que vem.

As medidas que o ministro da Economia, Paulo Guedes, está tentando fazer valer, apontam para um futuro muito melhor do Brasil, mas esbarram na falta de costura política – que pulveriza a maior parte delas, fazendo-as perder a força inicial e atrasando ainda mais suas saudáveis consequências – e na retrógrada oposição brasileira, comanda por uma esquerda que admira Fidel Castro, por exemplo, e que encontra grande amparo nos servidores públicos acostumados com as regalias que “conquistaram” e não estão nem aí com fome ou miséria dos outros, desde que o gordo – e injusto – holerite deles esteja garantido. O problema é que o inchaço da máquina é um dos maiores motivos dos déficits públicos e precisa ser resolvido. A briga será boa, e se o governo – fraco nas disputas com lobbies – perder a parada, continuaremos crescendo a ritmo de tartaruga talvez mais uma década. O que impedirá o desaparecimento da miséria e aumentará o número de pobres.  E, detalhe, não reelegerá o capitão.

Além de todo esse quadro com poucas notícias boas e muitas ruins, o coitado do Brasil ainda tem de enfrentar essa retrógrada esquerda que, pensando num futuro totalitário, produz projetos de lei dignos de uma ditadura socialista: se quiser entrar no Brasil tem que produzir filmes brasileiros, sem saber se o mercado quer ou não pagar para ver mais do mesmo.

Estou perto da sétima década de vida. Sim, já vi muita coisa ruim, bem como já vi, algumas vezes, luzes no fim do túnel. Hoje, duvido muito que eu consiga ver esse país sair da enrascada em que se meteu, à custa de políticos incompetentes e corruptos. Todos eleitos por uma massa ignara digna dessa América Lat(r)ina.

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Edmilson Siqueira é jornalista

 

 

 

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