Que mundo? Que coisas? Que vantagens? Por Josué Machado

QUE MUNDO? QUE COISAS? QUE VANTAGENS?

 Por Josué Machado

Às vezes sobram no texto certas expressões inocentes, mas um tanto redundantes. Como sobra a maioria da nossa admirável classe dirigente.

Em questões comparativas variadas, a maioria das pessoas, inclusive sábios e jornalistas, repete e repete a expressão “OUTROS PAÍSES DO MUNDO” em radiojornais, jornais impressos e TV.

Dizem, por exemplo, que certas coisas comuns aqui não acontecem EM OUTROS PAÍSES DO MUNDO.

Coisas como Renan, Jucá, Temer Lulia, Moreira Franco, Cerra, Aócio, Kassab, Luizinácio, Dilma, Jáder, Geddel, Collor, Boçalnato, Maluf (quase esquecido pela torrente de escândalos) e outras incontáveis figuras. Essas coisas, sim, “coisas”, não brotam em nenhum outro país. Deste mundo ou de outro.

A expressão DO MUNDO (ou NO MUNDO) grudada a “outros países” não passa de redundância indolor e não chega a ser erro, mas parece desnecessário dizer que os outros países se encontram neste nosso insensato mundo. Porque ninguém ignora que todos eles estão contidos no mundo, que é como chamamos a Terra azul. Não estão em Júpiter ou no planeta recém-descoberto parecido com o nosso, o Próxima b, de outro sistema solar por certo mais gostosinho.

Por isso, quando se quiser dizer, por exemplo, que as classes dirigentes brasileiras são as que têm mais privilégios entre as equivalentes de todos os países, será supérfluo acrescentar “do mundo”. Porque já se sabe que os 193 países relacionados estão todos neste mundo ingrato. (São 195, incluídos Taiwan e o santificado Vaticano.)

Com esses índices e mais as “coisas” nocivas citadas antes, uma vez mais o Brasil será declarado campeão mundial com louvor. Eleito o Trumpão por lá, só falta o Baçalnato por aki.

Ah, esses países do mundo…

Um momento: pensando bem, há outro mundo, sim, que não este habitado pela maioria. Esse mundo está alojado no Brasil. É o mundo privilegiado das “coisas”, aquelas “coisas”. São as classes dirigentes, grande parte concentrada em Brasília, mas não só. Porque os habitantes “daquele” mundo especial de regalias frequentam os gabinetes de todo o país: essas “coisas” fixam os próprios salários, vantagens, privilégios, entre os quais o foro privilegiado, e depois, quando dá tempo, às vezes pensam nos contribuintes. Isso porque, extintos os contribuintes, extinguir-se-iam (Lulia) também os privilégios deles – coisa inconveniente.

Quem pagaria a conta?

Eles habitam o mundo paralelo dos que mandam e mamam e mamam e mamam: nham, nham, nham.

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JOSUE 2Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.

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