Entre em campo, Neymar. Coluna Mário Marinho

Entre em campo, Neymar.

COLUNA MÁRIO MARINHO

Quem assistia televisão neste domingo à noite, foi surpreendido com um comercial patrocinado pela Gillette com um desabafo de Neymar.

Veja o comercial:

Mal acabou a veiculação começaram as reações no mundo livre e cruel da internet.

E não foram favoráveis a Neymar.

O texto, você viu no vídeo acima, pede compreensão para um menino que quer continuar sendo menino, mesmo aos 26 anos de idade.

É verdade que o brasileiro ama odiar seus ídolos.

Não é fácil ser rico e famoso no Brasil.

Logo começam as especulações, maldades, intrigas, acusações que vão de viado a ladrão.

Se o personagem colaborar, aí que a coisa complica de vez.

E Neymar tem feito muito para colaborar.

O torcedor de futebol ainda não se acostumou com a ideia de que o jogador de futebol é um profissional com outro qualquer.

Ele ganha dinheiro como ganha um cantor, um grande apresentador de programas de televisão, um piloto de Fórmula 1 ou de StockCar, um lutador de boxe etc.

Cobra-se do jogador de futebol uma entrega total por amor à camisa que veste.

Ganhar dinheiro com a camisa do time amado parece um sacrilégio para o torcedor, um pecado mortal.

E se ele muda de time, então, o mundo desaba. É como se ele cometesse um crime de lesa pátria, de lesa coração.

Como disse acima e repito, se o personagem colaborar as coisas ficam difíceis.

Neymar levou quase um mês para falar com o torcedor brasileiro.

Ele não gosta de dar entrevistas. Não gosta de se explicar.

Muitas vezes um jogador, um técnico (aqui sempre falando de futebol) deixa de dar entrevistas após uma derrota, após uma confusão. Às vezes, o jogador faz isso porque, no seu entendimento, ele não precisa dar satisfação ao jornalista.

Áspero engano.

O jornalista é apenas o veículo que fará chegar ao torcedor a opinião do ídolo.

Teria sido muito mais simples se, ao terminar a Copa, Neymar tivesse concedido alguns de seus preciosos e ricos minutos, ainda lá na Rússia, para falar com o torcedor, tentar aliviar o sofrimento de quem sofreu torcendo pelo Brasil.

Mas levou quase um mês para fazer o seu depoimento, misto de desabafo e desculpa. Onde o desabafo ocupa 95% do tempo e as desculpas ao torcedor vêm espremidas em 5% dos 91 segundos que duraram o comercial de tevê.

Além disso, um texto pasteurizado numa voz destituída de emoção.

Quando ele diz que ninguém sabe o que ele sofre fora de campo, as imagens que vêm logo à cabeça do torcedor são imagens com os parças a bordo de iates, carros luxuosos, mulheres bonitas, roupas e penteados extravagantes.

E cadê o sofrimento?

Mas Neymar é um craque. Tem apenas 26 anos e pode jogar tranquilamente mais duas Copas do Mundo. Uma, a de 2022, com toda a certeza.

Então, Neymar, entre em campo e volte a jogar futebol. Deixe os mergulhos para as praias famosas de Angra do Reis e de outros mares azuis; deixe para rolar em boas companhias, na grama ou na cama; deixe o desfile de penteados para as noitadas.

Deixe os parças de lado e entre em campo.

Vá jogar seu futebol, marque seus gols, seja campeão.

É simples, assim.

Gols,
Muitos gols.

O Brasileirão teve rodada pródiga em gols neste fim de semana. O Flamengo continua líder, acossado bem de perto pelo São Paulo que não tomou conhecimento do Cruzeiro em pleno Mineirão.

Veja os gols da rodada:

https://youtu.be/eutRTkT8ZX0

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FOTO SOFIA MARINHO

Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
 NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

3 thoughts on “Entre em campo, Neymar. Coluna Mário Marinho

  1. Sabe qual é o problema? O problema é que existe uma categoria de notícias chamada Neymar, e os veículos de comunicação precisam publicar notícias dessa categoria diariamente.

    O Brasil possui milhares de jogadores de futebol profissionais e centenas de jogadores jogando em times de destaque do exterior. Nenhum deles é noticiado no dia-a-dia, só quando existe algum fato “noticiável”.

    Já o Neymar, há notícias dele praticamente todos os dias, sobre os mais variados assuntos. Não só se noticia a atuação dele em todas as partidas, e exibe-se em horário nobre qualquer gol que ele tenha marcado, como todos os dias as partes dos jornais, sites, etc, são preenchidos com notas sobre a balada que Neymar foi, alguma coisa que a namorada dele fez ou falou, algum evento frequentado por um “parça” dele.

    Devido a esse tratamento exagerado e desproporcional dado a ele, é mais do que óbvio que ele não se comporte “apenas como um atleta”, mas sim como a maior celebridade do país, como a pessoa mais importante, como se cada fato de sua vida merecesse atenção de todos os mortais, etc e tal.

    Por que haveria ele de se comportar apenas como um jogador de futebol se a imprensa mostra em detalhes o casamento do amigo do Neymar, noticia e comenta a foto que ele postou com o filho na rede social, discorre sobre o comercial que ele fez, apresenta os jogos da seleção como “Neymar e os outros”, fala sobre o corte de cabelo, a tatuagem nova, etc?

    Ele olha para o lado e vê o Philippe Coutinho. Alguém sabe quem é a namorada/mulher/ficante dele? Quem são os parças? Qual estilo de música ele gosta? Quais amigos no meio artístico ele tem? Se ele tem tatuagem ou não? Se ele foi no casamento do amigo? Se foi na balada? Se comprou um carro? Já viu foto de família dele circulando em rede social sendo tratada como notícia? Leu alguma coisa sobre o último jogo dele? Se ele fez gol, se deu drible? Se fez comercial? Se em alguma reportagem sobre um jogo da Copa, as emissoras oficiais fizeram uma matéria de 2 minutos com “o jogo do Philippe Coutinho” e depois 15 segundos com “o jogo da Seleção”? Com todas as matérias sobre ele o chamando de craque, gênio, sem dúvida um dos maiores da história?

    Como a resposta é não para todas as perguntas, nada mais justo que Neymar não queira ser apenas um Philippe Coutinho. É óbvio que ele está anos-luz acima de um mero jogador de futebol, e nada mais lógico que ele não se comporte como um jogador qualquer, não se foque apenas em jogar bola, não se preocupe apenas com o seu desempenho em campo. Neymar tem que agir como a pessoa única e iluminada que ele é, e se comportar como a posição reservada a poucos escolhidos na história da humanidade exige. Esses chatos que ficam cobrando que ele se foque no futebol é que são o problema, pois é a mesma coisa que mandar o Einstein ficar no laboratório, pois era apenas um físico qualquer.

  2. MMarinho. TD OK. Jogamos tênis durante muito tempo e vc ainda pratica. Nesse esporte, que adoramos, cansamos de criticar comportamentos estranhos de disciplina, simulações, ” fominhas” que queriam estar ao mesmo tempo em tds as quadras, etc. No Santos tivemos um ótimo jogador, chegou tb à seleção brasileira e hj está em fim de carreira. Refiro-me ao Diego, famoso cai cai. O Neymar eu o coloco no mesmo patamar de comportamento equivocado. Entendo que atleta, principalmente ídolo, são exemplos a serem seguidos. O atleta top é um indivíduo diferenciado, deve levar uma vida de renuncias, perfil de boa conduta dentro e fora do espaço em que pratica o esporte que escolheu. Exemplos não conectados com esse comportamento existem aos montes e só para lembrar, um muito recente no futebol: Adriano. Se cuide Neymar.

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