jornalismo e literatura

Jornalismo e Literatura. Por Meraldo Zisman

A simbiose entre o Jornalismo e a Literatura é antiga. E as suas cizânias também. Machado de Assis (1839 – 1908) é exemplo emblemático da nossa história jornalística e literária. Confessa o escritor que o fato de escrever para jornais moldou os contornos de sua escrita. Clarice Lispector (1920 – 1977) é outra que afirma: “(…) basta eu saber que estou escrevendo para jornal, algo aberto para o mundo e não para um livro, os quais são somente abertos para quem realmente quer para, sem mesmo sentir, o modo de eu escrever se transforma”. Lispector, C. A DESCOBERTA DO MUNDO. Rio de Janeiro. Francisco Alves, 1992: Pg. 112.PSD Jornalismo, 100+ modelos PSD grátis de alta qualidade para download

Com o passar do tempo o jornal passou a ser menos opinativo e mais informativo. Devido à sua nova função, o estilo da imprensa passou a ser mais objetivo, levando o periodista a criar usando um estilo mais conciso e direto. No discurso literário predomina a função poética ou estética enquanto na maneira jornalística predomina a função referencial baseada no fato, no acontecimento… O que não se pode esquecer é que, ao escrever para/no jornal impõe-se, além dos atributos necessários — objetividade, clareza e concisão — o direito de o leitor poder desfrutar, em simultâneo, da leitura da informação e gozar do prazer estético, quando o texto apresenta ideias inteligentes e — jamais — meros recados, canhestramente escrevinhados.

Repito: o texto jornalístico tem de ser respeitoso para com o vernáculo. Necessita, antes de qualquer coisa, poupar a língua na qual pretenda informar, ofertando assim ao leitor um texto cuja leitura não permita distinguir onde começa o estilo jornalístico e termina o literário.

Sei que as inovações, que hoje são quase cotidianas, obrigam a quem escreve adaptar-se ao mundo da Informática. A notícia passou a ser a do “tempo real” enquanto a palavra impressa aprofunda mais os debates e a discussão dos temas, nas publicações periódicas (jornais e revistas). Saliento, ademais, que todas as maneiras de nos comunicarmos complementam-se numa Transdisciplinaridade, envolvendo estudos nas áreas de economia, história, literatura, arte, ciência política, psicologia, sociologia e antropologia, comunicações, redes de internet e tantas outras que ainda estão por vir, o que levou à criação dos departamentos acadêmicos de comunicação e estudos culturais. Por mais diversas que aparentam de ser, tais áreas se complementam. Sem privilégios ou hierarquias. Não existe nada de novo abaixo do Sol, por maior que sejam os avanços tecnológicos.

Em suma, creio que o Jornalismo de hoje é uma mistura de jornalismo e literatura. De um recebe a observação atenta da realidade cotidiana e, da outra, a construção pela linguagem, o jogo verbal. Para concluir, a linguagem jornalística não serve de hoje para ontem. Porém, nas notícias, através de sua escrita, reportagens, artigos, fake e verdadeiras news que historiadores irão um dia buscar a verdade sobre acontecimentos de um então Tempo Passado.
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Meraldo Zisman Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.

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