expedicionários - heróis

FREI ORLANDO

Expedicionários brasileiros. Por Laurete Godoy

Expedicionários… Frei Orlando superou dificuldades e transformou-se em soldado de Deus e da Pátria, deixando um rastro de luz à sua passagem. Ele falou duas frases que passaram para a posteridade: “Gente desanimada é gente vencida” e “Passei pela vida sorrindo, embora tivesse muitos motivos para chorar”…

[]HERÓIS EM MONTE CASTELO]

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        Antônio Álvares da Silva nasceu em Morada Nova de Minas, no dia 13 de fevereiro de 1913. Estudou no Colégio Seráfico de Divinópolis e desde cedo sentiu-se ligado às coisas da Igreja, demonstrando pendor para a vida clerical e compaixão pelos humildes.

       Aos 18 anos de idade Antônio foi para a Holanda, onde os franciscanos mantinham um seminário, e lá permaneceu até setembro de 1935. No retorno ao Brasil, ao ser ordenado sacerdote, transformou-se no primeiro frei franciscano mineiro e recebeu a denominação de Frei Orlando. Ele passou a residir em São João Del Rei, lecionando no Colégio Santo Antônio, que, na época, era referência em educação.

       Missionário evangélico e integrante da Ordem dos Frades Menores, Frei Orlando sempre demonstrou extrema caridade pelos necessitados. Instituiu a Sopa dos Pobres e, nos trabalhos sociais que desenvolveu na cidade, recebeu apoio permanente de militares do 11º Regimento de Infantaria.

       Em 1939 teve início a Segunda Grande Guerra, envolvendo potências mundiais e várias nações. De um lado estavam Alemanha, Itália e Japão representando o Eixo. A oposição era feita pelos Aliados: Grã-Bretanha, Estados Unidos, União Soviética e Resistência Francesa.

       Em 9 de agosto de 1943 foi criada a FEB – Força Expedicionária Brasileira, e o Brasil passou a preparar os militares que seriam enviados à guerra, para integrar as Forças Aliadas. Algumas cidades ficaram em polvorosa com os preparativos, e uma delas foi São João Del Rei, centro importante de treinamento dos “Pracinhas”, como os integrantes da FEB ficaram conhecidos.

       Desejando servir à Pátria nos campos de batalha, Frei Orlando foi convocado a pedido e seguiu para a Itália, como Capelão Militar da Força Expedicionária Brasileira. Estreou na missão celebrando uma missa na catedral de Pisa para os brasileiros.

       Fazendo parte da “linha gótica”, iniciativa que tinha por objetivo expulsar as forças nazistas, nossos Pracinhas participaram de batalhas importantes na Itália, e uma das mais marcantes foi a de Monte Castelo, que se estendeu por três meses.

       No dia 20 de fevereiro de 1945, quando se dirigia ao distrito de Bombiana para cumprir missionária missão junto aos soldados que estavam na linha de frente, Frei Orlando faleceu vítima de tiro acidental disparado pela arma de um membro da Resistência italiana. A notícia provocou comoção entre os soldados brasileiros.

       Assim foi encerrada, prematura e melancolicamente, uma vida marcada por tristes acontecimentos e expressivos êxitos. Órfão de pai e mãe em tenra idade, Frei Orlando superou dificuldades e transformou-se em soldado de Deus e da Pátria, deixando um rastro de luz à sua passagem. Ele falou duas frases que passaram para a posteridade: “Gente desanimada é gente vencida” e “Passei pela vida sorrindo, embora tivesse muitos motivos para chorar”.

       No dia 21 de fevereiro de 1945 ocorreu a vitória dos aliados, com a Tomada de Monte Castelo pelas tropas brasileiras. A Segunda Guerra Mundial terminou em 2 de setembro de 1945, e, no ano seguinte, o governo brasileiro instituiu Frei Orlando como Patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército.

       Existem diversas histórias sobre a participação dos brasileiros na Segunda Guerra Mundial.

       Duas delas foram contadas pelo padre Vanderlei Valentim da Silva, que foi Capelão em São Paulo, no Comando Militar do Sudeste, entre os anos de 2005 e 2010. Enquanto esteve sediado na capital, todo dia 1º de novembro ele celebrava missa para os Pracinhas, no Cemitério São Pedro, localizado na Vila Alpina, onde está o Mausoléu da Força Expedicionária Brasileira.

       Ao final da missa, perguntava se algum dos presentes gostaria de contar uma história. Certo dia, um deles narrou o seguinte: Segunda Guerra Mundial, o Natal se aproximando, os soldados brasileiros que estavam na Itália longe das famílias viviam uma situação preocupante, mas ficaram angustiados por ver o sofrimento das pessoas da localidade. Em segredo, sem que o comandante soubesse, fizeram uma campanha entre eles. Ninguém almoçaria no dia de Natal, para doar a comida às crianças e moradores da aldeia.

       Porém, o comandante ficou sabendo. Quando chegou o dia de Natal e os soldados estavam prontos para “avançar o rancho”, o capitão se apresentou e falou: –“Desejo dizer a vocês que estamos em guerra! O soldado tem que se alimentar bem, para se manter em pé e continuar na lida guerreira. Fiquei sabendo que vocês estão fazendo uma campanha aí, para dar comida para as crianças. Negativo! Vocês vão avançar o rancho e aquele que desobedecer vai ser fuzilado e devolvido morto ao Brasil. Na guerra, o soldado precisa obedecer ao comando”.

       Frustrados, porém obedientes à ordem, os pracinhas adentraram o refeitório chorando. Quando se postaram nas mesas para a refeição, o capitão mandou abrir uma cortina e as lágrimas de tristeza foram substituídas por lágrimas de alegria e profunda emoção. Atrás da cortina estavam as crianças da aldeia e seus familiares, esperando para almoçar junto com a tropa brasileira. O narrador contou que esse foi o inesquecível Natal da sua vida…

       Padre Vanderlei concluiu: Lamentavelmente, alguns meses depois esse senhor faleceu. Felizmente deu tempo de ele passar esse legado bonito, acalentando nossa alma com essa história de compaixão e solidariedade.

       No ano de 2013 o padre Vanderlei foi a Monte Castelo com dois amigos também militares, para participar das solenidades do centenário de nascimento de Frei Orlando, que é Patrono dos Capelães do Exército. Permaneceram hospedados em um hotel do vilarejo e, quando as pessoas percebiam que eram brasileiros, ficavam doidas de alegria e iam conversar com eles. Foi uma viagem agradável e repleta de emoções, porém, eles não imaginavam a surpresa que os aguardava. Quando foram efetuar o pagamento da conta de hospedagem, o gerente do hotel falou: –“Imagina se vocês vão pagar! Brasileiro aqui não paga não. Ainda mais que vocês são capelães e vieram para o centenário de Frei Orlando! Meu avô sempre contava que, durante a guerra, eles não morreram de fome porque os brasileiros ajudavam a todos e davam comida para as crianças. Isso os moradores de Monte Castelo nunca esquecem”.

       Que consigamos também manter vivos em nossas memórias os atos dignos de louvor que marcaram a passagem dos soldados brasileiros pela Itália, durante a Segunda Guerra Mundial.

       Até hoje os Pracinhas Brasileiros são lembrados em Monte Castelo e Montese, pela coragem com que venceram os alemães nas batalhas que travaram e, principalmente, pela solidariedade e carinho com que trataram as crianças italianas, dividindo com elas “a ração do bornal e a água do cantil”, como consta da Canção do Expedicionário.

“A ração do meu bornal e a água do meu cantil…”

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Laurete Godoy

Laurete Godoy  Escritora e pesquisadora. Autora de Brasileiros voadores – 300 anos pelos céus do mundo. 

 

7 thoughts on “Expedicionários brasileiros. Por Laurete Godoy

  1. Exaltar a escritora por sua escrita fluente e rica seria indecoroso pois somos irmãs. Sou apaixonada por suas produções, vendo nesse mister uma ” missão Divina” que ela tão bem desempenha na Terra. Parabéns mana. Amo você.

  2. Parabéns Laurete querida sempre animada em suas produções! Tive o grande prazer que trabalhar com ela e ver o quanto essa missão divina como diz Lucy foi muito bem trabalhada e aproveitada!! Mulher carismática e competente! Obrigada por sua amizade, que tenho a honra de ser agraciada!🍀🍀🌹🌹🙏🙏

  3. Sempre muito inspirada, com textos que nos trazem surpresa e encantamento. Parabéns, Laurete , você nos traz sempre muito conhecimento e alegria.

  4. Parabéns amiga Laurete sempre nos presenteando com belos textos e nos enchendo a vida de alegria ,obrigada amiga querida Parabéns mais uma vez

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