Ruiu a barragem, rui a imagem. Coluna Carlos Brickmann

RUIU A BARRAGEM, RUIU A IMAGEM

COLUNA CARLOS BRICKMANN

Resultado de imagem para Barragem, logotipo Vale

EDIÇÃO DOS JORNAIS  DE QUARTA-FEIRA, 6 DE FEVEREIRO DE 2019

Aquele festival de fintas e de fumaça nos olhos que poupou a Samarco, após a tragédia de Mariana, de maiores aborrecimentos (a ponto de até hoje não ter pago sequer as multas que lhe foram impostas), não deve se repetir com a Vale, na tragédia de Brumadinho. A deputada Joice Hasselman já tem mais de 200 assinaturas para instaurar uma CPI, Comissão Parlamentar de Inquérito, na Câmara Federal; e já há quase 40 senadores que assinaram a CPMI, comissão mista do Senado e da Câmara, sobre o mesmo assunto. A Vale é o alvo. Há novos parlamentares interessados em projetar-se nas investigações. Há muitas coisas para explicar. Quem a conhece sabe como será difícil enfrentar uma Joice, rápida e agressiva, estreando em CPI.

Como explicar o relatório da empresa alemã Tüv Sud, de agosto último, que mostra que a base da barragem estava no limite de segurança? E, no mesmo relatório, outros 15 pontos que exigiam atenção?

O Senado também está pronto: Carlos Viana, um dos autores do pedido de CPMI, diz que “vai para cima da Vale”. A seu ver, a empresa, embora alertada, não acionou seu plano de emergência. “Irresponsabilidade”, diz. No Senado e na Câmara, a ideia é que a Vale menosprezou fatores que deveria ter considerado. Tenham ou não razão, a tragédia ocorreu.

Pode haver panos quentes? Pode – em outros casos, já houve. Mas quem estiver de alguma forma envolvido na tragédia pagará caro para se livrar.

 Perigo espalhado 1

Brumadinho? Ali perto, em Itabira, a Vale tem uma barragem com 20 vezes a capacidade de Brumadinho. A enorme barragem, revela o repórter Rodrigo Hidalgo, da Band, que teve acesso a documentos da Vale, ostenta uma trinca de 130 metros no alto; em baixo há afundamento de mais de meio metro. Itabira tem 120 mil habitantes.

Providências? Rigorosíssimas!

 Perigo espalhado 2

Em São Paulo, a maior cidade do país, seis pontes e viadutos correm risco de colapso, segundo estudo oficial da Prefeitura. Essas estruturas estão em regiões densamente povoadas e são essenciais para que o trânsito da cidade continue, bem ou mal, fluindo. Mas já houve pelo menos uma providência: a frase “risco iminente de colapso” foi substituída por “risco desconhecido”.

Claro: talvez não aconteça nada, apesar de em algumas dessas obras passarem dez mil veículos por hora. Se ocorrer, “é fatalidade”.

 Renan perdeu. E perdeu

Ulysses Guimarães, lendário líder da campanha Diretas Já, sempre dizia que não se deve pensar com o fígado. “Raciocínio não é função hepática”.

Um político de cabeça gelada, capaz de transformar uma guerra com o senador Sarney numa aliança proveitosíssima, foi incapaz de suportar a derrota numa votação que considerava ganha. Depois de batido na luta pelo comando do Senado, Renan Calheiros perdeu o sangue-frio, a compostura e os bons modos. Atacou grosseiramente a jornalista Dora Kramer, de Veja, e o falecido senador Ramez Tebet. O pecado de Dora foi dizer que, na eleição perdida, Renan tinha sido arrogante. O do falecido senador Tebet foi ser pai da senadora Simone Tebet, que apoiou seu adversário na disputa.

 O ataque

Renan disse, pelo twitter: “A @DoraKramer (Veja) acha que sou arrogante. Não sou. Sou casado e por isso sempre fugi do seu assédio. Ora, seu marido era meu assessor, e preferi encorajar Geddel e Ramez, que chegou a colocar um membro mecânico para namorá-la. Não foi presunção. Foi fidelidade”. Ah, 2007!. Qual leitor se recorda da bela Mônica Veloso?

Grosseria, claro. Se foi assediado, e isso o incomodou, poderia pedir que o assédio fosse suspenso. Se continuasse, poderia tomar medidas judiciais. O que não se faz é guardar o caso, se é que ocorreu, por mais de dez anos, para desmerecer uma pessoa (Ramez Tebet morreu em 2006). E o decoro?

Quanto a Ramez Tebet, se teve ou não um caso, se usou ou não algo artificial, não é problema de Renan. E atacar um falecido, isso não se faz.

 O castigo

Logo após ter desistido da candidatura, imaginou-se que Renan seria o presidente da poderosa Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Após as grosserias, está fora. E quem deve ocupar o posto é Simone Tebet.

 Humor de extrema

O colunista Ancelmo Góis, de O Globo, é acusado via Internet de ter  sido treinado pela KGB para espião comunista e doutrinador de colegas. Já tentou me doutrinar, sem êxito, a respeito das vantagens do bolo de rolo, de Pernambuco, sobre o rocambole; e me revelou onde comprar bolo de rolo.

Já acusaram William Waack de espião americano, por ter almoçado com o embaixador dos EUA. E Bóris Casoy de provocar comunistas, ficando de pé numa moto que fazia malabarismos. Justo Bóris, que teve poliomielite.

Dá para levar a sério esses extremistas idiotas?

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2 thoughts on “Ruiu a barragem, rui a imagem. Coluna Carlos Brickmann

  1. Concordo. Atacar um falecido é coisa que não se faz. Por isso mesmo, deixemos Renan Canalheiros de lado. Há problemas reais com que deveremos nos preocupar daqui pra frente. Nessa mesma linha, outra boa notícia: Michel Temer, aquele grande poeta insuspeito, também já se tornou página virada. R.I.P. (se a Primeira Instância deixar…).

  2. *** Atualização do quadro ***
    Pelas mesmas razões, favor não tripudiar sobre petistas, que têm um trabalho de luto infinito pela frente, mas vale lembrar que Lula da Silva acabou de falecer, e, aliás, estrebuchou menos que o esperado. Foi executado e enterrado por Gabriela Hardt, que não se esqueceu da farta pá de cal sobre sua covinha minúscula. Não mais precisaremos, pois, atacar esse tipo. Ciro Gomes & brothers o farão por nós daqui pra frente.
    R.I.P.

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