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Bolsonaro prepara o golpe. Por Edmilson Siqueira

GOLPE

Parece não haver mais dúvidas de que o presidente Jair Bolsonaro quer esticar a corda ao máximo, para que ela chegue ao ponto de ruptura, se rompa e o Brasil se transforme num barril de pólvora político ou talvez, de pólvora mesmo.

Suas últimas declarações de desobediência a qualquer obrigação que lhe imponha o STF ou o TSE – ou seja, a lei – longe de qualquer bravata, apontam para esse caminho da total disrupção. Não se trata apenas de uma resposta raivosa, açodada, que alguém profere no calor de um momento de ebulição política. Ele disse isso nesta quinta-feira, bem depois de ser incluído num processo como investigado por espalhar fake news e atentar contra a democracia. Ou seja, teve tempo de pensar, de se acalmar, de consultar gente mais preparada que ele (o que é facílimo encontrar em qualquer lugar, diga-se) e, mesmo assim, aposta na refrega e se empenha no perigoso combate de afrontar a lei.

A tática de Bolsonaro é uma temeridade para o Brasil. Aliás, seu governo vem sendo todo ele uma enorme temeridade para o Brasil. Desde o início, quando atentou contra o meio ambiente, contra os direitos humanos e contra instituições que se colocassem contrárias aos seus primitivos princípios, já se percebia que, diante de um problema maior, suas posições poderiam não ser as mais sensatas, suas atitudes poderiam comprometer seu governo, e suas ações poderiam causar danos enormes. Essa percepção, no entanto, não envolvia vidas humanas. Não se pensava, por exemplo, que ele fosse capaz de fazer o que fez diante de uma pandemia.

Ao constatar que o vírus da covid 19 poderia causar um enorme estrago na economia – setor com o qual ele contava para se alavancar como candidato à reeleição – Bolsonaro se transformou num monstro, torcendo por remédios sem eficácia, por tratamentos inexistentes e por uma imunidade de rebanho que causaria a morte, por baixo, de dois milhões de brasileiros. Tudo para que a pandemia passasse depressa e a economia voltasse a funcionar.

Mas Bolsonaro é burro, como já está sobejamente provado. Ao ficar do lado do negacionismo, do obscurantismo científico, do achismo e do charlatanismo médico, ele acabou por retardar todos os processos que fariam com que a pandemia se debelasse mais cedo. Ao querer dar uma de macho e desafiar os conselhos para se evitar aglomerações e ser contra o uso de máscara, Bolsonaro ajudou a espalhar o vírus, causou muito mais internações – a ponto de colapsar o sistema de atendimento – e colocou o Brasil entre os países que mais sofreram e sofrem com a covid 19. Somos o segundo em número de mortos, apesar de termos a sexta população mundial. Somos também dos mais atrasados em relação à aplicação de vacinas porque ele demorou pra comprar e preferiu fazer negócios suspeitos com pessoas idem, talvez para ganhar algum dinheiro com a desgraça da população.

Com essa atuação, seu governo vem desmoronando dia a dia e sua popularidade hoje não é suficiente nem para levá-lo ao segundo turno das eleições de 2022. A economia patina e está transformando Paulo Guedes, seu ministro da Economia, num zumbi em busca de um discurso otimista, o que dificilmente conseguirá sem atropelar a razão e os fatos, como, aliás, já vem fazendo, ao atacar o IBGE por mostrar números da economia que ele não gostou de conhecer. Tentar matar o mensageiro por não gostar da mensagem é uma das coisas mais ridículas que uma autoridade pública pode fazer. E Paulo Guedes, ao assumir postura própria do gado bolsonarista, só prova que seu poder está reduzido a ser um garoto de recados de ignorante chefe que tem.

… Bolsonaro é burro, como já está sobejamente provado. Ao ficar do lado do negacionismo, do obscurantismo científico, do achismo e do charlatanismo médico, ele acabou por retardar todos os processos que fariam com que a pandemia se debelasse mais cedo. Ao querer dar uma de macho e desafiar os conselhos para se evitar aglomerações e ser contra o uso de máscara, Bolsonaro ajudou a espalhar o vírus…

A campanha de Bolsonaro pelo voto impresso e auditável tem esse pano de fundo: um país quase quebrado na economia e mais de meio milhão de mortos a lhe pesar na consciência (se é que ele tem) e que detonam qualquer esperança de reeleição. Sem a possibilidade de vencer novamente, por sua própria e total incapacidade, só lhe resta esticar a corda, rompê-la e tentar um golpe.

Sua briga com o Judiciário que ele insiste, infantilmente, em fulanizar, como se o ministro Luís Roberto Barroso estivesse sozinho tentando derrubá-lo do poder, é o caminho que ele escolheu para o  golpe que pretende dar.

Ao afirmar que não mais obedecerá a qualquer determinação do STF ou do TSE, Bolsonaro está desafiando a lei e se colocando acima dela. Isso só os ditadores fazem quando o poder lhe é total e não há possibilidade de reação da sociedade, seja ela civil ou militar.

Daqui pra frente, o país vai viver na expectativa de um golpe. Se ele for mantido no poder e tiver respaldo das forças armadas, vai se transformar num ditador e poderemos ter novos anos de chumbo pela frente. Não creio que ele tenha capacidade para tanto, pois se lhe sobra truculência, faltam talento e inteligência. Mas…

Mas vai depender da nossa reação para que tal barbaridade seja contida. A democracia brasileira está sim correndo um risco hoje. Esse risco não é ainda gigantesco, mas ele tende a crescer enquanto for regado pela nossa omissão. O manifesto de empresários, e outros publicado na imprensa e nas redes sociais, é um passo importante para avisar esse filhote de ditador que a sociedade está atenta e não admite nada fora da democracia. Mas é pouco. É necessário que esse recado cresça e que todo cidadão de bem desse país – que é a grande maioria, tenho certeza – deixe claro que não deseja uma ditadura.

Precisamos ir às ruas nas próximas manifestações mesmo temendo ainda o vírus, para que o outro mal, muito pior, mal não prevaleça. Para que Bolsonaro e suas quadrilhas não se sintam à vontade para aplicar um golpe contra a democracia e contra o povo brasileiro.

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Edmilson Siqueira é jornalista

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