MORO

Boa sorte, Moro! Por Edmilson Siqueira

… Sergio Moro vai encarar mesmo a política, como é desejo de alguns milhões de brasileiros que veem no ex-juiz a saída do lodo moral e institucional em que se encontra o Brasil. Mas não vai ser fácil. 

MORO

Contra Sergio Moro há forças poderosas unidas de ambos os lados do radicalismo ideológico. Bolsonaristas e petistas, por exemplo, já se deram as mãos para acabar com a Lava Jato e continuam firmes na campanha de que um só ganha a eleição se enfrentar o outro. E, para tanto, afastar Moro da possibilidade de um segundo turno será o principal objetivo da manada que segue Bolsonaro e dos corruptos que seguem Lula.

As vantagens de Moro são significativas: ele aparece em terceiro nas pesquisas mesmo antes de se lançar candidato, tem um passado totalmente limpo e sua luta contra a corrupção ainda está na memória de todo eleitorado brasileiro.

A campanha contra ele, além dos poderosos já citados, também conta com juízes, desembargadores e ministros do STF que discordaram dos métodos da Lava Jato principalmente por atingirem grandes figuras da política e empresários. Ambos, políticos corruptos e empresários idem, costumam frequentar reuniões sociais com magistrados brasileiros, aqui e no exterior. A promiscuidade entre os três setores – político, empresarial e judicial – corre solta. Políticos fazem leis que garantem impunidades gerais; empresários ganham bilhões em concorrências sem concorrentes e juízes, de todas as instâncias, garantem decisões favoráveis a eles sempre em troca de algo, como o noticiário brasileiro nos informa diariamente.

E não só. O STF, através da influência de Gilmar Mendes, iniciou o desmanche da Lava Jato, usando, para tanto, material totalmente ilegal, que não seria aceito como prova em qualquer juízo que tivesse juízo. Ilegal e, pior, possivelmente manipulado. A falta de reação de boa parte da Imprensa contra essa calamidade mostra bem que Moro terá um caminho mais que espinhoso ao entrar na arena política.

Essa união é quase imbatível, pois seus membros ocupam postos chaves do Congresso e do Judiciário, e os empresários são todos milionários. Os que não são, se tornam ao aderir aos esquemas.

No Congresso, as boas intenções de alguns em projetos que melhorariam o combate à corrupção e outros que fariam reformas corretas, pondo fim às regalias e mordomias da casta de servidores públicos que governa o Brasil e destravando a economia, são diluídas por essa infame maioria apelidada de Centrão e que se alia a qualquer governo que lhe garanta a continuidade das mamatas, da corrupção e da impunidade geral.

A campanha propriamente dita, que se inicia oficialmente no segundo semestre de 2022, será um horror para Moro quanto mais crescer sua candidatura. Caso ele não decole, será esquecido num canto e as candidaturas mais fortes hoje (Lula e Bolsonaro) se importarão em atacar quem possa barrar o caminho delas para o segundo turno.

Mas, como Moro já começa com dois dígitos, segundo as pesquisas, a possibilidade que ele cresça e ultrapasse Bolsonaro, que hoje vê seus números  favoráveis diminuírem mês a mês, vai transformá-lo em alvo tanto do próprio bolsonarismo como do lulopetismo, pois se o primeiro o vê tomando seu lugar na disputa, o segundo o enxerga como perigosíssimo, quase fatal, adversário num mata-mata de um jogo só.

Assim, é provável que Moro comece a ser criticado de forma mais veemente desde já, a partir da festa de sua filiação ao Podemos marcada para o próximo dia 10 em Brasília. As redes sociais da esquerda e da direita, irmanadas num gabinete do ódio bipartidário, encherão as telas e telinhas de fake news sobre o juiz, com acusações não só absurdas, como possivelmente contraditórias. Não me surpreenderei se, por exemplo, bolsonaristas acusarem Moro de comunista e petistas o identificarem como aliado dos fascistas do poder.

E também usarão, claro, as “sentenças” proferidas por ministros do STF anulando suas decisões e soltando os corruptos todos, sem que, para tanto, tivessem provas factuais, se contentando com material ilícito, pois recolhidos por escroques, sem mandados judiciais e sem passar por perícia digna de confiança. Um horror sobre qualquer aspecto, mas que teve a adesão de bravos ministros do Supremo Tribunal Federal.

E, pra encerrar, e, agora sim, para meu espanto, leio hoje um editorial do outrora vetusto Estadão, sob o título A Perigosa Permanência do Lavajatismo. Diz o autor do treco que a ideia dos lavajatistas é que a corrupção é o grande mal que assola o país e que, portanto, deve-se combatê-lo de todas as formas, legais e ilegais. Ledo engano, diria outro editorialista fosse ainda vetusto o jornal. Os promotores tiveram seus processos todos referendados por desembargadores da segunda instância e por ministros do STJ. Houvesse ilegalidades, elas seriam denunciadas e, no mínimo, acatadas por alguns membros das instâncias superiores. Mas tais processos só foram ser contestados quando surgiram as tais provas ilegais e sem perícia e das quais se aproveitou Gilmar Mendes para pôr em prática seus planos de exterminar a Lava Jato e salvar seus aliados.

Portanto, o editorial do Estadão chama, indiretamente, de incompetentes ou comparsas do “maléfico plano” todos os integrantes das instâncias superiores que aprovaram as sentenças – e consequentemente os processos – da Lava Jato.

O editorial do Estadão é mais um sintoma de que a doença da corrupção afetou os sentidos até de quem parecia blindado aos infames argumentos dos advogados dos corruptos acatados por alguns juízes da instância superior.

Por isso, desejo boa sorte a Sergio Moro. Ele vai ter que ser um craque da boa  política para enfrentar essa turba toda.

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Edmilson Siqueira é jornalista

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3 thoughts on “Boa sorte, Moro! Por Edmilson Siqueira

  1. Seu artigo é ótimo sobre o que MORO pode esperar no futuro, e a influência que os comentários negativos terão sobre muitos eleitores. Mas, não precisa ir muito longe… Como você assinalou ao comentar o absurdo editorial do jornal O Estado de São Paulo, os ataques já começaram inclusive com comentaristas do… Chumbo Gordo. Basta ver o que escreveu Cacalo Kfouri em seu artigo de hoje, no parágrafo “Barbaridade, Sô”, ao se referir a SERGIO MORO. Pois é, e ainda a candidatura nem formalizada está!!!

  2. Edmilson, já começaram. Os ratos alvoroçados fazem o que melhor sabem: https://www.oantagonista.com/brasil/hackers-de-miami/
    Francisco Monteagudo tem razão no seu comentário.
    Acrescento, há um apresentador de programa radiofônico que sistematicamente critica e desqualifica Moro. Ele fala “com conhecimento de causa” pois é advogado criminalista. Mas há por trás disso um seu envolvimento, acho que até de amizade, com a diretoria daquele banco, o Pactual, cujo dono, o Esteves, é invenção de Lula assim como foram Eike Batista e os irmãos da JBS.
    Moro terá toda sorte de críticos vociferadores espalhados por todo espectro social e político. Que o santo dele seja poderoso.

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