Dostoiévski

Será que Putin não leu Dostoiévski? Por Meraldo Zisman

Será que Putin não leu Dostoiévski? Ou está também impedido? Lá na Rússia esse autor não foi censurado.Estranho… Alguém saberia me responder?

Articulo que a espécie humana é conjuntural, no sentido dos acontecimentos ou fatos que ocorrem num determinado momento, principalmente quando adversos.

À medida que a Rússia invade a Ucrânia, logo após ou ainda na vigência da pandemia do coronavírus e suas mutações, criou-se uma nova angústia que denomino de: ‘Ansiedade das Manchetes’, não catalogada pelo Código Internacional das Doenças (C.I.D.).

Alguns filósofos definem nossa época como líquida, do consumo ou pós-moderna. Na verdade, o verbo consumir (tudo) domina e um dos seus principais pulsões, e o mais gritante, é a voracidade pela informação, sobretudo as “fake news”, que os matemáticos denominam função  logarítmica contrária, inversa da função exponencial ou vice-versa pelos avanços da tecnologia de informação.

Já que estou tratando dos efeitos desses ‘tsunamis’ informativos nas pessoas, advirto que os efeitos adversos dos estresses recorrentes variam de pessoa para pessoa e não poucos manifestam sinais de depressão, ansiedade, interrupção do sono e fadiga.

Mormente quanto aos efeitos cumulativos que são, do ponto de vista médico, imprevisíveis.

Mesmo quando desligados das telinhas ou das telonas o mal-estar permanece em pensamentos, nas conversas, nas famílias, entre amigos, dentre colegas, fazendo que nossa ansiedade aumente a complexidade do nosso cérebro, extrapolando e passando a ser um acontecimento de massa. É o que denomino efeito cumulativo estressógeno. Para evitar que pensem que essa é apenas minha opinião, socorro-me do que diz o psiquiatra alemão Kurt Schneider (1887 – 1967) na sua descrição psicopatológica dos portadores de desvios de comportamento, da ausência de sentimentos de piedade e da falta de compaixão com seus semelhantes. Um autor brasileiro denomina de “condutopatia”, a patologia daqueles que não sofrem com o sofrimento alheio, como afirma em seus trabalhos o psiquiatra forense brasileiro Guido Arturo Palomba, que se dedica a estudar e definir a psicologia dos criminosos.

Em suma: a exposição a longo prazo a estressores piora a ansiedade, o nervosismo, as inquietações e a insegurança, levando às mais diferentes nosologias psiquiátricas. Tais pacientes, quando alcançam o Poder, conduzem ao morticínio das guerras e esquecem inexistir mortos da esquerda ou da direita. Não posso concluir a discussão dessas ameaças bélicas sem citar o autor russo Dostoiévski (1821 – 1881), agora cancelado, exatamente por ser de nacionalidade russa.

“Decididamente não compreendo por que é mais glorioso bombardear com projéteis uma cidade assediada do que assassinar alguém a machadadas”.

Será que Putin não leu Dostoiévski? Ou está também impedido? Lá na Rússia esse autor não foi censurado. Estranho… Alguém saberia me responder?
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Meraldo Zisman Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.

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