INSTRUÇÕES

Instruções. Por Silvia Zaclis

INSTRUÇÕES

Em mudança para o Brasil, um amigo, ansioso para se adaptar ao nosso país, pediu algumas dicas. Sabe como é, regrinhas sociais do tipo “quais temas fazem mais sucesso nas rodas de amigos; quais assuntos podem ofender moral e (bons) costumes e, mais importante, o que deve ser evitado a todo custo”.

Sou amiga dedicada, resolvi levar a tarefa a sério. Acabei escrevendo o seguinte:

“Meu querido, nunca ouviu falar que o Brasil é a terra da alegria?  Somos uma democracia! O brasileiro é cordial! Pode falar o que quiser!

Mas veja, o pessoal daqui é quase todo monoglota, tome cuidado com os mal-entendidos, não vale a pena entrar em polêmicas; o momento não é dos melhores, as coisas estão caras, daqui a uns meses vai ter eleição e o ambiente está bizarro” ….

Aí, parei – resolvi apagar tudo. Optei por uma mensagem bem objetiva:

Instruções:

  1. Tire da mala aquele uniforme da seleção brasileira, pega mal vestir…
  2. Na minha casa, fale do que quiser;
  3. Com meus amigos também fale do que quiser, mas evite “sou de direita” ou “sou de esquerda”( não se ofenda, sei que você não diria uma bobagem dessas, mas caso dê vontade…) ; pode falar de futebol, mas não tenha pressa de escolher um time, as torcidas andam muito chatas…
  4. Em papos gerais, nada de opinar na política interna; para todos os efeitos, você não sabe quem é Bolsonaro e nunca ouviu falar do Lula (ou vice-versa); e passe batido se alguém quiser falar sobre a relação entre os poderes; e nunca, mas nunca mesmo, mencione questões de gênero.

E foi nesse ponto que apaguei tudo outra vez. Depois de muito pensar, resolvi dizer simplesmente a verdade:

“Querido amigo,

Sinceramente, esta não é uma boa hora para você vir ao Brasil.  Deixa que eu vou até aí para explicar pessoalmente. Viajo amanhã”

______________

SILVIA ZACLISÉ JORNALISTA

3 thoughts on “Instruções. Por Silvia Zaclis

  1. Sra. Silvia.
    Entender o país ou explicar para alguém de fora é tarefa herculea.
    Realmente está dificil o dialogo mesmo entre familiares; pessoas que consideramos com um bom nivel de conhecimento viram “feras” se algum comentário é feito contra seu “idolo”, de um lado ou outro.
    Falo de JB e Lula…
    Virou fanatismo, o pior dos males…
    Infelizmente, basta um pouco de sanidade para saber que nem um ou outro resolverá os problemas que hoje temos… pena, continuaremos a ser o eterno “país do futuro”.

  2. Estou, como quase sempre, de acordo com V.
    Tristemente, como no últimos 20 anos ou um pouco mais , numa carência absoluta de gente capaz de combater as políticas e os políticos que se nos apresentam para dirigir uma nação desnorteada, desnutrida, deseducada e erroneamente politizada pela ignorância e incapacidade ou desonestidade das forças que se apresentam como salvadores da pátria.
    A verdade é que não se formam dirigentes com visão de uma sociedade complexa e deseducada que possa orientar o futuro da nação.
    Infelizmente, a minha geração falhou miseravelmente em muitos campos: político, educacional, econômico mas sobretudo na formação de lideranças que pudessem levar a bom porto o caminho indicado no fim da década de 50.
    Pedimos desculpas, que não merecemos.
    Geração de 1930…

    1. Caro Rafael, se a sua geração falhou, a minha também foi incompetente… Auto-crítica é um passo importante, coisa que político devia fazer mas não faz. Nosso povo desnorteado, deseducado e desnutrido, como você bem definiu, está órfão de representantes , de defensores e de quem diz a verdade. Só rezando, mesmo!

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