rainha

Wlad, Sergio e os Vieira

A Rainha. Por Wladimir Weltman

OBRIGADO, ELISABETH E SUA TERRA DE HISTÓRIAS 

A primeira matéria de capa que obtive na minha vida profissional como jornalista foi graças a Elisabeth II da Inglaterra e ao meu amigo e parceiro, o fotógrafo Sergio Zalis. Estávamos em Londres estudando inglês e mandávamos reportagens para a Bloch e a Revista de Domingo do Jornal do Brasil. Vendo hoje a capa da Manchete que o Sergio postou, com a Rainha passando em sua carruagem, me deu vontade de compartir com todos meu carinho especial pela Inglaterra e sua muy amada Lilibet. Coincidentemente estou trabalhando nas minhas memórias, para deixar para meu filho e espero publicar em algum momento. Este é o trecho do livro em que comento esse dia especial em 1977…

O JUBILEU DA RAINHA”

Nossa segunda reportagem de Londres para a revista Manchete ganhou foto de capa.  A chamada da matéria do diretor de revista, Roberto Muggiati na primeira página da revista, informava que havia chegado à redação da revista 1.500 fotos da cobertura do jubileu da rainha de agências de notícia e das sucursais, entre elas algumas do mestre Henri Cartier Bresson. Ainda assim, nas 11 páginas da reportagem, constavam 14 fotos do Sérgio, além da foto de capa, que ele tirou em cima do meu ombro, pra ficar em meio à multidão na Trafalgar Square. Eu enviei 10 laudas de texto, que para dar lugar as fotos, não passaram de 50 linhas de texto, ou seja, 2 laudas… Pouco me importou, na foto da abertura, que tomou duas páginas, estava lá registrado – reportagem de Wladimir Weltman. Com o peito estufado de orgulho, virei e revirei as páginas até cansar. Esta foto com os irmãos Vieira e o Sérgio foi tirada nesse dia, pouco depois da carruagem da Rainha passar”…

Mais adiante escrevi no livro sobre a reação de Adolfo Bloch, quando o encontramos meses depois em Paris, na sucursal da Manchete e mencionamos que tínhamos sido responsáveis pela cobertura do Jubileu da Rainha em Londres e que tinha sido matéria da capa. Seu Adolfo lembrava-se muito bem dessa edição da revista:

 “QUEL MORCEAU DE MERDE!”

Adolpho Bloch

Chegamos em Paris no dia 21 de julho de 1977. Pouco depois fomos visitar a sucursal da Manchete na Place de La Concorde, de frente para o obelisco. A famosa praça onde, durante a revolução francesa, os nobres de França tinham suas cabeças guilhotinadas. Nesse dia senti exatamente o que eles sentiram ao chegar ali.

Fomos recepcionados pelo simpático chefe de sucursal Sylvio Silveira. Só que o clima geral do lugar estava tenso. É que nesse dia eles estavam recebendo outro visitante ilustre. O dono da Manchete, o senhor Adolfo Bloch. Já o conhecia do Brasil, o que não quer dizer que me sentisse a vontade na sua presença. Seu Adolfo era uma figura imprevisível… Ao vê-lo ali, o cumprimentei, me apresentando como filho do Moysés e contando que eu e o Sérgio, que estava ali ao meu lado, havíamos feito a reportagem de capa da Manchete sobre o jubileu da Rainha na Inglaterra. Ao que Adolfo reagiu com apenas uma palavra: “Uma merda!”

Quase cai para trás, Adolfo sentiu que pegou pesado e se explicou: “A reportagem estava boa, mas a revista não vendeu nada. Foi o maior encalhe”. Para ele o valor jornalístico tinha que ser proporcional ao comercial. Apesar da foto de capa do Sérgio ser a única que mostrava a Rainha Elisabeth em meio ao povo – as capas da Paris Match e da Life mostravam apenas a carruagem de longe – para o Adolfo o ideal é que a revista tivesse uma bela mulher na capa, pra garantir boa saída. Tanto que eram antológicas as brigas dele com a direção da revista na hora de escolher a foto da capa. Teve uma vez que chegou a mastigar o negativo de uma foto que não queria colocada ali.”

Pois meu afeto pela Rainha e sua terra procede por ambos terem sempre sido muito generosos para comigo. Não sei vocês, mas acredito que, como dizia Don Juan, o bruxo índio de Castañeda, existem “sítios de poder”, que nos acolhem e favorecem.  Para mim a Inglaterra sempre foi assim. Minhas mais queridas reportagens jornalísticas foram realizadas nessa ilha chuvosa e de tantas tradições, costumes e lendas. Foi lá que encontrei assuntos como os Punk Rockers – fenômeno social juvenil da Inglaterra dos anos 70, que incluía um tipo de música agressiva e barulhenta, além de uma moda sui generis, para a Revista Manchete.

E os Pubs Ingleses, os Squatters (invasores de casas hippies), e tantas outras reportagens para a Revista de Domingo do JB em seus tempos áureos. Todas essas muito bem documentadas pelas fotos de Sérgio Zalis.

E, nos anos 80, voltei as terras de Lilibet para uma série de reportagens para o Caderno de Turismo d’O Globo, com fotos de minha esposa, a fotógrafa Gaby Atherton. Reportagens que incluíram Ghostbusting na Inglaterra; uma autêntica caça à raposa; visita ao campo de batalha de Ricardo III; os ursinhos de pelúcia de William Shakespeare e um guia turístico de Londres para crianças.

 

Por tudo isso, faço aqui minha reverência pela passagem da grande rainha e dando as boas-vindas ao novo rei dos meus queridos ingleses e sua maravilhosa terra de sonhos e histórias.

God Save the King!

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WLADIMIR WELTMAN – é jornalista, roteirista de cinema e TV e diretor de TV. Cobre Hollywood, de onde informa tudo para o Chumbo Gordo

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(DIRETO DE LOS ANGELES)

 

 

 

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