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Que… Por José Paulo Cavalcanti Filho

… “Que o eleito, seja quem for, tenha consciência de que ganhou mas não ganhou, realmente. Que herdou um país dividido em dois, ao meio, fraturado. E compreenda que seu maior papel, bem mais que qualquer outro, será pacificar os brasileiros…

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Porque amanhã será sábado, nesse finzinho de campanha eleitoral vamos ocupar as ruas. Democracia vive mais nelas que nos quartos escuros. Como disse em 1913 Louis Brandeis, justice da Suprema Corte Americana, “A luz do sol é o melhor desinfetante”. Vale a pena, então, discutir, tentar convencer os amigos, até brigar, dentro de limites razoáveis. Depois virá domingo. Lembrando Vinícius (Dia da Criação), quando “Bondes andam em cima dos trilhos/ E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar”.  Como todos os domingos, dia de almoçar com a família, do biriba, das maledicências, de descansar, “de vadiar” como ensinava Ascenso (Filosofia). Só que, diferente de tantos domingos, neste vamos votar. A favor ou contra, pouco importa. Só não entendo é votar nulo ou em branco, uma omissão imperdoável que ofende a Democracia. Mas dia seguinte será segunda. Foi sempre assim e sempre será, até o fim dos tempos. O dia da lua (lunes, lunedi, lundi, moonday). Um tempo de esquecer o passado que passou e olhar em frente, visando esse “futuro que eu sem conhecer adoro”, dizia Pessoa (Caeiro, no Guardador). Vênia, então, para profissão de fé a ser exercida, por todos, já nesta segunda:

Que o eleito, seja quem for, tenha consciência de que ganhou mas não ganhou, realmente. Que herdou um país dividido em dois, ao meio, fraturado. E compreenda que seu maior papel, bem mais que qualquer outro, será pacificar os brasileiros.

Que, de nossa parte, sejamos pacientes com o governo que for eleito, qualquer que seja, dando-lhe um pouco da tranquilidade. Ao menos por alguns meses. O Brasil precisa disso.

Que possamos exercitar o otimismo não como reflexão, mas como sentimento; que otimismo não é razão, mas emoção. A gente não está ou deixa de estar otimista; mas é ou não é. E seria bom que todos (ou quase todos) fossem.

Que possamos voltar a conversar com menos certeza e maior paciência, menos ressentimento e maior afeto, trocando nãos por sims, falando menos e ouvindo mais.

Que todas as velhas amizades, rompidas pela política, sejam retomadas.

Que o Náutico se prepare bem para ser campeão da série C, com a benção de Deus.

Que, sobretudo, possamos celebrar continuamente a epifania radiosa da vida em cada instante com trabalho, promessas, tristezas (poucas), alegrias muitas, incertezas, mistérios, sonhos generosos.

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José Paulo Cavalcanti FilhoÉ advogado, escritor,  e um dos maiores conhecedores da obra de Fernando Pessoa. Integrou a Comissão da Verdade. Vive no Recife. Eleito para a Academia Brasileira de Letras, cadeira 39.

jp@jpc.com.br

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