PELÉ

Pelé não morreu. O Rei é eterno. Blog Mário Marinho

PELÉ

“Pelé não é desse mundo”.

A frase não é minha, mas de Pepe que foi seu companheiro durante muito anos no Santos e na Seleção Brasileira.

Quando se pergunta a Pepe qual foi o maior artilheiro do Santos, ele responde:

– Eu, claro. Marquei 504 gols.

– Peraí, Pepe, o Pelé marcou mais de mil gols.

E Pepe responde:

– Mas, Pelé não é desse mundo. Eu estou falando só de pessoas desse mundo.

Na verdade, Pepe é o segundo artilheiro do Santos e gosta de fazer essa brincadeira. O grande artilheiro, claro, é Pelé. Ele marcou 1.283 gols em sua carreira.

Poucas pessoas tiveram o prazer de conhecer Pelé pessoalmente, de conversar com ele.

Eu tive.

Em novembro de 1966, eu era foca (aprendiz de jornalismo) e fui ao Mineirão cobrir o jogo Cruzeiro x Santos o primeiro da decisão da Taça Brasil daquele ano. Eu trabalhava no Diário da Tarde.

Foi um jogo histórico: o Santos perdeu por 6 a 2, com Pelé e tudo.

Terminado o jogo eu fui ao vestiário. Como eu era um foca, não me foi dado o direito de entrevistar Pelé.

Mas, só a proximidade do Pelé já me deixou extasiado. Achei incrível a naturalidade como ele falava daquele jogo, daquela goleada histórica. E também a forma natural como ele falava com os repórteres, atendia a todos, não só os de São Paulo, mas, também, os mineiros,

Poucos meses depois, em 1968, eu estava no Jornal da Tarde.

E o primeiro jogo que cobri para o JT foi São Bento 0 x 2 Santos, em Sorocaba.

Aí, sim, pude conversar com Pelé.

No resto daquele ano eu fui escalado como setorista do Santos. Todos os dias eu saia de São Paulo e ia cobrir as atividades do Santos.

Foi quase um ano de encontros diários.

Em todo o tempo que cobri o Santos e, mais tarde,  em toda a minha carreira de jornalista, nunca soube de uma briga, um desentendimento de Pelé com jornalistas. E olha que ele era entrevistado em qualquer lugar que fosse. Atendia sempre com a maior paciência do mundo.

Haja paciência.

Em 1969, Pelé dedicou o Milésimo Gol às criancinhas, pedindo mais cuidados das autoridades com a infância.

Pelé foi acusado de demagogo. Muita gente meteu o pau nele.

Uns vinte anos depois, numa entrevista, Pelé voltou a falar sobre o assunto.

– Pois é, muitos dos marginais de hoje eram crianças naquela época do milésimo gol. Talvez, se tivesse recebido a educação e saúde necessárias, muitas teriam seguido um bom caminho.

Pelé abriu caminho para muita gente. Deu ao Santos muitas vitórias, muitos títulos, e o reconhecimento internacional.

No começo dos anos 1970, uma agência internacional fez imensa pesquisa para ver quem era a pessoa mais famosa do mundo.

Não deu o Papa, nem os Beatles, deu Pelé.

Em 1981, eu estava em Israel cobrindo a Macabíada, uma competição esportiva, tipo a Olimpíada, só para atletas de origem judaica. Eu estava pelo Jornal da Tarde.

Um noite, o companheiro Moisés Rabinovici que era o correspondente do Jornal da Tarde em Israel me convidou e também aos outros jornalistas que cobriam a competição (seis ao todo) para jantar num restaurante árabe nas cercanias de Tel Aviv.

Um restaurante muito bonito, com mesas ao ar livre, já que essa época não chovia lá.

Ficamos encantados com o restaurante.

O garçom veio nos atender.

Pedimos a bebida: um vinho israelense: vinho Monte Carmel, gelado, uma delícia para aquela noite quente.

O garçom falou alguma coisa com o Rabinovici que, entre outras línguas, falava o árabe. O garçom balançou a cabeça e nós entendemos que havia problemas.

Rabino, como é chamado, muito sério, deu-nos a péssima notícia:

– Não pode ser servido vinho.

– O quê? E por quê? – Bradamos num coro que pareceu até ensaiado.

Rabino explicou:

– É o  mês de Ramadã, é mês de jejum dos árabes. Além do jejum, eles são proibidos de ingerir qualquer bebida alcóolica.

Vimos que o Rabino tentava negociar com o garçom, mas, em vão.

Rabino disse que éramos de longe, do Brasil.

A fisionomia do garçom passou de carrancuda a sorridente e bradou:

– Belé, Belé… Trocando o P pelo B como fazem os árabes.

A conversa mudou de rumo e o garçom chamou o Rabino para conversar com o dono. Daí a pouco, volta o Rabino sorridente com dois litros do vinho. Explicou:

– O dono do restaurante também é fã de futebol e do Pelé. Ele topou nos vender o vinho, desde que a gente vá lá dentro, pegue o vinho e a gente mesmo se sirva. Eles não podem ter contato com nada.

Pelé salvou o nosso jantar.

Uma tarde, naquele mesmo ano eu estava em casa quando o telefone tocou. Era Jack Terpins, então diretor da Hebraica.

– Marinho, tem um cara aqui na Hebraica jogando tênis. Mas ele é meio grosso. Acho que vou aconselhá-lo a jogar futebol.

– Quem é?

– Um tal de Pelé.

Claro que eu fui para a Hebraica e encontrei o atleta Pelé batendo bola com um professor de tênis.

Terminada a “aula”, fui falar com Pelé.

Ele me explicou que gostava de jogar tênis e atendeu a um convite do presidente da Hebraica, Marcos Arbaitman.

Com Pelé na quadra de tênis da Hebraica, em 1982.

Terminado o bate-bola, terminou também o horário da Escolinha de Esportes para crianças até 11-12 anos.

A molecada saiu do ginásio, uns 40-50, em disparada para as quadras de tênis aos gritos de “Pelé! Pelé! Pelé!”.

Eram crianças que nunca haviam visto Pelé jogar. Mas, sabiam quem era ele. E foram recebidos pelo Rei com o sorriso e a paciência de sempre.

Pelé.

Quem viu, viu. Quem não viu…

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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi FOTO SOFIA MARINHOdurante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

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Leia também: Tributo ao Rei Pelé. Por Laurete Godoy ( 16/9/2021)

 

2 thoughts on “Pelé não morreu. O Rei é eterno. Blog Mário Marinho

  1. MMARINHO. Pelé foi causador do primeiro desentendimento com minha esposa, Sonia. Recém casados e teríamos a primeira visita de meu sogro ao nosso apartamento. Morávamos nas Perdizes e nesse dia jogava o Santos de Pelé e cia. contra o meu São Paulo, no Pacaembu. Pelé em grande forma .e o SP tinha o Vitor, considerado bom marcador e violento. Troquei a visita pelo jogo. Depois deve ter corrido tudo bem em casa pois estamos juntos até hoje.

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