disparates de Lula

Por Sam Jovana - desenhista mineira

Os disparates de Lula. Por José Horta Manzano

… me compadeço de um Lula que, aos 75 anos, culpado ou não, purgou 580 dias de cárcere. Compreendo que essa privação de liberdade tenha deixado ressentimentos. Mas não acredito que seja este o melhor momento para esconjurar velhos rancores. Os brasileiros, que anseiam por ar puro e livre de miasmas, não merecem ser bombardeados com patacoadas…

disparates de Lula
Por Sam Jovana – desenhista mineira

 Os disparates de Lula parecem suaves se comparados aos de Bolsonaro. Assim mesmo, embora pronunciados em linguagem decente, não deixam de ser disparates. Tenho às vezes a impressão de que Lula nunca antes atravessou um período de graça como o momento atual.

Aquele meio Brasil que viu na sua eleição uma luz no fim do túnel está aliviado e leniente com suas primeiras besteiras. Esse contingente de brasileiros tende a ser condescendente com as escorregadelas do novo presidente. São eleitores que reagem como se o Lula fosse um iniciante na política, um eleito de primeiro mandato.

Quanto à outra metade do Brasil – os eleitores que votaram em Bolsonaro – é de imaginar que o comportamento do ex-presidente derrotado não tenha agradado. O Datafolha ainda não publicou nenhuma pesquisa a respeito, mas Bolsonaro deve ter deixado um contingente de decepcionados. Sua fuga para o exterior é um crime de abandono de incapazes.

Tanto faz que o chefe seja chamado de Führer, Duce, Conducător, Caudillo, Comandante  ou Mito – o próprio de uma seita extremista é a devoção incondicional ao messias. Ele concentra todos os atributos: a sabedoria, o discernimento, a força e a coragem. Um Führer que fraqueja, foge, se esconde no exterior, e deixa os devotos ao deus-dará é uma paulada na moleira. Um contrassenso. Um golpe duro. Um tranco capaz de abalar toda a paróquia.

Isso me faz acreditar que, frustados com o comportamento do líder, muitos dos que votaram nele estão atualmente menos propensos a se opor com veemência a Lula. O Mito fugido nem ao menos apresentou uma boa desculpa para a atitude. Se estivesse sob mandado de prisão, por exemplo, seria compreensível. Mas não há, por enquanto, nenhuma medida decretada contra ele. Se não volta, é porque não quer.

Voltemos agora ao período de graça do Lula. Acho que ele, inebriado com a renovada sensação de poder, não está percebendo que o tempo passa rápido e o tempo de bonança está escorrendo por suas mãos. A ampulheta é implacável.

Ele já disse que respeitar regras fiscais é bobagem. Já levantou o espantalho de nova moeda a ser compartilhada entre Brasil e Argentina. Já tratou seu antecessor de genocida, igualando-se a ele em despudor. Já prometeu financiamento para a exploração de gás na Argentina, quando o Brasil tem milhares de obras paralisadas. Mais de uma vez, já chamou Temer de ‘golpista’. Já repetiu que o impeachment de Dilma foi ‘golpe’, uma distorção da verdade histórica.

Eu me compadeço de um Lula que, aos 75 anos, culpado ou não, purgou 580 dias de cárcere. Compreendo que essa privação de liberdade tenha deixado ressentimentos. Mas não acredito que seja este o melhor momento para esconjurar velhos rancores. Os brasileiros, que anseiam por ar puro e livre de miasmas, não merecem ser bombardeados com patacoadas.

Presidente, não estrague essa “janela de oportunidades” – como se diz hoje em dia – com declarações ruidosas e desnecessárias. Chega de poluição declaratória. Vá direto ao ponto. Dê aos brasileiros o que eles estão precisando receber.

Ô Lula, pára de dizer besteira e faz como se dizia antigamente:

“Aproveita enquanto o Brás é tesoureiro, que essa sopa vai acabar!”. (*)

 (*)  Em outras versões desse sábio ditado, o polivalente Brás é carcereiro.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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