Minha casa minha vida

Minha casa, minha vida. Por José Horta Manzano

Nunca vi pessoalmente uma implantação do Minha Casa Minha Vida mas já vi fotografias… Até a pintura das casinhas é de um deprimente tom branco sujo. Sujo e uniforme. Não se vê, em todo o loteamento, um arbusto, nem unzinho. Nem grama. Nem um matinho…

Minha casa minha vida

Durante a gestão bolsonárica, o programa de habitação popular “Minha Casa Minha Vida” esteve em hibernação. Estender a mão a quem precisa não era realmente o forte do capitão.

Lula, desde o começo do mandato versão 3.0, prometeu retomar os programas sociais que tinham dormitado por quatro anos – e que são primordiais para quem realmente precisa. Embora tenha vivido, nas últimas décadas, bem acima da carne seca, Luiz Inácio ainda se lembra da infância difícil, quando tudo faltava.

Nunca vi pessoalmente uma implantação do Minha Casa Minha Vida mas já vi fotografias. Que tristeza, minha gente! Aquelas fileiras de casas alinhadas como soldadinhos de chumbo de batalha napoleônica compõem um quadro desanimador.

As casas são todas desesperadamente idênticas. Os terrenos (se é que aquelas minúsculas parcelas podem ser chamadas de “terrenos”) têm rigorosamente a mesma metragem. Até a pintura das casinhas é de um deprimente tom branco sujo. Sujo e uniforme. Não se vê, em todo o loteamento, um arbusto, nem unzinho. Nem grama. Nem um matinho. A impressão é de que falta vida. Nem nossas roupas comuns dependuradas hão de dar jeito.

Acredito que, pra tirar esse aspecto borocoxô, três medidas simples e pouco onerosas deveriam ser tomadas.

Primeiro, que se pense em variar o colorido das casinhas. Basta escolher 5 ou 6 cores e alternar. Vai sumir esse aspecto de acampamento de refugiados.

Segundo, que se plantem árvores ou, pelo menos, arbustos antes de entregar as casas aos contemplados. Não precisa criar uma floresta (se bem que não faria mal), basta uma moita aqui, outra acolá. Com essas manchas de vegetação, o aspecto geral subiria alguns graus.

Terceiro, não é muito complicado acabar com esse aspecto de vila soviética, onde todas as casas são idênticas. Em vez de desenhar uma planta única, que os arquitetos façam o esforço de criar três ou quatro tipos de casa. Que conservem a metragem estipulada, mas que apliquem seu talento a modificar a disposição dos cômodos e os exteriores: uma janela deste lado, uma janela do outro lado, a porta de entrada aqui, a porta de entrada ali. E assim por diante. “Assim, vareia”, como diz o outro.

Não é só porque se destinam ao povão que esses loteamentos têm de ter aspecto de carregação. Vida de pobre já é triste o suficiente. Não vale a pena cultivar a desesperança.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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1 thought on “Minha casa, minha vida. Por José Horta Manzano

  1. De repente, a pandemia da Covid19 e suas consequências econômicas e sociais foram pro espaço! E o esquecimento da “dívida” econômica da Presidenta , que nos atinge até hoje: déficit de 145 bilhões do orçamento federal e 7, 600 trilhões da dívida bruta pública interna, dados do Banco Central de 28/07/23 é fato. Prometer e não realizar nos acompanham há 40 anos, quando foram eleitos os governadores pós Ditadura Militar. Com uma economia que não cresce, resignar-se é preciso? Ou acreditar em promessas tipo “Brasil: país do futuro” ?

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