ILHA DA FANTASIA

Sessão de abertura da ONU Nova York 19 set° 2023

ILHA DA FANTASIA…O discurso não foi o de um caixeiro viajante, mas o de um promotor turístico. Luiz Inácio vendeu um país invejável, onde a energia elétrica é limpa, o desmate amazônico praticamente acabou, a democracia ressuscitou, o plano Brasil sem Fome corre a pleno vapor, a igualdade salarial entre sexos está alcançando o objetivo, a Bolsa Família voltou pra ficar…

ILHA DA FANTASIA
Sessão de abertura da ONU
Nova York 19 set° 2023

  Acabo de escutar o discurso de Lula da Silva na abertura da Sessão Anual da ONU. No final, devo dizer que fiquei aliviado. O pronunciamento foi curto e desapaixonado. Quem esperava frases de impacto e posicionamentos memoráveis voltou decepcionado e de mãos abanando.

O discurso não foi o de um caixeiro viajante, mas o de um promotor turístico. Luiz Inácio vendeu um país invejável, onde a energia elétrica é limpa, o desmate amazônico praticamente acabou, a democracia ressuscitou, o plano Brasil sem Fome corre a pleno vapor, a igualdade salarial entre sexos está alcançando o objetivo, a Bolsa Família voltou pra ficar.

Depois desse discurso, fica a quase certeza de que as massas migratórias que arriscam a travessia do Mediterrâneo para chegar à Europa vão preferir cruzar o Atlântico para ter às costas brasileiras.

Do lado positivo, temos ainda a reafirmação da luta do Brasil de Lula contra a desigualdade, a intolerância, a xenofobia. O mundo agora sabe que, diferentemente dos países hoje mais adiantados, temos a firme intenção de promover um desenvolvimento sem poluir nem destruir o meio ambiente.

O mundo ficou sabendo ainda que Lula é um grande líder do “Sul Global”. Cuida do G20, do Brics e da Agenda de Belém, instituição que congrega 50 milhões de amazônidas (palavra chiquérrima).

Já do lado negativo, foi estranho que a única menção nominal de Lula tenha sido a Julian Assange, jornalista australiano atualmente encarcerado na Inglaterra à espera de extradição para os EUA. Nosso presidente asseverou que esse senhor “não deve ser punido”.

Independentemente de concordar ou não com Lula, achei que não cabia a um presidente do Brasil adiantar-se às deliberações da Justiça de um país estrangeiro. É como se um líder estrangeiro dissesse que este ou aquele cidadão brasileiro não merece ser condenado. É bola fora.

No capítulo “Palavras Inúteis”, Lula mencionou de passagem os conflitos na Palestina, no Haiti, na Líbia, em Burkina Faso e em outros países africanos. Falou do risco de golpe de Estado na Guatemala, mas silenciou sobre o golpe permanente que há anos vem sido dado na vizinha Nicarágua por Ortega, ditador atual e amigão do petista.

Não podia deixar de mencionar a Ucrânia. Esperto, deu uma pirueta. Não mostrou ódio nem simpatia por Kiev. Disse apenas que, na Ucrânia, “não conseguimos impor a Carta da ONU”. E logo fugiu do assunto.

Para terminar com fecho de ouro, Lula montou em seu cavalo de batalha: a reforma do Conselho de Segurança da ONU. Assim como Pútin, que desejava entrar para a História como aquele que recompôs o Império Russo, Luiz Inácio tem a pretensão de ser lembrado como aquele que permitiu a entrada do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança.

Só que… nenhum dos dois vai conseguir. Pútin, por problemas evidentes: se não conseguiu nem domar a Ucrânia, como é que se apossaria da meia dúzia de países europeus que faltam para integrar seu império?

Já nosso Lula, faz anos que entretém um sonho furado, sem nenhuma ancoragem na realidade. Por acaso, os cinco membros permanentes do CS são os vencedores da última guerra mundial e – veja a coincidência – as principais potências atômicas do planeta. Partindo do princípio que não teria cabimento o Brasil entrar sozinho no CS e que cada membro atual tem direito de veto, o problema passa a ser ser cabeludo.

A China não aceitaria o Japão como novo membro. A Rússia vetaria a Índia. Se o Brasil entra, por que não o México? A Alemanha seria olhada com desconfiança por meio mundo. Como o distinto pode perceber, o problema é mais que cabeludo: é insolúvel.

É por isso que a reclamação que Lula tira do bolsinho do colete a cada discurso é maçante, cansativa, estéril como birra de criança que se joga no chão e esperneia. Não serve pra nada.

Resumindo, o discurso não foi tão mal. O contraste com as falas estranhas de Bolsonaro foi flagrante. A plateia aplaudiu em vários momentos – só isso já diluiu as imperfeições.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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