PENTEADO

A partir do alto à esquerda, em sentido horário: Geert Wilders (Hol.), Javier Milei (Arg.), Donald Trump (EUA), Boris Johnson (UK)

Penteado…Donald Trump e Boris Johnson deram o sinal de partida à nova moda. O topete alaranjado do americano e o “cabelo assanhado com muito cuidado” (*) do inglês surpreenderam o mundo. Lá no fundo, cada um de nós pensou…

PENTEADO
A partir do alto à esquerda, em sentido horário: Geert Wilders (Hol.), Javier Milei (Arg.), Donald Trump (EUA), Boris Johnson (UK)

 As redes sociais de língua espanhola estão fervendo com uma descoberta. Trata-se de fato evidente, mas ninguém tinha ligado uma coisa à outra. Os líderes de extrema direita parecem ter especial predileção por penteados extravagantes.

Donald Trump e Boris Johnson deram o sinal de partida à nova moda. O topete alaranjado do americano e o “cabelo assanhado com muito cuidado” (*) do inglês surpreenderam o mundo. Lá no fundo, cada um de nós pensou: “Como é que pode um presidente (um primeiro-ministro) se apresentar com uma cabeleira esquisita dessas?”. Mas pouca gente ligou uma coisa à outra.

Este mês, de repente, com poucos dias de intervalo, são eleitos dois novos membros da tendência ultradireita populista. Na Holanda, é Geert Wilders, e na Argentina, nosso já familiar Javier Milei. Ambos ostentam o que, décadas atrás, se conhecia como “cabeleira de maestro”. De fato, não se costumava ver ninguém assim, exceto os diretores de orquestra.

Com mais esses dois na lista, não dá mais pra esconder. É por isso que as redes de língua espanhola estão excitadas. No Brasil, imagino que a empolgação seja bem menor, afinal nenhum dos personagens nos é conhecido e familiar – quem já ouviu falar de Geert Wilders?

Sigismeno, um amigo meu que, na juventude, foi cabeleireiro de dama, me garante que o cabelo de Bolsonaro, apesar do aspecto emplastado e descurado, é tingido. Tintura feita nos conformes, nada de trabalho caseiro com pincel e bacia sobre a mesa da cozinha, e a esposa ajudando. Como prova, Sigismeno aponta a meia dúzia de fios brancos que surgem ao lado da orelha do capitão, um embranquecimento lentíííssimo que não avançou um fio em seis anos, desde que o político se tornou conhecido.

Fico meio assim. Se bem que é verdade que, quando presidente, Bolsonaro mais de uma vez se deixou fotografar sentado numa cadeira de barbearia de aspecto chinfrim. Será que não passava de disfarce pra desviar a atenção do distinto público?

Voltemos aos ultradireitistas cabeludos. No tempo dos Beatles, quando todos os jovens começaram a deixar crescer o cabelo, as vovós costumavam resmungar: “Cabelos compridos, ideias curtas”.

Trump e Johnson já deram sua contribuição para confirmar o resmungo das velhinhas. Vamos ver se os recém-chegados ao clube – o holandês e o argentino – conseguem fazer uma boa gestão e, assim, desmentir a maldição.

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José Irimia Barroso, escritor hispano-venezuelano, tuitou: “Se vierem os extraterrestres, vão achar que ‘populismo de ultradireita’ é algo relacionado com o penteado…”.

 (*) “Cabelo assanhado com muito cuidado” é trecho da música Mocinho Bonito, do compositor Billy Blanco. O samba foi lançado no fim dos anos 1950, gravado por Isaura Garcia e, em seguida, por Dóris Monteiro.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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