Que um muro alto proibia…

… a imagem que vem à mente de qualquer cidadão é um edifício de aspecto severo cercado por um muro alto encimado de rolos de arame farpado. A fotografia das instalações penitenciárias de Mossoró que sai na mídia todos os dias mostra um conjunto de edifícios baixos, emoldurados de um verde aprazível, rodeados apenas por um alambrado, sem sombra de muro…

Que um muro alto proibia…

Especialista em arquitetura penitenciária é que não sou. Aliás, acho que não há muitos em nosso país. Se houver, parece que o governo esqueceu de consultá-los quando implantou a penitenciária de segurança máxima de Mossoró.

Ao pensar em uma prisão, a imagem que vem à mente de qualquer cidadão é um edifício de aspecto severo cercado por um muro alto encimado de rolos de arame farpado. A fotografia das instalações penitenciárias de Mossoró que sai na mídia todos os dias mostra um conjunto de edifícios baixos, emoldurados de um verde aprazível, rodeados apenas por um alambrado, sem sombra de muro. Um espanto!

Quer dizer que prisioneiros comuns são encarcerados em estabelecimentos que parecem fortificação medieval, enquanto condenados de altíssima periculosidade cumprem pena como se estivessem em vilegiatura, em meio ao verde repousante, sem muros que lhes tolham a visão. Um assombro!

É possível que teorias modernas de construção de prisão proponham que estabelecimentos de alta segurança sejam cercados apenas de alambrado. Leigo no assunto, tenho dificuldade em conceber essa escolha. Não é por nada não, mas será que a verba para construção do muro alto não teria sido – por engano, naturalmente – desviada para compra de tratores ou de bois?

Que tenha sido erro ou traquinagem, o resultado está aí. São atualmente 500 profissionais destacados para a “caçada” aos fugitivos. Quem diz meio milheiro de policiais, subentende tudo o que acompanha: locomoção, alimentação, alojamento, logística (quem lava e passa farda de 500 homens?), helicópteros à disposição, visita de ministro direto de Brasília. Tudo isso por dois homens. E por falta de muro.

Se duvidar, é capaz de esse verdadeiro movimento de tropas estar saindo mais caro do que a construção de um muro alto com arame farpado em cima.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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