
Guerra é Guerra. Por Wladimir Veltman
… Lamento profundamente a perda humana e material dos habitantes de Gaza, mas guerra é guerra. Não é filme de Hollywood. Qualquer um que já esteve em meio a um conflito armado dessas proporções, sabe que o caos é imenso e a ação volátil…
[CONTRAPONTO]
Caro e distinto colega do CHUMBO GORDO, Charles Mady, li o seu artigo e compreendo totalmente a sua indignação pelo sofrimento dos palestinos de Gaza, apesar de não concordar com a maneira simplista e unilateral com que você aborda a questão.
Pra começar gostaria de lembrar que o que aconteceu em Gaza foi uma reação militar a um ataque criminoso a população israelense, vizinha de Gaza. População essa civil, em suas casas e num evento musical juvenil, não numa base militar.
Homens, mulheres e crianças foram massacrados com requintes de crueldade, ação para a qual não há justificativa possível em qualquer sociedade civilizada.
Dito isso, os israelenses partiram para ação militar para salvar os muitos reféns sequestrados pelos terroristas do Hamas. Estabelecendo-se então um conflito armado entre as forças de Israel, um país soberano e esse grupo terrorista, que domina a faixa de Gaza, e que usa como escudo a própria população local.
Lamento profundamente a perda humana e material dos habitantes de Gaza, mas guerra é guerra. Não é filme de Hollywood. Qualquer um que já esteve em meio a um conflito armado dessas proporções, sabe que o caos é imenso e a ação volátil. Não raro soldados são mortos por fogo amigo. Ainda assim, sabe-se que o exército de Israel se arrisca acima do esperado, para evitar mortes civis.
O que me surpreende no seu artigo é que você se emocionou com as fotos dos palestinos voltando pra casa em meio aos destroços da região, mas somente o sofrimento e drama deles. Resolvi lhe ajudar em sua cruzada justiceira. Para isso selecionei algumas fotos e fatos.
Esta foto ilustra parte da tragédia Síria. Os conflitos naquele país começaram em 2011. Em 28 de junho de 2022, o Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas (OHCHR) declarou que pelo menos 306.887 civis foram mortos na Síria durante o conflito entre março de 2011 e março de 2021, representando cerca de 1,5% de sua população pré-guerra. Este número não incluiu mortes indiretas e não civis. E o número de refugiados é de 6,2 milhões de sírios que fugiram de seu país devido ao conflito. Sem falar do 7,2 milhões deslocados dentro do país.
Esta outra foto chocante vem da Etiópia, quando em 2020 o governo etíope lançou uma ofensiva militar contra um governo regional rebelde. O conflito resultante matou centenas de pessoas, a maioria civil, e mais de 50.000 etíopes cruzaram a fronteira noroeste do país para o Sudão.
Mas por falar em genocídio, termo que os antissemitas adoram associar a Israel, vai aqui outra foto, que trata de outro conflito que merece toda a sua indignação.
Entre 2015 e 2023 militares turcos ocuparam porções significativas do Curdistão no Iraque. Empregando uma combinação de forças terrestres e aéreas, as operações da Turquia resultaram na morte de 104 civis e 172 feridos.
Vamos lá, você poderá agora escrever um artigo condenando todos esses massacres. Topa? Infelizmente Israel nada tem a ver com eles…
O fato é que onde há conflito, justo ou não, os civis e suas propriedades são considerados “dano colateral” e sempre pagam o pato sem necessariamente ter nada a ver com a coisa.
Em 1999, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha estimou que entre 30 e 65% das vítimas de conflitos são civis. Os dados do Programa de Dados de Conflito de Uppsala (UCDP) de 2002 são que 30–60% das fatalidades dos conflitos são civis.
Quanto aos palestinos terem que voltar a Gaza destruída é porque não tem mesmo para onde ir. Os países árabes vizinhos de Gaza não querem eles vivendo em suas terras. Em outubro de 2023, muitos palestinos tentaram encontrar refúgio nesses países, mas deram de cara com a porta fechada. O Egito e a Jordânia não os acolheu.
Você, do bem bom do Brasil, morre de pena pelos refugiados palestinos e aponta dedos e culpas, mas o resto dos países árabes não quer efetivamente saber deles.
Em 1948, o primeiro grupo de palestinos fugiu de suas aldeias, acreditando na promessa dos líderes árabes da Jordania, Egito e Síria, que afirmaram que eles poderiam deixar suas casas, pois assim que “esmagasse” os judeus, eles poderiam voltar. Infelizmente isso não aconteceu.
Em 1975, visitei a cidade de Nablus na Cisjordânia. Um guia do nosso Kibutz nos levou a conhecer o prefeito da cidade. Na saída, vimos o prefeito passear no seu belo Mercedes Benz do ano. Fomos em seguida conhecer o campo de refugiados na cidade. Todos eles havia deixado Israel em 1948. Pois em 1975 ainda estavam morando nessa favela, muito pior do que qualquer uma do Rio. Perguntei e ninguém soube me explicar porque depois de 27 anos, os palestinos de Nablus ainda não haviam ajudado seus irmãos e viver em melhores condições. Enquanto Israel recebeu todos os judeus que vieram dos 4 cantos do mundo, dando-lhes todas as possibilidades de vida melhor. A caridade fraternal não começa em casa?
Quanto a questão de apontar dedos acusatórios aos Israelenses, gostaria de lembrar que em 1870, quando o Brasil foi um dos vencedores da Guerra do Paraguai, deixou esse país em frangalhos sem dó nem pena. As estimativas calculam que na Guerra do Paraguai morreram entre 100.000 e 150.000 paraguaios, entre combates, epidemias e fome. O território paraguaio foi amplamente destruído, e a infraestrutura e o comércio seriamente danificados. A população do Paraguai, que era de cerca de 500.000 antes do conflito, foi reduzida em mais da metade após a guerra.
Como disse, guerra é guerra. E meu bom pai, que não tinha uma célula beligerante em seu corpo judaico sempre me disse: se você tem telhado de vidro, não taque pedra no do vizinho.
Para terminar, vai também uma foto do campo de futebol onde 12 crianças foram mortas por foguetes do Hezbollah no dia 28 de julho de 2024. Eram crianças drusas.
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WLADIMIR WELTMAN – é jornalista, roteirista de cinema e TV e diretor de TV. Cobre Hollywood, de onde informa tudo para o Chumbo Gordo.
_________________________(DIRETO DE LOS ANGELES)
Wladimir, muito bem-vindo seu texto. E acho que nem é preciso comparar a tragédia que se desenrola em Gaza com outros conflitos que a História registra. Centenas – alguns dizem milhares – de palestinos – civis e ligados ao Hamas – invadiram o territórioi israelense, trucidaram quem viram pela frente – sem distinção de nacionalidade, sexo nem de idade. Roubaram, puseram fogo nas casas,;as histórias são tantas, e tão terríveis, que é até um desrespeito às vítimas falar sobre os métodos empregados nesse extermínio de 1200 israelenses. Tudo foi feito pelo Hamas para provocar uma resposta incisiva da parte de Iarael. E foi o que aconteceu. Não que os comandantes corressem muitos riscos, pois se escondiam nos túnem escolas, residências, mesquitas, hospitais. O povo, ao contrário, sofre todas as consequências das ações de quem os dirige com mão de ferro. Eu gostaria que o cessar-fogo se tornasse definitivo para que as famílias dos dois lados pudessem tentar refazer suas vidas. Culpar srael pelo que está acontecendo é um ato de miopia histórica e grande insensibilidade humana.
Desculpem me intrometer num assunto que não domino totalmente, mas me sinto desafiada a introduzir novas variáveis nessa discussão. Claro que toda guerra implica muitas mortes de civis, principalmente de mulheres, crianças e idosos que ou estão abrigados em edifícios residenciais sem proteção extra ou circulando pelas ruas, realizando atividades habituais – como ir às compras, à escola, posto de saúde, etc. Mas é fundamental lembrar também que guerras, seja por qual motivo aconteçam, são sinalizadores de retrocesso civilizatório, de falência da capacidade humana de empatia, diálogo e negociação.
Concordo que guerras não são filmes de ação, principalmente no que se refere ao fato de que em nenhuma delas há oposição entre os “bad guys” e os “good guys”, como Hollywood não se cansa de fazer. Mesmo no caso de invasões de países por potências estrangeiras expansionistas, o direito de defesa dos injustamente agredidos precisa obedecer a certos limites morais e éticos.
E, acompanhando as estatísticas sobre a legítima defesa de Israel, um dado alarmante se destaca: a enorme desproporção entre o número de vítimas israelenses e palestinas, quase 45 contra 1. E, pior: muitos civis palestinos morreram não por explosão de bombas, balas ou drones, mas por falta de acesso a comida, água e cuidados de saúde, já que os caminhões com ajuda humanitária foram (e continuam sendo) impedidos de entrar em Gaza.
Sei que o Hamas é useiro e vezeiro em usar a população civil como escudo, mas na minha cabeça é difícil/quase impossível justificar o bombardeamento de hospitais, escolas, mesquitas e campos de refugiados. Não ignoro em momento nenhum a extrema violência e a barbárie imprimidas não só pelo Hamas, mas também pelo Hezbollah e outros grupos terroristas do entorno de Israel, à comunidade israelense, que levam Netanyahu a adotar medidas igualmente extremas de proteção. Para mim, Netanyahu não é sinônimo de israelense e muito menos de judeu. Sei que o movimento antissemita ganhou muito fôlego nos últimos anos, mas sinto que é urgente aprender a separar as críticas feitas a ele e às forças militares de defesa de Israel das nojentas associações negativas com o judaísmo. Da mesma forma, considero urgente compreender que o Hamas não é representativo de toda a população civil de Gaza. Me parece que a grande maioria simplesmente não tem a quem recorrer para se livrar do jugo perverso dessa organização terrorista.
Por todo o exposto acima, não entendo como é possível deixar de estender solidariedade às famílias palestinas destroçadas, como me parece que foi a intenção de Charles Mady no seu artigo. Honestamente, também eu não sei como diferenciar, do ponto de vista psicológico e social, a dor de uma mãe palestina que perde seus filhos e parentes da dor de uma mãe israelense que sofre as mesmas perdas. Há ódios ancestrais envolvidos nos dois lados desse conflito sangrento e, por isso, sei que não há nenhum argumento racional que possa ser usado para se posicionar a favor ou contra um lado ou outro.