
Parecidos, semelhantes, iguais. Por Paulo Renato Coelho Netto
Somos parecidos, semelhantes, iguais. Não sou em nada melhor que ele, nem ele me supera na essência.
Minha dor, ao me despedir do filho que viaja, é a mesma que a de um pai no interior da Indonésia.
Um pai que não conheço, falando um idioma que não entendo, abraçando o filho que nunca vi, seguindo o caminho que é dele mesmo.
Nada disso importa.
A minha saudade é a mesma que a deste pai, que volta para casa com o coração nas mãos.
Talvez ele seja um plantador de arroz, ou um laureado cientista, um homem contido que guarda em silêncio suas emoções para si mesmo.
Somos parecidos, semelhantes, iguais.
Não sou em nada melhor que ele, nem ele me supera na essência.
Temos ofícios diferentes.
Ele se cala. Eu declaro.
Recorremos ao paracetamol no silêncio da madrugada pelos mesmos motivos. No mínimo, queremos o melhor para os filhos.
Se nos olharmos frente a frente vamos nos entender porque somos parecidos, semelhantes, iguais.
O colono que cultiva maçãs compreende a macieira como o astrônomo as estrelas.
O pescador que fisga o pão em alto mar, o boia-fria, a faxineira que se comprime no ônibus para chegar ao trabalho. O neurocirurgião, o equilibrista, a prostituta na calçada às quatro horas da manhã.
Judeus, alemães e palestinos. Congoleses, portugueses, mexicanos, chineses, nepaleses, japoneses, chilenos, russos e ucranianos.
Yanomamis, poloneses, franceses, americanos, noruegueses. Polacos, negros retintos, asiáticos, pigmeus.
Ateus ou ortodoxos. Extremista do Boko Haram ou monge tibetano.
Na essência, iguais.
O astronauta que diz que a Terra é azul, o mergulhador na Grande Barreira de Corais. Ambos solitários seres humanos parecidos, semelhantes e iguais — com perspectivas encantadoramente desiguais.
Ganhei lupa na maternidade.
Agimos e sentimos iguais diante da decepção, do desprezo, da ignorância, da violência, do imponderável, do que não podemos controlar, da solidariedade, do amor, do silêncio.
Guardamos a mil chaves cada defeito devidamente identificado.
Você se vê no que escrevo, porque eu escrevo sobre o que li em você, que estava aqui e eu não sabia, porque somos parecidos, semelhantes, iguais.
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Paulo Renato Coelho Netto – é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.
É, Paulo Renato, obrigado por se dirigir a mim também: Sim, somos iguais.