
Hino de resistência à opressão tecnológica. Por Meraldo Zisman
Hino de resistência…existe um refúgio onde somos livres: a loucura. Não, a que nos aliena do mundo, mas a que nos reconcilia com nossa essência. É na loucura que encontramos espaço para sermos falhos, para errar, para sentir sem amarras.
Há instantes em que o silêncio não é só a falta de ruído, mas um clamor contido da alma. Estamos envoltos por telas que acenam com promessas de conexão, mas nos entregam isolamento. A tecnologia, com seu discurso de liberdade, transformou-se em uma jaula sutil, onde cada alerta é uma corrente disfarçada de ouro.
Desconectar o celular deveria ser um gesto de emancipação, mas virou um salto no vazio da ausência. Sem notificações, percebemos o quanto nos tornamos reféns de impulsos artificiais para nos sentirmos vivos. A vida interior, outrora repleta de reflexões e pausas, foi sequestrada por algoritmos que moldam nossos anseios e ideias.
Ainda assim, existe um refúgio onde somos livres: a loucura. Não, a que nos aliena do mundo, mas a que nos reconcilia com nossa essência. É na loucura que encontramos espaço para sermos falhos, para errar, para sentir sem amarras. Nela, há o poder de sorrir sem causa, de chorar sem motivo, de amar sem regras.
A loucura é o último bastião de nossa humanidade. É o território da autenticidade, onde o espontâneo é celebrado e o silêncio fala alto. É na loucura que reunimos forças para silenciar as máquinas e escutar o coração. Em uma era de domínio tecnológico, a loucura é rebelião. É a negação de sermos reduzidos a números em tabelas, perfis digitais ou peças de uma engrenagem sem vida. É o brado mudo que nos lembra que somos mais que dados: somos emoções, memórias, poesia.
Que possamos, pois, acolher nossa loucura.
Que nela encontremos o abrigo para sermos plenos, para sermos humanos. Porque é na loucura que pulsa a verdadeira liberdade de existir.
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos maiores e pioneiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.
Relançou – “Nordeste Pigmeu”. Pela Amazon: paradoxum.org/nordestepigmeu