
De caudilho em caudilho. Por Paulo Renato Coelho Netto
Para o caudilho, é ele no céu e na Terra. O caudilho pode até viver na democracia, mas a democracia não vive nele.

Caudilho, para os jovens leitores — pega a visão, Yann! — , é a maneira que se chama o líder político personalista e autoritário.
É o menino mimado, dono do campinho, das camisetas, das chuteiras, do sítio e do churrasco que chama os amiguinhos para jogar bola.
Antes da partida, será ele quem vai ditar as regras, escolher os melhores para o seu lado e determinar o tempo do jogo. No time dele vale tudo: gol impedido ou feito com as mãos.
Para os adversários, as normas. Aos inimigos, a lei.
Para o caudilho, é ele no céu e na Terra.
O caudilho pode até viver na democracia, mas a democracia não vive nele.
Ele usa o sistema democrático como o narciso o espelho para se admirar.
É apaixonado por si próprio, adora ouvir a própria voz e é acometido de profunda certeza de ser o dono da verdade.
Uma das características universais do caudilho é o Quociente de Inteligência (QI) abaixo da média e o grau sofrível de escolaridade e cultura.
Na vida profissional, o caudilho se destaca por não ter se destacado em nada. O auxiliar do auxiliar do auxiliar; o subalterno, a mosca do cocô do cavalo do bandido.
Sua distorcida visão admite se apropriar de bens públicos, como dinheiro, joias e instituições como o Judiciário, o Legislativo e as Forças Armadas.
O caudilho acredita ter soluções geniais para todos os problemas da sociedade que tem o privilégio de tê-lo, segundo ele mesmo imagina.
Caudilho não faz sucessor. Aniquila sucessores, politicamente ou no paredão.
Qualquer assessor, ministro ou companheiro que demonstre a menor capacidade de sucedê-lo será podado no ninho.
Caudilho bem sucedido envelhece, apodrece e morre agarrado ao poder.
Após a invasão dos portugueses e espanhóis, a América Latina tornou-se um celeiro de caudilhos.
Pensávamos, até então, que caudilhos eram espécies que brotavam no Terceiro Mundo, da roça sem energia elétrica, telhados de casca de árvores e bois puxando arado.
No topo do poder da (ainda) maior economia do mundo, um caudilho surpreende diariamente a civilização com seus desejos imperiais.
Um idiota perfeito que representa a maioria da população que se perdeu no consumismo sem fim.
Caudilhos são estereótipos nocivos que devem ser estudados, discutidos e superados.
Para o bem da evolução humana, a única utilidade dessa gente é servir como parâmetro de tudo que não deve ser feito.
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Paulo Renato Coelho Netto – é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.