
Censura e antissemitismo em confusão. Por Adilson Roberto Gonçalves
Mantidas as devidas proporções e contextualizações, tornar toda crítica ao Estado de Israel um crime de antissemitismo seria o equivalente a incluir no crime de racismo toda e qualquer crítica ou punições a pessoas negras…
Com a retomada da discussão acerca das formas de regulação (ou controle, como os contrários a rotulam) das mídias sociais e das plataformas digitais, volta-se ao tema da censura. Censura seria qualquer forma de controle? Surgem providenciais confusões e conveniências em relação à censura, à regulação de espaços virtuais e – para introduzir tema que também voltou à baila – ao antissemitismo.
Em artigo recente para o Estadão, Henrique Zétola, diretor executivo do Instituto Sivis (um think tank sediado em Curitiba), defendeu que há uma “censura disfarçada na era da inteligência artificial”, de quem respeito os argumentos. Mas qual seria a alternativa? A mentira deslavada e desregulada venceu a eleição para presidente em 2018 e, por pouco, não repetiu o feito em 2022. A articulação do golpe de Estado passou também pelo uso das plataformas digitais na disseminação de falsas narrativas, deturpação da história e criação de inimigos inexistentes, usando ou não a inteligência artificial. A autorregulação parece ser ficcional e o discurso de que tudo é censura não difere muito daquele surgido um século atrás no seio da Europa em defesa do espaço vital. Deu no que deu.
E esse controle é seletivo. Por exemplo, para os jornalões não é censura deixar de publicar críticas ao estado de Israel. Aliás, vários detentores desses veículos dizem que qualquer crítica não pode ser publicada por configurar crime de antissemitismo. Na verdade, o que se critica é o sionismo daquele estado, que coloca os princípios de um povo (e não o povo) acima do bem e do mal, podendo praticar todo e qualquer ato que seja por eles entendido como de defesa.
Em outro jornal – Folha de S. Paulo – Cláudio Assaf Bastos e Tiago Guilherme Faria publicaram um artigo importante (O cavalo de Troia sionista), com uma consideração fundamental na distinção entre antissemitismo e antisionismo, além de denunciar a defesa de um país como se estivesse defendendo um grupo ou uma história. Mantidas as devidas proporções e contextualizações, tornar toda crítica ao Estado de Israel um crime de antissemitismo seria o equivalente a incluir no crime de racismo toda e qualquer crítica ou punições a pessoas negras. No Brasil, a equivalência de antissemitismo ou apologia ao nazismo ao crime de racismo creio ser adequada e suficiente.
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– Adilson Roberto Gonçalves – pesquisador da Universidade Estadual Paulista, Unesp, membro de várias instituições culturais do interior paulista. Vive em Campinas.
“Mantidas as devidas proporções e contextualizações, tornar toda crítica ao Estado de Israel um crime de antissemitismo seria o equivalente a incluir no crime de racismo toda e qualquer crítica ou punições a pessoas negras. No Brasil, a equivalência de antissemitismo ou apologia ao nazismo ao crime de racismo creio ser adequada e suficiente.”
Em primeiro lugar hoje toda e qualquer crítica a pessoas negras é sim considerada racista. Recentemente a ministra Marina da Silva apelou para isso. Outro exemplo, também bem recente foi a prisão do MC Poze.
Isto dito, nem toda toda crítica ao Estado de Israel é antissemitismo, mas criticar Israel por fazer algo e NÃO criticar outros países por fazerem a mesma coisa ou até pior, é sim
Por exemplo: Israel atacou Gaza APÓS ter sido invadido e ter seus cidadãos assassinados, torturados, estuprados…. a Rússia invadiu a Ucrânia para tomar seu território. Pois bem, quantas manifestações fizeram em Universidades americanas contra a Rússia? E aqui no Brasil?