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Jornal suíço deixa papel para ser só digital. Por Rui Martins

… o jornal Le Temps, editado em Genebra, dá grande destaque na página de Economia e Finanças à decisão da empresa proprietária do jornal “20 Minutes” de renunciar à sua edição diária em papel, mantendo a partir de setembro só a edição online…

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Não é novidade, é uma tendência englobando toda imprensa escrita, mas a notícia tem espaço garantido nos jornais suíços, porque se trata de uma primeira transição importante do papel ao online no mundo do jornalismo suíço.

Assim, o jornal Le Temps, editado em Genebra, dá grande destaque na página de Economia e Finanças à decisão da empresa proprietária do jornal “20 Minutes” de renunciar à sua edição diária em papel, mantendo a partir de setembro só a edição online.

Embora se trate de um jornal de grandes tiragens e trilíngues, tem a particularidade de ser gratuito e ter o formato de um tabloide, colocado à disposição do público nas galerias, supermercados e nos pontos centrais de transporte coletivo. Pode também ser lido gratuitamente no celular ou no computador.

A quase totalidade dos jornais já podem ser lidos também online, com a vantagem de alguns permitirem aos seus assinantes o acesso à atualização dos textos já publicados e o acesso aos noticiários preparados para a próxima publicação em papel, porém já se constatou por pesquisas juntos aos leitores haver um grande número de analfabetos numéricos.

Cerca de 25% das pessoas confessam ter dificuldade para acessar no celular ou no computador os noticiários do dia. Esse percentual é bem maior, por volta de 45% ou quase o dobro, entre as pessoas com mais de 75 anos, acostumadas ao contato do papel e incapazes ou simplesmente desinteressadas em procurar numa tela online as informações diárias. Nisso a Suíça está em atraso com relação aos países nórdicos.

O jornal “20 minutes“, cujo título sintetiza o tempo necessário para ser lido, mostrava a vontade dos editores, o grupo TX, de propor, em 1999, um jornal de leitura rápida e acessível, para ser lido no trajeto de casa ao trabalho ou numa pausa. Editado nos três idiomas suíços, alemão, francês e italiano, tem até setembro, quando deixará de ser impresso, uma tiragem total de 500 mil exemplares. Paralelamente, o número de seus leitores online é calculado em 3 milhões.

A queda das rendas proporcionadas pelos anúncios publicitários vinha se acentuando nos últimos três anos, comprometendo o custo do papel, impressão e pessoal gráfico. Com a supressão dessas despesas haverá também a centralização de três redações com uma centena de demissões, incluindo-se jornalistas a tempo integral e colaboradores.

Num futuro próximo, essa opção pela versão online para esse tabloide suíço acabará sendo adotada por muitos jornais, com o envelhecimento de seus leitores tradicionais, mesmo porque a tendência dos jovens leitores será a de utilizar a versão digital, além de ser a mais ecológica, respeitadora do meio ambiente: sem o uso do papel muitas árvores deixarão de ser sacrificadas.

O pesquisador Linards Udris, da Universidade de Zurique, afirma não ser grave o fim do 20 Minutes em papel. “Depois de uma pesquisa  na Suíça alemã entre leitores do jornal, apenas 11% declararam ler 20 Minutes em papel. Os demais já se habituaram a ler online”.

De acordo com o pesquisador, 20 Minutes é um jornal popular sobre as atualidades, lido por um público apressado e não exigente, numa média diária de 3 milhões de leitores, na sua versão digital.


Algumas referências:

https://www.letemps.ch/economie/fin-de-l-edition-papier-de-20-minutes-le-nouveau-coup-de-canif-de-tx-group-dans-la-presse-suisse

https://www.tdg.ch/20-minutes-abandon-de-ledition-papier-fin-2025-en-suisse-939279376681

https://www.letemps.ch/cyber/en-suisse-l-illettrisme-numerique-fait-des-ravages-un-tiers-de-la-population-est-largue


  • Rui Martins também está em versão sonora no Youtube, em seu canal –

https://www.youtube.com/@rpertins

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Rui Martins – Direto da Suiça – é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

 

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