No Clube das Elites. Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

No Clube das Elites

Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

… Salão que será o cenário principal do filme ‘O Impeachment’, breve nos cinemas. Talvez por isso os sócios se esmeraram em atitudes marcantes: ninguém quer aparecer como coadjuvante, todos querem figurar como atores principais, mocinhos ou bandidos.

Publicado originalmente no Blog de Ricardo Noblat,2 de setembro  de 2016

As elites formam o grupo minoritário de pessoas que, numa sociedade, ocupa um lugar de relevo devido a certos atributos muito valorizados, quando não invejados.

Seu peso, em todas as sociedades, é imenso. Os passos que dá podem mudar os destinos de um país, conforme vimos nos últimos dias nas reuniões realizadas no Clube das Elites de Brasília, o Senado Federal.

É um clube curioso: em suas reuniões podemos encontrar sócios permanentes, sócios atletas, sócios temporários e às vezes até alguns penetras.

Quando se reúne todo o corpo societário, o que é muito raro, naturalmente o ambiente fica mais nervoso ou mais festivo. Em sua última reunião, nos dias 30 e 31 do inacreditável mês de agosto, o salão do clube ficou agitado e dividido entre a alegria e o nervosismo.

Salão que será o cenário principal do filme ‘O Impeachment’, breve nos cinemas. Talvez por isso os sócios se esmeraram em atitudes marcantes: ninguém quer aparecer como coadjuvante, todos querem figurar como atores principais, mocinhos ou bandidos. Lembrando que em muitos filmes o bandido tem mais apelo que o mocinho…

Minha intenção aqui é colaborar com o roteirista do filme e destacar algumas das atuações que, creio eu, merecem escapar da lata de lixo da sala de montagem.

casablanca…O que ainda não sabemos é em que categoria entrará o filme. Comédia, terror, ou drama romântico? Logo saberemos, precisamos só de um pouco mais de paciência.

Vamos lá:

* Lindbergh Farias, querendo sobressair, resolveu pisar um terreno que não lhe é familiar, o da História do Brasil. Em seu último pronunciamento do dia 31 quis comparar o “Canalha! Canalha! Canalha!” do bravo Tancredo Neves quando foi deposto João Goulart.  Evidentemente, pagou um belo de um mico, já que foram momentos absolutamente distintos.

* Janaína Paschoal, a quem devemos a base sólida para o impeachment que nos livrou de um governo muito danoso ao país, teve seu momento infeliz: chorar porque seu brilhante trabalho estava ajudando a destituir uma presidente mulher, francamente, foi um passo em falso. O que tem o gênero da presidente a ver com os motivos para cassar seu mandato? A não ser que ela concorde com Dilma que esse processo foi misógino, homofóbico e racista! Misoginia? Homofobia? Racismo? De quem Dilma falava?

* Renan Calheiros sacudindo um exemplar da Constituição como um salvo-conduto para seus correligionários fatiarem o Artigo 52 do livrinho! Foi o que fizeram esquecendo-se, propositadamente, que a preposição COM não deixa margem a dúvidas no parágrafo único do dito artigo. Não se trata de ‘e/ou’ perda de mandato e direitos políticos, mas sim de ‘com’. O presidente do clube disse que não queria ser mau, nem desumano e que não seguiria um dito comum nas Alagoas: “Depois da queda, o coice”. O que será que passou pela cabeça de Fernando Collor ao ouvir confirmado aquilo que sofrera em 1992, o coice que levou depois da queda? Mas Collor, que de bobo não tem nada, sabe muito bem que o fatiamento foi inventado para que os sócios do clube não percam o direito ao foro privilegiado.

* Vanessa Grazziotin… O que foi mesmo que ela disse? Desculpem, não consigo me lembrar. Mas como o filme tem que ter uma estrela, sob pena de ser considerado machista… cito a amazonense.

* Ricardo Lewandowski passou o julgamento batendo na tecla de que não estava ali como juiz. Mas, na Hora H, esqueceu seu papel e decidiu, sem os votos do plenário, pelo fatiamento do Parágrafo Único do Artigo 52.

O que ainda não sabemos é em que categoria entrará o filme. Comédia, terror, ou drama romântico? Logo saberemos, precisamos só de um pouco mais de paciência.

Termino sugerindo outro título. Em vez de ‘O Impeachment’, meio ultrapassado, que tal  ‘As Elites Em Todo Seu Esplendor’?

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Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa* Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.
https://www.facebook.com/mhrrs e @mariahrrdesousa

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