O diabo ri por último. Por Josué Machado

O DIABO RI POR ÚLTIMO

Por Josué Machado

Cunha parte sem deixar saudades, mas Renan continua, incansável, sua obra de construção do mal…

No pemedebê — a principal das 35 quadrilh, isto é, legendas em ação no país –, havia até dia 12 de setembro dois entes particularmente diabólicos dominantes: José Renan Vasconcelos Calheiros e Eduardo Cosentino Cunha.

Há muitos outros, claro, mas Vasconcelos e Cosentino representam maravilhosamente o mal na política brasileira e talvez mundial porque manobram/manobraram tudo ao redor, desde as “Casas” que controlam/controlaram até muitos quilômetros ao redor com os raios maléficos que emitem ininterruptamente, contaminando Executivo e Judiciário.

(O passado em “controlaram/manobraram” se refere apenas a Cosentino, agora afastado de fato e de direito.)

Aki, fala-se em contaminação, não que Executivo e Judiciário já não contenham sua própria dose de natural malignidade proveniente da natureza da política nacional.

Cosentino e Vasconcelos conhecem como ninguém as tais “Casas”, seus regimentos, corredores e tocas, assim como os ratos internos e externos que as frequentam.

Mas há uma diferença entre esses dois índices de malignidade:

Cosetino Cunha, já rifado, sempre foi marcado  pela falta de humor aparente e inerente; demônio cadente, vivia, agora mais do nunca, de cara inexpressiva e séria, como se viu em sua sessão de despedida na Câmara, os olhos muito juntos emitindo raios de ódio amedrontadores sob os óculos a meio do nariz; em vez de sorrisos, contrações labiais com vagas crispações de cólera contida, às vezes enviadas na direção dos que têm razão para temê-lo.

E muito a têm (sim, têm-na, diria Temer), porque em cana, se for pressionado por Sérgio Moro, tendo a família exemplar ameaçada, preferirá desfilar lembranças embaraçosas para algumas dezenas de figurões a enfrentar dezenas de anos de prisão por contas que NÃO TÊM na Suíça e desvios que NÃO FEZ de gordas bufunfas de estatais.

Agora que deixou de funcionar para efeitos operacionais, todos esperam pelas consequências de sua queda oficial. Alguns, trêmulos à espera do que tem a revelar o demo cadente de olhos próximos.

Vasconcelos, no entanto, o Renan, amacia tudo ao redor, o eterno meio sorriso a derreter vontades, temperando palavras estudadas, em geral de sentido dúbio, num eterno lambe-suga-mordisca-chupa-lambe. E depois lambe, e depois chupa, e depois mordisca, mas com doçura.

Foi sempre assim, todo sorrisos, desde os governos do amigão Collor, de Fernandenrique (de quem foi ministro da Justiça!!!), de Luizinácio e de Dilma (que não lhe entendeu o sorriso).

Sorri também para os ministros do STF, principalmente os mais suscetíveis, certo de que os onze inquéritos contra ele por lá podem esperar mais algum  tempo, um bom tempo.

De todo modo, ajudou a convencer Levandowski (como se fosse preciso…) e seus pares e fatiar a pena de Dilma, porque assim se abre para ele próprio, Vasconcelos, a remota possibilidade de que venha a precisar da mesma criativa leitura da Constituição. Isso para o remoto caso de vir a ser julgado pelo Senado, como em 2007, quando se livrou sorrindo. Sempre sorrindo.

Mas ameaças a ele só para daqui a muitos anos, quando já tiver feito mais alguns implantes capilares com o especialista do Recife, que foi visitar em avião da FAB mais de uma vez.

(Denunciado, chiou, mas pagou parte das despesas com o transporte ilegal – coisa mínima diante do rol que brilha em seu nome no STF).

Tudo isso é o de menos. O de mais está sempre por vir.

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JOSUE 2Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.

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