Ele transformou as vaias de 160 mil em aplausos de 160 mil. Coluna Mário Marinho

Ele transformou as vaias de 160 mil em aplausos de 160 mil

COLUNA MÁRIO MARINHO

Na tarde de quarta-feira, 13 de maio de 1959, cerca de 160 mil torcedores tomaram conta do Maracanã para assistir a Brasil x Inglaterra, um jogo amistoso.

Quando os alto falantes do então “Maior do Mundo” anunciaram a escalação da Seleção Brasileira com Julinho Botelho no lugar de Garrincha, ouviu-se a maior vaia já consagrada a um jogador no Maracanã.

Mas Julinho Botelho, então ponta-direita do Palmeiras, não se deixou abater e, aos 5 minutos de jogo, marcou o seu gol: Brasil 1 x 0 Inglaterra.

As vaias estrepitosas deram lugar a aplausos ainda que não tão sonoros quanto as vaias.

Mas, na continuação do jogo, os aplausos foram crescendo assim como foi crescendo o futebol de Julinho.

O ponta-direita fez exibição primorosa e ainda deu passe para Henrique fazer 2 a 0, placar final da vitória brasileira.

Aí, sim, o Maracanã transformou as vaias em aplausos estrepitosos.

Aplauso barulhento, ostentoso, aparatoso, imenso como se quisesse com tanto barulho abafar e fazer esquecer as vaias do começo do jogo. Um rumoroso pedido de desculpas.

Julinho Botelho nasceu em São Paulo, no dia 29 de julho de 1929.

Sua primeira tentativa no futebol foi no Corinthians, onde acabou recusado.

Julinho Botelho

Fez nova tentativa no Juventus, do bairro da Mooca, isso em 1948. Pouco tempo depois, foi contratado pela Portuguesa de Desportos.

A estreia foi com derrota (5 a 2 para o Flamengo, no Maracanã). Porém, uma semana depois, marcou seus dois primeiros gols na Lusa, na vitória sobre o América-RJ, 4 a 2.

Uma de suas atuações espetaculares com a Portuguesa foi a vitória por 7 a 3 contra o Corinthians, em 1951, quando marcou quatro gols.

Foi convocado para a Copa do Mundo de 1954 e participou dos três jogos da Seleção, marcando na estreia contra o México.

Um ano depois, ídolo na Portuguesa, foi contratado pela Fiorentina, Itália, onde também se tornou ídolo.

Em sua primeira temporada, 1955-56, a Fiorentina conquistou, pela primeira vez, o título de campeã da Itália. Nos dois anos seguintes, foi vice-campeã.

Em 1958, já mostrava vontade de voltar ao Brasil. Porém, uma grandiosa proposta de renovação fez com que ele permanecesse na Fiorentina.

Mas, naquele ano, foi apelidado pela imprensa italiana de “Singnore Tristezza”. Já não era mais sorridente: parecia arrependido de ter se deixado levar pelo dinheiro e não pelo coração.

Terminado o contrato de um ano, retornou ao Brasil, para o Palmeiras. Fez parte da “Primeira Academia” e no mesmo ano de 1959 ganhou o super campeonato paulista em cima do Santos do jovem Pelé.

Julinho também fez parte do time histórico do Palmeiras que venceu o Uruguai nos festejos de inauguração do Mineirão, em 1965.

No jogo das vaias que se transformaram em aplausos, o time do Brasil foi este:

Gilmar (Corinthians); Djalma Santos (Portuguesa-SP), Bellini (Vasco), Orlando (Vasco) e Décio Esteves (Bangu-RJ); Dino (São Paulo) e Didi (Botafogo); Julinho (Palmeiras), Henrique (Flamengo), Pelé (Santos) e Canhoteiro (São Paulo).

Julinho foi o segundo maior ponta direita do futebol brasileiro, perdendo apenas para o incomparável Garrincha.

Eram estilos diferentes. Garrincha, chamado Alegria do Povo, driblava e ensandecia seus adversários. Levava os torcedores, contra e favor, ao delírio. Era um show.

Julinho era a velocidade, a eficiência. Driblava em direção ao gol e dificilmente era parado.

Mas, ao final, a jogada dos dois tinha o mesmo alvo, a mesma direção: o gol adversário.

Morreu no dia 10 de janeiro de 2003. Na semana passada, completaram-se os 14 anos de sua morte.

FOTO ABERTURA - 
Jogo histórico no Maracanã: Julinho, Didi, Henrique, Pelé e Canhoteiro.

__________________________________________

FOTO SOFIA MARINHO

Mario Marinho É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em livros do setor esportivo

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter