É tudo verdade, mas deixa pra lá. Coluna Carlos Brickmann

É tudo verdade, mas deixa pra lá

COLUNA CARLOS BRICKMANN

EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 8 DE NOVEMBRO DE 2017

Imagine que uma quadrilha de narcotraficantes acuse outra de trabalhar secretamente para a Polícia. Haverá guerra: acusadores e acusados tentarão provar, a tiros de fuzil contrabandeado, que a outra quadrilha é mentirosa.

O ministro da Justiça acusou a PM do Rio de, entre seus comandantes, ter vários escolhidos por narcotraficantes. É acusação pesada, que envolve quem nomeia os comandantes, o Governo do Estado. Mas ninguém está preocupado em provar coisa nenhuma: o ministro da Justiça diz que tudo o que declarou sobre o Rio é “posição pessoal”. Desde quando ministro tem posição pessoal? Sua posição é a do Governo, é oficial – a menos que se admita que narcotraficantes sejam mais sérios que ministros e governantes.

Este colunista não tem a menor ideia sobre o que deve ser feito para que a população do Rio deixe de ser refém de quadrilhas. Mas sabe que, seja o que for, nada irá dar certo se os bandidos tiverem apoio da polícia e do Governo. E se, na Presidência da República, o objetivo for deixar tudo pra lá, em vez de combater políticos, policiais e governantes envolvidos com o crime, as coisas irão piorar cada vez mais, e não apenas no Rio.

Entre perder a vergonha para garantir sua permanência tranquila no Governo ou fazer o que deve ser feito para restabelecer a ordem no país, nossos governantes optaram por perder a vergonha. E não conseguirão assegurar sua permanência tranquila no Governo.

Deixa comigo…

O ministro da Justiça, Torquato Jardim, tem uma boa carreira jurídica. Foi secretário-geral do Tribunal Regional Eleitoral, assessor da chefia do Gabinete Civil da Presidência, consultor da Secretaria do Planejamento, ministro do Tribunal Superior Eleitoral por oito anos, é bem considerado como especialista em Direito Eleitoral. Não precisava ser ministro – e foi: no Governo Temer, foi ministro da Transparência. Assumiu o nome do cargo: ninguém o notou. Culminou com o vexame do Ministério da Justiça, em que fez uma denúncia grave e depois só faltou pedir desculpas pelo incômodo (a propósito, vários políticos fluminenses, como o ex-governador Garotinho, concordaram com as denúncias). Mas ninguém se importa com autoridades a serviço do crime organizado.

Publicamente desmoralizado, que faz o ministro? Nada: é como se não tivesse feito acusação alguma. Feliz com o carro oficial na porta, fica no cargo. E não faz diferença.

…tudo na boa

O mesmo apego ao cargo foi demonstrado pela inacreditável ministra da Igualdade Racial, Luislinda Valois. Depois de dizer que com 33 mil reais por mês, mais carro, mais mordomias, mais jatinho à disposição, mais moradia, é como se estivesse em trabalho escravo, cala-se e finge que não é com ela. Seu partido, o PSDB, também se cala: nem com a palavra de Fernando Henrique, de que é hora de sair do Governo, os tucanos descem do muro das mordomias. Um detalhe: se não saírem por bem, acabarão chutados. Mesmo que PT e PMDB não estivessem articulando uma aliança para 2018, os tucanos teriam problemas. O ministro Imbassahy, bom político, é detestado pelos aliados do Centrão; a ministra Luislinda Valois só não virou motivo de galhofa porque passou direto a motivo de raiva; o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, continua sendo o reserva de José Serra. Resta – tente lembrar, caro leitor! – Bruno Araújo, Cidades.

É um grupo com o qual ou sem o qual o Governo Temer seria tal e qual.

Mural

Um grande analista do Brasil, Millôr Fernandes, dizia que o mal do mar de lama era a praia pequena, que não dava para todos. Para o PSDB, é este o problema do muro: há mais tucano do que muro. Tasso Jereissati e Marconi Perillo querem a presidência do partido, hoje em mãos de Aécio (não, não pensem que ele renunciou: licenciou-se, mas sem largar o osso). E Geraldo Alckmin espera para ver se não sobra para ele. O candidato à Presidência deve ser Alckmin (isso se Dória desistir, e parar de lutar pela inviável hipótese de montar uma chapa só paulista, só tucana). Tasso quer sair do Governo, Fernando Henrique também, mas Dória quer ficar. O PSDB se aliaria a qualquer partido para 2018, menos o PT – isso porque o PT adora tê-lo como adversário. Mas o PSDB ainda está sem rumo.

Enfrentando o autismo

E chega de candidatos. Toquemos num tema importante: neste sábado, 11, às 11h, no Instituto Casa do Sol, a terapeuta Mari Aprile fala sobre terapia animal assistida para tratamento do autismo – no caso, com uma linda coruja Suindara, treinada desde filhotinha (em http://wp.me/p6GVg3-473, a emocionante história desta terapia para autistas). A terapia foi desenvolvida para seu filho Nick, e é aplicada numa escola especial para autistas. Rua Antônio de Macedo Soares, 409, Campo Belo, SP. Custo: R$ 25,00, mais um quilo de alimento não perecível. Vale comover-se.

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2 thoughts on “É tudo verdade, mas deixa pra lá. Coluna Carlos Brickmann

  1. “Enfrentando o autismo”
    Só falta os protetores dos animais ou o Ibama denunciarem sujeição da coruja a trabalho escravo… (o Brasil, além de cabeça pra baixo, está do lado do avesso!)

  2. NA MORAL, BIAL!
    .
    Sempre sazonal
    Sem general
    Com general
    Tudo igual
    .
    Paraíso do Processual
    Regado a bacanal
    Graças ao Tesouro Nacional
    .
    Alternância presidencial
    Que tal um global? (*)
    Um cara legal
    Para restaurador nacional?
    .
    Paradoxal Aldeia Global
    País sem igual
    Brasil, és surreal!
    .
    AHT
    08/11/2017
    .
    (*) Acróstico: “HUCK”
    .
    Homem de auditório,
    Um restaurador de latas velhas e,
    Candidato em 2018 a Presidente do Brasil?
    Kkkkk… (Surreal: Globo, não bastou o Collor?)

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