Peraltices do pequeno garoto ou Verdadeiro ou Falso? Por Josué Machado

PERALTICES DO PEQUENO GAROTO ou VERDADEIRO OU FALSO?

Por Josué Machado

… a comunicação garotenta foi verdadeira, embora ardilosa, capciosa, finória, maliciosa, manhosa; e o crime foi falso, inexistente, apócrifo, fantasioso, fictício, garotoso, ilusório, inautêntico, infundado inverídico, irreal, sonhado.

O ex-governador Antony Garotinho pode ser autuado por “comunicação falsa de crime”, delito previsto no Art. 340 do Código Penal. Esse é o nome que dão a coisas como a denúncia que ele fez de ter sido espancado na prisão durante a noite, fato negado com vigor pelos policiais, porque as câmaras do corredor não registraram nenhuma visita oculta ao Pequeno Garoto de muitas espertezas e desvios.
Mas por que esse delito é nominado de “COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME”? Por que esse nome cristalizado no Código Penal para a COMUNICAÇÃO VERDADEIRA que o Pequeno Garoto fez de CRIME APARENTEMENTE FALSO? O que foi falso? A comunicação ou o crime? Pelo jeito, o crime.
Enfim, para ser bem repetitivo, o Pequeno Garoto de fato comunicou, verdadeiramente comunicou, ter sido espancado com um porrete. Terá sido talvez com um porrete de algodão e alguma brandura e algum carinho, porque resultou apenas em pequenos dodóis no joelho e nos dedinhos do pé do Garoto Esperto.
Se ele de fato mentiu, conclui-se então que o melhor nome para a pequena safadeza garotosa e semelhantes seria algo como “COMUNICAÇÃO MALICIOSA DE FALSO CRIME” ou “COMUNICAÇÃO ARDILOSA DE CRIME INEXISTENTE”, já que crime, se houve, terá sido em sonho ou em algum delírio garotiniano. Ou não?
Essa aparente falta de lógica dos sábios advogados e redatores da lei parece ter resultado numa espécie de transferência semântica (de significado) de “crime” para “comunicação”. E eles defenderão a frase “Comunicação falsa de crime” como perfeita, utilizando  muitas tiradas latinas e os torneios jurídico-linguísticos de sempre.
São as mesmas artimanhas juridicosas usadas para defender grandes assaltantes do Tesouro (nossa bufunfa) à custa de milhardosos honorários de origem criminosa.
E quem se preocupa com isso? Assalto aos cofres públicos, delação premiada, gordos ganhos também para os advogados e liberdade poucos meses ou anos depois com os frutos dourados obtidos pelas mãos espertas, porque isso é pra quem pode.
Mas o que queria o Pequeno Garoto com a galhofa cacetosa da cela? Incriminar ainda mais o chefe do quadrilhão, Sérgio Cabral Filho, a quem delatou, mostrando as fotos da “Farra dos Guardanapos”, em Paris, e ficar bem longe dele, poderoso e perigoso mesmo na cadeia de Benfica que os abrigava.
De todo modo, a comunicação garotenta foi verdadeira, embora ardilosa, capciosa, finória, maliciosa, manhosa; e o crime foi falso, inexistente, apócrifo, fantasioso, fictício, garotoso, ilusório, inautêntico, infundado inverídico, irreal, sonhado.
Que importância tem isso para os nossos destinos?
Nenhuminha.

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JOSUE 2Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade

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