O Brasil que o Brasil largou. Coluna Carlos Brickmann

O BRASIL QUE O BRASIL LARGOU

COLUNA CARLOS BRICKMANN

EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 10 DE JANEIRO DE 2018
Há territórios, no Rio, em que a Polícia só entra com apoio das Forças Armadas. Há áreas, em São Paulo, em que o Governo garante que a Polícia entra, mas onde não entra, não. Em todo o país, há glebas ocupadas pelos movimentos dos sem-alguma-coisa, com reintegração de posse concedida pela Justiça, em que a Polícia não entra. E há o caso mais escandaloso, que agora ocorreu em Goiás: a presidente do Supremo Tribunal Federal, um dos três Poderes da República, tinha decidido visitar o presídio dos motins. Mas desistiu: segundo sua assessoria, “por questões de segurança”.
A ministra Carmen Lúcia, presidente do Supremo e do Conselho Nacional de Justiça, tem segurança, pode convocar a Polícia Federal, estava com o governador Marconi Perillo, que tem sob seu comando a Polícia Militar de Goiás. Há a guarda do presídio. E a ministra não pôde entrar. A 200 km da Capital Federal, onde fica o comando das Forças Armadas, o presídio não obedece às autoridades: é exercido por facções do crime organizado, que decidem entre si, pelas armas, quem manda naquela área que, como nos foi ensinado, e até agora acreditávamos, pertencia ao Brasil.
O governador Perillo garantiu que a ministra não conversou com ele a respeito da visita ao presídio; e, se quisesse ir, “teria absoluta segurança para fazer a visita”. Sua Excelência só esqueceu de combinar com a equipe da ministra, cuja versão é outra.
Em quem o caro leitor prefere acreditar?
 Quem pode, pode
Os poderes Executivo e Judiciário não conseguiram garantir o acesso da presidente do Supremo Tribunal Federal a uma prisão goiana onde quem manda é o crime organizado (qual facção? Isso está sendo decidido com muito sangue).
E o Poder Executivo acaba de descobrir que não tem poder nem para nomear ministros sem receber ordens de fora: o juiz federal Costa Couceiro, da 4ª Vara de Niterói, suspendeu a nomeação da ministra do Trabalho, Cristiane Brasil, obrigando o Governo a adiar a posse. Adiar ou desistir: o recurso foi rejeitado pela segunda instância. Mas Temer garantiu que vai até o Supremo para manter a nomeação. Tudo, menos largar o osso.
 A causa do bem
Por que insistir tanto em Cristiane Brasil, que não tem grande presença como deputada nem se notabilizou por vastos conhecimentos na área do Trabalho? Simples: Cristiana é filha do deputado Roberto Jefferson, chefão do PTB, que tem vinte votos na Câmara – votos que podem ser essenciais na votação da reforma da Previdência.
Como comentou um assíduo leitor desta coluna, Alex Solomon, a negociação sobre a reforma da Previdência segue conforme a rotina: “É pagar ou largar”.
 Dia D – ou quase D
Com manifestações ou sem elas, sejam favoráveis ou contrárias, e seja qual for o resultado do julgamento, o ex-presidente Lula não será preso no dia 24 de janeiro. De acordo com a assessoria de imprensa do TRF-4, onde deverá ser julgado o recurso de Lula contra a condenação em primeira instância, um condenado só pode ser preso depois de esgotados todos os recursos no segundo grau. Mesmo que nenhum juiz peça vista do processo, o que adiará a decisão até seu voto ser proferido, e Lula seja condenado por unanimidade, há a possibilidade de embargos de declaração, em que a defesa pede esclarecimentos sobre a sentença. Se houver prisão, só depois.
 Válvula de escape
A notícia é excelente para o PT, que inicialmente ameaçava promover manifestações em todo o país (alguns dirigentes do partido, incluindo José Dirceu, falavam até em revolta). Depois reduziu as manifestações a duas, uma em São Paulo, outra em Porto Alegre, e estava em dificuldades para assegurar que as duas tivessem público ao mesmo tempo. Transporte, comida e hospedagem, mais o cachezinho dos voluntários, exigem quantias que hoje as centrais sindicais têm dificuldades de levantar, sem o imposto sindical e com a dramática redução das bancadas e cargos públicos do PT.
 O incrível Huck
Luciano Huck, da Globo, apareceu no programa do Fausto Silva, como tantos astros da Globo. Se Huck será candidato, não se sabe. Ainda não é.
Hora H
O deputado Jair Bolsonaro, que até agora navegou tranquilo no mar sem candidatos das eleições presidenciais, está prestes a fazer uma descoberta: a de que não tem tempo de televisão, seja qual for o partido pelo qual decida sair. Nos blocos de 30 segundos, terá direito a algo como meio segundo. E nos blocos de 12m30s, terá pouco mais de 12 segundos. Dá para repetir, sincopadamente, por cinco vezes, a frase “Militar é bom, civil é ruim”.
 Desembarque
Não dá tempo nem para responder à reportagem sobre o crescimento de seu patrimônio. O parco horário de que disporá não é tão mau assim.

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1 thought on “O Brasil que o Brasil largou. Coluna Carlos Brickmann

  1. Notes about nothing, again.
    – Temer garantiu que vai até o Supremo para manter a nomeação de Cristiane Brasil. Até o Supremo! A razão de tanto esforço por parte do estadista: a tal Reforma. É preciso aprová-la, afinal, custe o que custar. Confesso que fico me perguntando, neste recanto de Circunstâncias & Conveniências chamado Brasil, por que razão um governo se desgasta tanto, se decompõe tanto, se suja tanto (ou seja, um governo Temer), em nome de algo que – imaginem! – realmente interessaria ao país. Exceção feita aos fanáticos da ideologia, antipetistas conhecidos e governistas incuráveis, ninguém sabe a resposta. A possibilidade de que nosso glorioso governo queira fazer algo de bom para a população que aqui padece, francamente, parece-me a menos plausível de todas. Tanto interesse assim, tanta obstinação assim, tanta boa vontade assim deve ter outra razão. Tem que ter, oras. Por aqui, tudo tem.
    – Pode ser apenas minha opinião – que, de resto, interessa apenas a mim mesma -, mas continuo achando que Lula continuará livre, leve & solto para disputar a eleição. E Gilmarzão vai ajudar, com sua imensa disposição de rever o voto sobre prisão já na segunda instância. Do jeito que as tragédias avançam rápido por aqui, Lula ainda emplaca o segundo turno com boas chances de vencer algum adversário-de-si-próprio, como um desses peessedebistas que vivem se atracando contra seus parceiros de agremiação – ou seus comparsas, como parece mais apropriado. Enfim, é inacreditável, mas o bronco continua longe da cana. Vai ser preso, assim como Maluf, quando a cadeia já não fizer a menos diferença pra ninguém – daqui a uns 20 anos.
    – Sobre Huck: na hora do voto, não emplaca. Se ele emplacar, o governo não emplaca. Se o governo emplacar, o país é que não emplaca, nunca mais. Hucklância. Já somos piada em Portugal. Seremos no resto do mundo.
    – Bolsonaro e seu lema. Não precisará de muito mais que isso: “Comigo é ruim, tá certo, mas com o resto não é melhor!” Dá pra repetir duas vezes…

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