A um mês do incêndio no Museu Nacional, por Maria Helena RR de Sousa

A um mês do incêndio no Museu Nacional

por Maria Helena RR de Sousa

Matheus, oito anos, intrigado diante de uma múmia no Museu Nacional (abril de 2018)
             PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BLOG DO NOBLAT, VEJA ONLINE, 5 DE OUTUBRO DE 2018

Assisti anteontem, 3,  com muita atenção, o debate dos candidatos a governador do Estado do Rio de Janeiro transmitido pela Rede Globo . Programas de governo, além do “vou fazer isso ou aquilo” sem detalhar como o fariam, não eram mais importantes do que os xingamentos face a face. Um verdadeiro espetáculo…

Mas não desisti até a apresentadora encerrar o debate pois esperava, ansiosa, que um deles, de qualquer partido, mencionasse seu programa para a Cultura do Estado. Esperei à toa. Ninguém falou em Cultura e… mais espantoso… ninguém mencionou a destruição do maior tesouro do Estado do Rio, o incêndio do Museu Nacional, e o que fariam para que nunca mais tivéssemos outra tragédia como aquela.

Infelizmente, não temos mais um Dom Pedro II. Pelo visto, a Cultura não  importa mais para a cidade.

Ando sobretudo preocupada com duas joias que temos no centro do Rio. A Biblioteca Nacional e o Real Gabinete Português de Leitura. Espero que depois do que aconteceu na Quinta da Boa Vista providências tenham sido tomadas para que, ao primeiro sinal de fumaça, todos os alarmes do mundo disparem e que o fogo nunca se espalhe por esses dois outros guardiões de nossa Cultura.

Tenho conversado com muita gente, de várias idades, sobre a destruição do Museu Nacional. Sabia que pessoas da minha idade, de todos os quadrantes da cidade, tiveram, quando criança, a felicidade de visitar o museu, levadas pelos pais ou por sua escola. Os da terceira idade e os sessentões não me surpreenderam com sua emoção ao falar do Museu.

Surpresa fiquei e muito, ao ver que nestes tempos de videogames, as crianças cujos pais puderam levá-las à Quinta, tenham falado com lágrimas nos olhos sobre o que viram no Museu e que sabem foi destruído. E todas têm sempre a mesma pergunta: quem vai colecionar outra vez tantas coisas bonitas ou interessantes ou ‘apavorantes’, que é como uma menininha se referiu às salas dos besouros e das cobras?

  A filha de um amigo de meu filho, de seis anos, chorou copiosamente ao ver o incêndio pela TV. Foi dormir muito triste. Matheus, de oito anos, um sobrinho-neto muito querido, ficou infeliz e só quer saber quando teremos outro museu assim aqui no Rio. Ao lhe ser sugerido que fosse ao Museu do Amanhã, respondeu: no amanhã estou, quero poder ver o que já passou, os dinossauros, as múmias.

Ficou sem resposta.

E a depender do que ouvi no debate entre os candidatos a governador do Rio,  acho que Matheus ficará sem resposta.

A minha pergunta: será que algum dia saberemos o que ocasionou um incêndio tão devastador?

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Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa*

Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.

 

1 thought on “A um mês do incêndio no Museu Nacional, por Maria Helena RR de Sousa

  1. O fato de ninguém falar nos debates é revelador sobre a preocupação que se tem com os museus e com a cultura que não é “de massa”. Boa parte dos candidatos provavelmente sequer estiveram nos museus do Rio e os venderiam para serem demolidos com todo o prazer.

    Não acredito que muita coisa vá mudar, pois o que vimos entre grande parte da imprensa, políticos e celebridades foi usarem a tragédia para aparecer, seja acusando adversários, seja para lacrar nas redes sociais e parecer preocupado com a cultura. Enfim, parecem ter gostado do incêndio pois proporcionou uma oportunidade de se promoverem, ou uma oportunidade de ganhar dinheiro em cima da tragédia.

    Sendo assim, temo que grande parte veja os demais museus e locais históricos do Rio com os mesmos olhos.

    Quando estive no museu em Julho (não sou do Rio), fiquei surpreso com a qualidade do acervo e até comentei com familiares e amigos que tinha ficado feliz em ver que o Brasil tinha um museu de história natural que fazia frente aos famosos dos EUA. Não temos mais…

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