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Dinheiro sai. Coluna Carlos Brickmann

DINHEIRO SAI

COLUNA CARLOS BRICKMANN

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EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 16 DE DEZEMBRO DE 2018

O presidente eleito Jair Bolsonaro se declarou indignado com os gastos da Caixa com publicidade, que estima em R$ 2,5 bilhões por ano (a Caixa diz que é menos: R$ 685 milhões, ainda assim espantosos). Bolsonaro disse que vai rever esses gastos e também outros, como os da Presidência.

Bolsonaro que nos perdoe, mas está totalmente errado: deve é eliminar a publicidade oficial. Empresas que competem no mercado, como a Caixa e o Banco do Brasil, precisam de publicidade (embora, se forem privatizadas, o problema desapareça). Mas para que fazer publicidade do BNDES, que não tem concorrentes? E do Governo Federal, um monopólio que não tem nem com quem disputar mercado? Por que gastar dinheiro com a divulgação dos slogans oficiais – a menos que se queira influenciar o resultado de eleições futuras com dinheiro público, o que é crime, ou usar recursos do Tesouro para comprar a boa-vontade dos meios de comunicação, o que é indecente?

Gastar dinheiro público para fins particulares virou hábito. O senador Roberto Requião editou agora, por conta do Senado, um livro contra Sergio Moro. Aproveita o finzinho do mandato, porque os eleitores o mandaram para casa. O senador gaúcho Lasier Martins viajou de Brasília para o Rio, e lá se hospedou no Hotel Windsor, para assistir à formatura de uma parente. A parente é dele, o dinheiro é nosso. Bolsonaro pode mudar esses hábitos.

Que tal começar cortando o meio bilhão de propaganda da Presidência?

Tira, põe…

É cedo para analisar a história do R$ 1,2 milhão movimentado por um dos funcionários do deputado estadual (e senador eleito) Flávio Bolsonaro: a COAF, que monitora nosso comportamento financeiro, só apontou o caso e não fez qualquer denúncia; o próprio Fabrício Queiroz, o funcionário, não disse nada. Primeiro, eliminemos as objeções: a COAF não apontou os R$ 51 milhões de Geddel, apontou há anos a movimentação de umas dezenas de milhões, de Lula, e não avançou. É verdade. Mas, se o caso é irregular, deve ser investigado, não importa se casos parecidos foram ignorados.

…deixa voltar

A história parece a de sempre: assessores de parlamentares recebem seu salário e devolvem boa parte ao parlamentar. É uma forma (das mais asquerosas) de transferir dinheiro público para bolsos privados. Quanto? Um assessor disse que recebia R$12 mil e ficava com R$ 2 mil, e o restante era entregue ao parlamentar. O total de R$ 1,2 milhão em um ano é grande demais? Depende: um assessor pode receber várias devoluções para entregá-las ao parlamentar. Isso é crime. Se vai para o Caixa 2, é crime. Como a posse é agora, talvez tudo seja esquecido. É uma boa saída, não é?

Aprovação em alta

A questão do motorista do filho não parece ter afetado a popularidade de Bolsonaro. Pesquisa feita pelo Ibope para a CNI, Confederação Nacional da Indústria, indica que 75% dos entrevistados acreditam que o presidente eleito está no caminho certo. São 20 pontos percentuais acima da votação de Bolsonaro no segundo turno. Traduzindo: muitos dos que não votaram nele concordam com suas posições. E 14% acham que o presidente eleito está no caminho errado – contra 45% que votaram contra ele. Os que não responderam à pergunta ou ainda não têm posição somam 11%.

Expectativa

Na mesma pesquisa, 64% dos ouvidos esperam que Bolsonaro faça um governo ótimo ou bom. Isso significa, pela ordem, melhorar os serviços de saúde, impulsionar a oferta de empregos, combater a corrupção, combater a criminalidade e melhorar a qualidade da educação.

Contra Bolsonaro

O professor Victor Nussenzweig, médico, professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade de Nova York, um dos maiores pesquisadores mundiais da prevenção da malária (milhões de infectados por ano, uma das maiores causas de morte de crianças na África), escreve para esta coluna para falar de política. A mensagem do professor Nussenzweig:

“Estou nos EUA há 60 anos. Vou ao Brasil no fim do ano e quero falar sobre o MAL-sonaro. Saí do Brasil em 1964 fugindo dos militares e vejo que a praga continua. Lugares de militares são os quartéis, não a política. Fácil ganhar a eleição pondo a oposição na cadeia!”

A crítica às opiniões do professor Nussenzweig, como sempre ocorre nesta coluna, é livre – desde que se use linguagem civilizada e se mantenha o respeito devido a um grande cientista brasileiro. Discordar não é insultar.

É quente

Preste atenção no major Vitor Hugo, deputado federal eleito por Goiás, amigo de Bolsonaro há dezenas de anos e muito bem preparado. Deverá ter influência no governo. Indicou a Bolsonaro o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas. E amanhã já participa com ele de reuniões em Goiás.

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7 thoughts on “Dinheiro sai. Coluna Carlos Brickmann

  1. Professor Nussenzweig
    Vou cumprir o pedido do Carlinhos e procurar não lhe faltar ao respeito.
    Grande cientista brasileiro ou não, há 60 anos nos isteites, sugiro que permaneça aí. Não venha ao Brasil, não, pois o senhor não demonstra nenhum respeito a um presidente eleito por 58 milhões de tupiniquins. O senhor pode ser um grande cientista, mas o caráter fica muito a dever…

  2. Não é exatamente meu amigo, mas de minha mulher, também médica. O professor Victor Nussenzweig, que neste ano conheceu a tristeza incontornável de perder sua esposa, merece respeito. Posso até discordar de sua posição (até porque, democraticamente eleito, qualquer militar pode exercer legitimamente o poder), mas penso que ele tem o direito de dizer o que bem entender, até por ter saído do país em razão das pressões que sofreu durante o regime militar. Pelo que sei, não é, nem nunca foi, pessoa de paixões partidárias, embora nunca tenha renunciado ao direito de ter opiniões políticas. Pôr seu caráter em questão por isso é apenas um crime. Coisa que não se permite nem mesmo àqueles que não o conhecem e ignoram sua grandeza intelectual e moral. De minha parte, posso dizer que minhas simpatias pelo capitão se situam nos entornos do zero, e espero que ninguém ponha meu caráter em dúvida por causa disso.
    Democracia também se faz tentando entender o direito alheio – inclusive à opinião.

  3. Carlinhos, boa tarde !

    Gostaria de saber por que não saiu publicado meu respeitoso comentário sobre a manifestação do Prof. Victor Nussenzweig.
    Sem considerar o meu, houve apenas 2 comentários ?

    Abraço,

    1. DR. LIONEL, só pode ter havido agum problema – porque aqui não chegou. Os comentários são abertos. E apenas da primeira vez que alguém manda necessitam de moderação

      abraço,
      Marli Gonçalves

  4. A Humanidade será sempre devedora ao casal Victor e Ruth Nussenzweig pelos relevantíssimas pesquisas científicas objetivando a prevenção da malária. O que me intriga é como pode um cientista, cuja atuação exige mente aberta e total isenção no exame dos fatos, fechar-se num dogmatismo cego quando se trata de assuntos políticos. Diz ele que está há sessenta anos nos EUA e que virá ao Brasil no fim do ano e “quer falar sobre o MAL-sonaro”. Informa ter saído do Brasil em 1964 “fugindo dos militares” e afirma que “a praga continua”. “Lugares de militares são os quartéis, não a política”, acrescenta, e conclui ser “fácil ganhar a eleição pondo a oposição na cadeia!”. Bastam essas linhas para perceber-se a sua visão absolutamente dogmática, enviesada e estrambótica da política brasileira. E o pior, uma das afirmações chega a ser completamente destituída de sentido e difamatória mesmo às nossas autoridades judiciárias. Que oposição foi “posta” na cadeia ? Oposição a quem ? Quem “pôs” essa “oposição” na cadeia, cara pálida? Trata-se de um absurdo total, uma falta de conhecimento da realidade brasileira e dos fatos que justificaram e justificam as condenações – não por crimes políticos, mas por crimes comuns (peculato, corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro, participação em organização criminosa) que chega a revoltar. Os condenados à cadeia foram e têm sido os que se aproveitaram de cargos políticos para integrar organizações criminosas, a fim de desviar e roubar centenas e centenas de milhões dos cofres públicos, dinheiro que poderia ter sido aplicado, entre outras prioridades, na educação, na saúde, inclusive na prevenção de doenças, entre elas a malária, ainda muito presente no norte do país. Antes de criticar os que “põem” criminosos na cadeia, ignorando, porém, a existência de provas incontestáveis, contundentes e em quantidades impressionantes, seria altamente aconselhável que os interessados em não falar bobagens examinassem os autos e não se limitassem a ouvir comentários da companheirada mal informada sobre a verdade ou cujos cérebros, tal qual o dinheiro, tenham sido lavados.

    Ignora o Prof. Nussenzweig que os militares que integram o governo a se empossar em 1° de janeiro são todos da reserva, cidadãos cujos direitos civis e políticos são constitucionalmente assegurados e cujo lugar, por isso mesmo, não mais são os quarteis, da mesma forma como a Constituição não exige que cientistas, pesquisadores e outros intelectuais se circunscrevam às suas universidade, hospitais, institutos de pesquisa, de modo que lhes é lícito ocupar todos os espaços da cidadania, entre eles candidatar-se a qualquer cargo político, ser escolhidos para compor ministérios etc.

    Conclui-se, portanto, que o Professor Nussenzweig, como analista político, revela-se um excelente pesquisador de malária. Assim sendo, contribuiria imensamente com o país se, aqui chegando no final do ano, pudesse nos brindar com palestras na área em que é uma das maiores autoridades mundiais, evitando falar sobre o que ignora. Sua credibilidade acadêmica e a ciência certamente agradeceriam.

    Atenciosamente,

    Lionel Zaclis

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