As âncoras de barro.  Coluna Carlos Brickmann

AS ÂNCORAS DE BARRO

COLUNA CARLOS BRICKMANN


EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 3 DE MARÇO DE 2019

 

A credibilidade de Bolsonaro no mercado e na política internacional se baseia, desde antes de sua eleição, em duas âncoras de grande prestígio: Paulo Guedes e Sérgio Moro. Bolsonaro, embora popularíssimo, jamais havia divulgado em profundidade seu pensamento econômico: e se temia, por suas declarações agressivas, que tivesse viés autoritário. Guedes e Moro resolveram o problema – tanto que a oposição não funciona.

Mas ambos estão sendo minados por Bolsonaro. Ele já disse, antes de qualquer discussão, que a reforma da Previdência, base de sua política econômica, pode ser “flexibilizada” – ou seja, acochambrada conforme a vontade dos parlamentares. E Moro, o superministro da Justiça, já foi desautorizado várias vezes: a criminalização do Caixa 2 nem entrou na primeira lista de medidas contra a corrupção, o decreto das armas não inclui suas ideias, a especialista que ele convidou e nomeou para sua equipe teve de ser afastada no dia seguinte – sob aplausos de um dos filhos do capitão, que a acusou ter aceito o convite de Moro para sabotar o Governo.

Surgem aí problemas para os superministros e para o presidente que os nomeou: ao enfraquecê-los, obrigando-os a mudar de opinião, também se enfraquece, reduzindo sua credibilidade – não diante de seus eleitores, mas de investidores estrangeiros (e nacionais), de quem em grande parte depende seu sucesso. Qual a sensação de estabilidade que transmite aos negócios?

Quem perde mais

Ao nomear Moro, um dos riscos de Bolsonaro era ter um subordinado indemissível – demiti-lo significaria desistir da credibilidade de que Moro dispunha e de sua disposição de combater a corrupção doesse a quem doesse. Mas ninguém pensou no outro lado: se Moro pedir demissão, como é que fica? Deixou a carreira de juiz, deixa de lado a chance de ser ministro do Supremo e, principalmente, sai menor do que entrou, questionado sobre o prazo de validade de suas opiniões (como, por exemplo, dizer não há muito tempo que Caixa 2 é um crime pior do que corrupção e, agora, dizer que Caixa 2 é menos grave do que corrupção).

E, não esqueçamos, qual sua opinião sobre a “rachadinha” no salário dos gabinetes parlamentares?

Por falar nisso

Fabrício Queiroz, aquele assessor de Flávio Bolsonaro, se manifestou: o dinheiro que provocou suspeitas era mesmo proveniente de funcionários do gabinete que entregavam a ele parte de seus salários. A explicação é curiosa: ele estava preocupado em fazer com que a verba do gabinete do Filho 01 de Bolsonaro rendesse o máximo para o deputado. Então, sem conhecimento dele, combinava com os funcionários contratados a devolução de parte de seus ganhos, que era utilizada para contratar informalmente mais gente que divulgasse com mais intensidade o trabalho do deputado. Que, claro, não sabia de nada, nem que havia gente a mais trabalhando para ele em lugares nos quais não havia nomeado ninguém.

A caça aos tucanos…

Aparentemente, chegou ao fim a tranquilidade dos tucanos. Um dos profissionais mais ligados aos governadores do PSDB em São Paulo, Paulo “Preto” Vieira da Silva, foi condenado a 27 anos de prisão por corrupção (e, segundo o Ministério Público, tem em seu poder dinheiro vivo suficiente para lotar dois apartamentos como o de Geddel Vieira Lima – fazendo as contas, algo como cem milhões de reais). O ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, coordenador da fracassadíssima campanha de Alckmin à Presidência, já enfrenta oito processos. Num deles, pede-se sua prisão por ter deixado um bilhão de reais em “restos a pagar” para seu sucessor, sem que houvesse recursos para pagá-los, o que é proibido por lei.

…ainda vai longe

E as coisas ainda podem piorar: a filha de Paulo Vieira da Silva diz que o pai estava pronto a uma delação premiada, mas o ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira Filho o convenceu a trocar de advogado e escolher outro contrário à delação. Caso a informação seja verdadeira, por que a luta para evitar a delação? E quais dirigentes tucanos entrarão na linha de tiro?

O tucano é um pássaro peculiar: tem bela plumagem, mas é de voo curto. E seu bico é longo e forte.

A riqueza dos índios

Há na Florida, EUA, um esplêndido cassino. Um só; e apenas pôde ser instalado por estar terra indígena. Terra indígena na Florida? Sim: foi comprada por índios ricos. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, quer fazer como os americanos, integrar os índios à economia, em especial ao agronegócio. Segundo diz, tem sido procurada por representantes indígenas de diversas regiões reivindicando melhores condições para criar riquezas e empregos em seus territórios. São bons agricultores, diz a ministra. “E querem as mesmas oportunidades de todos os produtores para criar riquezas, produzindo ou ganhando royalties de quem produz”.

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2 thoughts on “As âncoras de barro.  Coluna Carlos Brickmann

  1. #GrandeDia e #IlonaNão são duas hashs, aliás de rara delicadeza, com que a irrefreável tara de tripudiar, de amassar e imperar dessa bolsonarada tosca nos brindou na semana passada. Sim, é verdade: a grossura de pensamento e a deformidade moral trituraram essa mínima fresta de esperança civilizatória que tentava respirar neste ambiente persecutório e policialesco que ora se alastra pelo país. O capitão e seus clones piorados devem achar que o mundo inteiro concorda com sua estupidez, partilhada geneticamente e desde cedo imitada por idiotas que sequer pertencem a essa família dos broncos, embora prestem continência ao preconceito que vomitam todo santo dia pelas ‘redes sociais’. Mas não é verdade, não! O Brasil, apesar dos (muitos) pesares, é melhor que isso. Há por aqui muita gente mais educada, mais inteligente e mais honesta que isso. “Grande Dia” certamente foi, mas para a excelente cientista social Ilona Szabó. Para ela, não tenho dúvidas, melhor assim. Sua seriedade e sua biografia não mereciam a lama onde se esbaldam esses porcos do pensamento. Entre ser expulsa do governo após meia-dúzia de sabotagens e sair agora, antes de ter sujado as barras das calças, a segunda alternativa é a melhor para quem, como ela, é pessoa decente. Os bolsonaros podem até ter conseguido mais uma humilhação pública de Sérgio Moro (certamente a melhor coisa desse governo bárbaro, e que em um ano, no máximo, será apenas mais um ex-ministro), mas não farão um país inteiro concordar com sua ignorância e sua selvageria naturais. Por enquanto, continuam tripudiando sobre a parcela decente do Brasil, mas é sempre bom saber que isso um dia acaba. Isso um dia acaba!
    O PT já se foi. E não deixará saudade.
    Para os bolsonaros, é apenas questão de tempo. Idem.

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