A indústria da saúde vai ser chacoalhada… Por Marcos de Vasconcellos

A INDÚSTRIA DA SAÚDE VAI SER CHACOALHADA

E PARECE QUE DEVERIA ESTAR FAZENDO MAIS

MARCOS DE VASCONCELLOS

Em comparação com o início do ano, as ações ordinárias da Notre Dame Intermédica e Hapvida caíram 41%, enquanto o Ibovespa registrou queda de 40%

O bem mais desejado dos próximos dias será um leito hospitalar
ANÁLISES PUBLICADAS NO MONITOR DO MERCADO 
E NA FOLHA DE S. PAULO, EDIÇÃO DE 3 DE ABRIL DE 2020

 Nada de ouro, dólar, joias ou bitcoin. O bem mais desejado dos próximos dias será um leito hospitalar. Num cada vez mais raro momento de convergência, os governos federal e de São Paulo preveem que o pico de contaminações pelo coronavírus será entre 45 e 90 dias. O que significa que o sistema de saúde será testado e chacoalhado.

De acordo com o que se viu em outros países, já podemos esperar hospitais abarrotados, fazendo com que as empresas do setor, principalmente as donas de redes hospitalares, sintam os efeitos na pele, ou melhor, no bolso.

Até agora, o que aconteceu foi que a demanda foi represada, com a suspensão de cirurgias eletivas, por exemplo. Quem teve que ir para um hospital nos últimos dias espantou-se com a falta de circulação nos corredores. Mas o silêncio não deve se manter por muito tempo.

Para companhias como de planos de saúde a Notre Dame Intermédica e Hapvida, que possuem a própria rede de atendimento, o momento de incertezas levou os preços ao chão. Em comparação com o início do ano, as ações ordinárias das duas caíram 41%, enquanto o Ibovespa registrou queda de 40%.

Os preços levam em conta que inclusive a falta de certezas sobre quais serão as ações do(s) governo(s) em casos mais drásticos. Recentemente, assistimos à entrada da Polícia Militar de São Paulo em uma fábrica da 3M para confiscar 500 mil máscaras de proteção. A ideia da federalização de leitos hospitalares já tem sido ventilada, também.

… E não se trata de bondade, como podem parecer as iniciativas da Raia Drogasil de não repassar o aumento anual dos remédios ao consumidor (antes de o governo adiar o reajuste) e aplicar a vacina de gripe do SUS gratuitamente em suas lojas. É lógica de mercado também: se a população estiver bem medicada e vacinada, menos casos, menos mortes, mais clientes e mais rápido retorno da economia…

Quem conhece bem o mercado aponta que, no longo prazo, são justamente as empresas de planos com ação em bolsa (há ainda SulAmérica e Qualiccorp) que devem se dar bem. Isso porque a provável depressão econômica deve diminuir o acesso da população aos planos, que hoje são para pouco menos de 25% da das famílias. Isso levaria à quebra das pequenas empresas do setor, ampliando o poder das maiores.

Ainda assim, prevenir segue o melhor remédio, também para a economia. Pesquisa recente do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) estima que cada internação pela Covid-19 custa R$ 11,3 mil. Com isso, encontraram um custo de quase R$ 1 bilhão para cada 1 ponto percentual de infectados na população brasileira não coberta por planos de saúde.

Mas ainda são poucas as atitudes para prevenir infecções, mortes e gastos bilionários entre as empresas do setor de saúde que negociam suas ações em bolsa.

Entre as mais de 20 companhias da área, de laboratórios de imagem a farmácias, é mais fácil encontrar comunicados informando sobre o adiamento de pagamento de dividendos a seus acionistas do que desembolsos para evitar o contágio para além de seus próprios escritórios e fábricas.

E não se trata de bondade, como podem parecer as iniciativas da Raia Drogasil de não repassar o aumento anual dos remédios ao consumidor (antes de o governo adiar o reajuste) e aplicar a vacina de gripe do SUS gratuitamente em suas lojas.

É lógica de mercado também: se a população estiver bem medicada e vacinada, menos casos, menos mortes, mais clientes e mais rápido retorno da economia.

Apesar do impacto financeiro negativo no curto prazo, essas são atitudes bem recebidas por investidores. Levam valor à marca e podem acelerar a volta da circulação das pessoas às lojas, comprando itens além de remédios, como os de perfumaria, que são quase ¼ das vendas rede. Vale registrar que as ações da Raia Drogasil caíram apenas 7% em relação ao primeiro pregão do ano.

A Dasa, dona de laboratórios, parou de cobrar por coletas de exames em casa, para pacientes com mais de 60 anos. Qualicorp e Intermédica criaram canais para tirar dúvidas sobre o coronavírus.

Mas, infelizmente, enquanto os Estados Unidos viram uma alta das ações puxada por empresas da área de saúde, depois de a Johnson & Johnson anunciar a possibilidade de testar a vacina para Covid-19 em humanos em setembro, aqui, assistimos o diretor da gigante farmacêutica Hypera tentando manter a produtividade de seus vendedores, espalhando que profissionais da indústria são “cascudos” e têm a imunidade reforçada.

A companhia rebate que essa não é sua posição oficial. Em seu site, quem quiser informações sobre coronavírus, deve procurá-las em uma página do hospital Sírio-Libanês.

Para o futuro, no entanto, a Hypera diz ter planos. No dia 6 de abril, a Benegrip, sua marca, vai começar uma parceria com o app Rappi para entregar gratuitamente compras de remédios acima de R$ 30, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

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Marcos de Vasconcellos Jornalista, empreendedor e fundador do site Monitor do Mercado.

 

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