Chegando ao limite. Por Edmilson Siqueira

CHEGANDO AO LIMITE

EDMILSON SIQUEIRA

… A ruptura no poder a que me refiro no inicio desse artigo, começou a ganhar forma quando Bolsonaro passou a demonstrar claramente que não é o político ideal para presidir um país. Os que nele votaram como única alternativa para tirar o PT do poder e salvar o Brasil de se transformar em mais um lixo socialista, perceberam que ele havia servido única e exclusivamente para tal fim. Para governar ele não presta mesmo…

O Brasil parece caminhar, novamente, para mais uma ruptura no poder. Depois do golpe de 64, depois do impeachment de Collor e Dilma, começamos a sentir que, impossibilitado de governar por conta de sua própria incompetência e ignorância, Jair Bolsonaro começa a esgarçar a paciência dos brasileiros, das instituições e dos que têm poder para tirá-lo ou perenizá-lo no cargo como ditador.

Com um governo marcado pelo improviso em vários setores, pela incompetência em outros e por boa gestão em alguns poucos, Bolsonaro percebeu que sua tentativa de criar uma nova política esbarrava na velha e sua esperteza não era suficiente para transpor essa barreira. Sem conseguir convencer ninguém com seus discursos de frases curtas e geralmente insossas, de lugares-comuns que há muito não atraem simpatias, de apelos patriótico-religiosos que não enchem a barriga de ninguém, o ex-capitão do Exército conseguir fazer desafetos até dentro da caserna. Não são poucos os militares de quatro estrelas que entortam o nariz diante das bizarrices do presidente e de seu entorno mais íntimo. Alguns pedem anonimato para não entornar o caldo antes da hora, e distribuem frases nada abonadoras para o ex-subordinado deles.

Alguém já disse que Bolsonaro montou o melhor meio ministério da história recente do Brasil. De fato. Se olharmos para Sérgio Moro, Paulo Guedes, Tarcísio Gomes e Tereza Cristina, além da revelação Henrique Mandetta, devidamente defenestrado por cumprir bem sem papel (!), vamos notar que ali há competência. E não só na qualidade do ministro, mas também em suas equipes, da qual todos eles dependem para uma boa atuação na linha de frente.

Mas o problema de Bolsonaro como líder da nação, parece ter profundas raízes psicológicas e maléficas. Diante da mínima dificuldade, ele parece reagir sempre da mesma maneira, de modo atribulado, violento, sem procurar o diálogo ou sem tentar enfrentar o problema de modo inteligente. Isso é próprio de mentes pequenas, de massa cinzenta apequenada. Ao perceber que a Justiça estava no encalço das irregularidades que seu filho cometera como deputado no Rio, Bolsonaro se transtornou, atacou todo mundo e passou a julgar a Justiça como sua inimiga. Uma atitude desprovida de qualquer sapiência.

Já com seus auxiliares, a atitude também é burra. Basta algum ministro realizar com competência seu trabalho e ele logo é atacado pela fúria bolsonarista. A conclusão mais óbvia é de burrice mesmo: ao invés de surfar na onda de popularidade que um bom ministro angaria, ele tenta diminuí-lo, ameaça de demissão e deixa transparecer que está com um ciúme danado do sucesso do seu subordinado. O ciúme teria motivação não apenas na já proverbial ignorância do capitão, mas também na ameaça de que aquele ministro vá confrontá-lo na eleição de 2022, perturbando-lhe uma sonhada reeleição.

… Bolsonaro adotou uma postura mais, digamos, audaciosa. Audaciosa e burra. Passou a atacar instituições que fazem parte de um governo democrático. Congresso e STF, representantes máximos dos poderes Legislativo e Judiciário, sem os quais não há democracia, viraram mais vilões do que podem ser e passaram a ser execrados pelos áulicos que veem no capitão a única esperança de satisfazer seus instintos ditatoriais.

Foi assim com Paulo Guedes quando o ministro passou a dar inúmeras entrevistas – todas elas necessárias – para explicar ao Brasil as mudanças que pretendia na economia. Foi assim com Sérgio Moro, um astro já antes de tomar posse, quando o ministro começou a apresentar números da queda da violência no país, fato histórico que, obviamente, a população credita ao ex-juiz. Foi assim com Mandetta, esse não só pela popularidade na luta contra a pandemia, mas também por discordar das medidas que o mais novo “especialista” em infectobiologia do Brasil queria adotar para enfrentar a doença. Medidas que, diga-se, podem causar a infecção de milhões de brasileiros e a morte de outros milhões. Mandetta foi demitido e, em seu lugar, foi colocado um médico que parece gostar mais de economia do que de salvar vidas, mas ainda é cedo para julgá-lo, afinal ele pediu 15 dias para conhecer a situação do Ministério, o que seria normal, não estivéssemos no meio de uma pandemia, com mais de 200 mortes por dia e o sistema médico-assistencial do país à beira do colapso.

A ruptura no poder a que me refiro no inicio desse artigo, começou a ganhar forma quando Bolsonaro passou a demonstrar claramente que não é o político ideal para presidir um país. Os que nele votaram como única alternativa para tirar o PT do poder e salvar o Brasil de se transformar em mais um lixo socialista, perceberam que ele havia servido única e exclusivamente para tal fim. Para governar ele não presta mesmo.

Abandonado por mais da metade se seus eleitores, restou-lhe governar para a minoria cega e fanática (desculpe a redundância) que escolheu Bolsonaro como se escolhe um time de futebol quando criança, jurando-lhe amor eterno “na vitória ou na derrota”, como diz o hino do Guarani aqui de Campinas. Ao perceber, pelas pesquisas nas quais diz, de modo mentiroso, que não credita, que seu cacife eleitoral diminuiu consideravelmente, Bolsonaro adotou uma postura mais, digamos, audaciosa. Audaciosa e burra. Passou a atacar instituições que fazem parte de um governo democrático. Congresso e STF, representantes máximos dos poderes Legislativo e Judiciário, sem os quais não há democracia, viraram mais vilões do que podem ser e passaram a ser execrados pelos áulicos que veem no capitão a única esperança de satisfazer seus instintos ditatoriais.

Essa “audácia” chegou ao seu auge no último domingo, quando Bolsonaro participou de uma manifestação com faixas e cartazes pedindo intervenção militar, a volta do AI-5 e um governo autoritário com ele no comando. As faixas e os cartazes tinham quase todos o mesmo padrão, evidenciando que se trata de movimento organizado. Bolsonaro não só esteve na manifestação como discursou. Algumas frases demonstram que o capitão está desafiando os outros poderes descaradamente. Disse ele: “Eu estou aqui porque acredito em vocês. E vocês estão aqui porque acreditam no Brasil”. Ora, a turma toda pedia uma ditadura militar e Bolsonaro acredita neles? E eles acreditam que ali estava o condutor para o tal fechamento do regime?

As reações militares ao ato de Bolsonaro foram tímidas dentro do Palácio e um pouco mais fortes dentro das Forças Armadas. Mas foram duras na boca de políticos, de movimentos democráticos e de instituições civis.

Na média, não se instalou totalmente um clima para o golpe pretendido por Bolsonaro e os seguidores da seita que ele tenta impor ao Brasil. Mas, a ausência de uma reação e de um movimento forte no sentido contrário às pretensões do capitão, preocupa bastante. O Congresso, principalmente, precisa conversar com o Judiciário e, ambos, estabelecerem uma espécie de ponte democrática com os militares que, ao cabo e ao rabo, têm o poder de fogo para garantir a democracia ou levar o Brasil para mais uma era de trevas comandada por um psicopata.

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Edmilson Siqueira é jornalista

3 thoughts on “Chegando ao limite. Por Edmilson Siqueira

  1. Com todos os possíveis defeitos (quem não os tem ??), o Presidente continua tendo o apoio da maior parte dos eleitores, é só ver os vídeos das últimas manifestações. Precisamos execrar a Globo e outros parceiros dela.

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