José Paulo de Andrade

José Paulo de Andrade: o amigo que se vai. Por Carlos Brickmann

JOSÉ PAULO DE ANDRADE: O AMIGO QUE SE VAI

CARLOS BRICKMANN

…Zé Paulo tinha algumas manias, que o deixavam mal-humorado: odiava horário de verão, por exemplo. Nunca deixou de reclamar do horário de verão todas as vezes em que era decretado. E batia duro nos entrevistados que defendiam o ajuste nos relógios. O surpreendente era que as vítimas de seu mau-humor continuavam a ser seus fãs….

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Triste, triste. Acabo de perder um amigo de mais de 40 anos – e isso numa idade em que já não é possível forjar uma nova amizade que vá durar mais de 40 anos. Sim, amigo; e ao mesmo tempo um mestre da comunicação. José Paulo de Andrade tinha todas as qualidades de jornalista e apresentador. E tinha, também, uma notável ligação sentimental com os ouvintes e telespectadores. Na época em que trabalhamos juntos, no final da década de 70, na Rede Bandeirantes, empresa que ele amava e que nunca abandonou, não havia Internet nem redes sociais. Mas tínhamos telespectadores telefonando para dizer que gostavam do Zé Paulo.

Era uma bela equipe, aquela: Roberto Corte-Real, o grande Ferreira Martins, Gilberto Ribeiro, Branca Ribeiro. Foi lá que o Caio Blinder ganhou fôlego profissional (e foi lá que me apresentou seu primo, Gilberto Dimenstein, que namorava uma repórter promissora, Sílvia Ávila. Havia outra Sílvia, a monumental Sílvia Jafet; e Yvonne Happ, que se destacaria mais tarde também no Fantástico. Roberto D Avila, em plena ditadura, entrevistou Brizola e o secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro. João Russo cansou de receber prêmios pelo programa que apresentava, Encontro com a Imprensa. E Joelmir Beting era o show de sempre.

Todos ótimos – e Zé Paulo era sempre o preferido do público. Por que? Porque era. Sujeito simples, tranquilo, workaholic assumido… em certa época, fazia o excelente O Pulo do Gato de madrugada, chefiava a Reportagem da Rede Bandeirantes de manhã, ia para seu escritório de advocacia à tarde e fazia o Jornal Bandeirantes à noite. Esse trabalho contínuo e estafante (Zé Paulo era sempre esforçado), somado a sabe-se lá quantos maços por dia, cobrou o seu preço: um infarto. Intimado pelo médico a escolher uma de suas atividades, não hesitou: jornalismo.

Zé Paulo tinha algumas manias, que o deixavam mal-humorado: odiava horário de verão, por exemplo. Nunca deixou de reclamar do horário de verão todas as vezes em que era decretado. E batia duro nos entrevistados que defendiam o ajuste nos relógios. O surpreendente era que as vítimas de seu mau-humor continuavam a ser seus fãs.

Viajei com ele para os Estados Unidos. Lá encontramos brasileiros que o reconheciam pelo rosto, outros que só precisavam ouvir sua voz. Ele ficava sossegado, mesmo quando alguém simulava o miado que anunciava, no rádio, o Pulo do Gato. Fui com ele comprar patins para o filho. E aprendi que lidava com um especialista: alguns anos depois, quando minha filha pediu patins, perguntei a ele tudo sobre o assunto.

Muitos anos antes de trabalhar na Bandeirantes, fui editor-chefe do Repórter Esso em São Paulo (ainda faltava algum tempo para termos telejornais em rede). Ewaldo Dantas, o grande repórter que foi diretor de Redação do Repórter Esso, concordou em pedir ao Fernando Vieira de Mello, uma lenda da comunicação eletrônica, a contratação do Zé Paulo para fazer a apresentação. Fernando Vieira de Mello, que conhecia tudo do setor, concordou imediatamente. Fiz o convite, Zé Paulo não quis nem saber o salário: pertencia à Família Bandeirantes.

Foi pena: eu o teria conhecido melhor uns 12 anos antes.

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Carlos Brickmann – jornalista, diretor do Chumbo Gordo

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