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A carta da cura. Por Maria Helena RR de Sousa

A CARTA DA CURA

MARIA HELENA RR DE SOUSAKafka y la Muñeca... la omnipresencia de la pérdida. | Centro Genesin - Cursos de Coaching y PNL

…Há muitas versões desta história. E todas sempre me comovem. Depois de muito pesquisar, encontrei uma que chamava a carta de “a carta da cura” Foi a versão que mais me fez bem, por parecer uma lição muito verdadeira…

(ARTIGO PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BLOG DO NOBLAT VEJA ONLINE, 31 DE OUTUBRO DE 2020)

Franz Kafka, segundo uma história que talvez seja uma lenda, encontrou num parque onde ele caminhava diariamente, uma menininha que chorava copiosamente.

O escritor, comovido com a tristeza da menina, perguntou-lhe o que a machucava. E ela contou-lhe que perdera sua querida boneca. Kafka ofereceu-se para ajudá-la a procurar sua boneca.

Depois de percorrer todo o parque sem nada encontrar, eles desistiram. Mas Kafka, ciente que a tristeza da menina ainda persistia, resolveu continuar a ajudar a menina que tanto o emocionara. E como? Usando as melhores armas de que dispunha: as palavras.

Ele escreveu uma carta assinada pela boneca e quando a encontrou alguns dias depois, leu a carta para a garota.

“Por favor não chore por mim. Saí do parque para viajar pelo mundo. Escreverei para você contando minhas aventuras”. Esse foi o início de uma vasta correspondência. Todas as vezes que o grande escritor ia ao parque caminhar e acabava encontrando sua amiguinha, ele lhe lia uma carta da boneca. As aventuras que ele criava e redigia em nome da boneca, acabaram por consolar a pequena.

Passado um bom tempo, Kafka resolveu presentear a menina com uma boneca que, evidentemente, era muito diferente da original. Uma longa carta acompanhava o presente e nela o grande escritor explicava que suas muitas viagens haviam transformado seu modo de ser, por isso ela parecia tão diferente.

Muitos anos depois, a menina, agora uma mocinha, encontrou dentro da embalagem da nova boneca, uma outra carta de Kafka. E nela as palavras foram as seguintes: “tudo que você ama, você eventualmente perderá, mas ao fim e ao cabo, o amor retornará de forma diferente”.

Há muitas versões desta história. E todas sempre me comovem. Depois de muito pesquisar, encontrei uma que chamava a carta de “a carta da cura” Foi a versão que mais me fez bem, por parecer uma lição muito verdadeira.

Verdadeira por trazer uma boa lição. A dor da perda só tem cura quando percebemos que o amor volta, de outra forma, mas volta. A perda da boneca é devastadora para a menina. E é isso que leva Kafka a criar as maravilhosas cartas das aventuras da boneca, às quais ele dedicou o mesmo empenho e cuidado de seus outros escritos.

O verdadeiro presente de Kafka para a menininha foi lhe mostrar que alguém se comoveu tanto com sua dor que lhe escreveu lindas cartas sobre como o amor sempre volta, de muitas formas, de muitas maneiras, mas volta.

O amor volta. O nosso trabalho é reconhecê-lo em sua nova forma. E essa lição veio pelas mãos de um de maiores escritores de todos os tempos.

Lenda ou verdade? Você decide.

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Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.

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