INFERNO BRASIL

Um inferno chamado Brasil. Por Edmilson Siqueira

UM INFERNO CHAMADO BRASIL

EDMILSON SIQUEIRA

…imaginem um país com uma população ativa de 100 milhões de pessoas, com 14% de desemprego oficial (o real é bem maior, creiam), sem uma política de geração de emprego e sem dinheiro para sustentar esse povo todo (foram mais de 30 milhões os que se inscreveram e receberam o coronavaucher) ainda ficar isolado no comércio com seu maior parceiro comercial …

De nada adiantam as otimistas declarações de Paulo Guedes sobre o andar da carruagem na economia. O fato é que a inflação está subindo e o desemprego também. São mais de 14 milhões de desempregados (sem contar os que desistiram de buscar vaga por aí) no meio de uma pandemia que além de sugar recursos dos governos federal, estaduais e municipais evita que a produção aumente. O sopro dado na indústria e no comércio pelo dinheiro distribuído por conta da pandemia está perdendo força e não há recursos para sua continuidade, a não ser que o governo abra mão de vez do teto de gastos (o que gerará inflação) ou da seriedade no trato da economia nacional, o que, convenhamos, pode até ocorrer tendo em vista os horrores todos que já presenciamos nesse maldito ano de 2020.

O governo federal parece que não está encarando a realidade na economia como deveria ser encarada. O ministro vive falando em retomada do crescimento, que ela já começou e que vamos crescer 4% em 2021. O mercado até entra um pouco nessa onda, mas sempre com um pé atrás. Não são poucos os economistas sérios que não veem luz no fim do túnel em que estamos desde que a pandemia se instalou e foi pessimamente combatida. A inacreditável disputa eleitoral pelas vacinas que podem salvar vidas é só a face mais tétrica e ignorante desse filme de terror onde o vampiro e o lobisomem se preparam para matar todos no fim.

Assistir a Jair Bolsonaro desfilando sua insanidade diária, sendo coadjuvado pelos débeis mentais dos seus filhos e de vários ministros iletrados já é rotina neste Bananão. O problema é que o errático e desmiolado comportamento desses péssimos personagens, além de espalhar o novo coronavírus entre eles (14 ministros já pegaram a doença)  espalha o vírus da ignorância pelo país, impedindo que sequer se pense num planejamento para a compra, distribuição e aplicação das salvadoras vacinas. Parece que para Bolsonaro e sua gangue, quanto pior o Brasil se apresentar nos dois próximos anos, mais fácil seria para que seu projeto de continuar no poder (o único que existe nas cabecinhas deles todos).

O risco de um caos na economia é grande, risco esse que pode ser coadjuvado pelo Congresso que está muito mais focado nas eleições, nos interesses de liderança em comissões e na sucessão dos atuais presidentes da Câmara e do Senado, do que em votar qualquer coisa, inclusive o Orçamento e a Lei Orçamentária de 2021. Sem essas votações, o governo não poderá gastar nada a partir de primeiro de janeiro, o que engessará de vez uma já quase paralisada administração do país.

Claro que tudo que está ruim, pode piorar. A beligerância doentia de um filho do presidente que, além desse “título” ostenta a presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, contra nosso maior parceiro comercial, pode causar sérios estragos no único setor que não foi totalmente atingido pela pandemia, que é o agronegócio e suas exportações. Só a China – alvo da ignorância do deputado – compra mais de 50 bilhões de dólares do Brasil anualmente. Imaginem o Brasil ficar sem esses dólares que ele troca por reais para pagar os exportadores.

E essa atitude infantil acontece justamente quando o Brasil perde um “aliado” de peso que, embora não fosse assim tão amigo (Donald Trump, visivelmente, fazia Bolsonaro de bobinho), servia de modelo para as papagaiadas nacionais produzidas pelo Palácio do Planalto e dirigia a maior economia do mundo. Trump perdeu a eleição e seu sucessor vai estabelecer com a China uma relação diplomática normal, pois são os dois maiores coadjuvantes do comércio internacional e qualquer político que tenha um mínimo de inteligência sabe que não se briga com adversários desse tipo: a derrota ou a vitória numa briga dessa pode ser sempre derrota.

Claro que os Bolsonaros não têm esse mínimo de inteligência para perceber o óbvio, pois não só o pai não repreendeu o filho pela traquinagem, como o ministro das Relações Exteriores, que deveria consertar a situação diplomaticamente, botou lenha na fogueira, criticando a reação da China e se calando sobre o descalabro do filhinho do papai.

Agora, imaginem um país com uma população ativa de 100 milhões de pessoas, com 14% de desemprego oficial (o real é bem maior, creiam), sem uma política de geração de emprego e sem dinheiro para sustentar esse povo todo (foram mais de 30 milhões os que se inscreveram e receberam o coronavaucher) ainda ficar isolado no comércio com seu maior parceiro comercial – ou com seus dois maiores parceiros, já que até agora o governo brasileiro se recusa a reconhecer a vitória de Joe Biden nas eleições dos EUA, criando, desde já, um clima inamistoso na relação futura.

Como se vê, repito, no Brasil, tudo que já é péssimo pode sempre piorar. E graças às inacreditáveis performances de um presidente e seu governo que não sabem o que fazer para gerenciar um país, não têm a mínima ideia do que seja uma nação, não conhecem um palmo adiante do nariz sobre administração pública, não conseguem se relacionar de forma civilizada com a classe política, buscam parcerias no que de pior tem a Câmara e o Senado, desprezam olimpicamente promessas de campanha que os elegeram, não têm conhecimento algum de qualquer  ideologia que pudesse ser aplicada e só pensam em se manter no poder.

Trata-se de um quadro perfeito de uma paisagem do Inferno esses tempos em que o Brasil está vivendo.

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Edmilson Siqueira é jornalista

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