ASSASSINO

Um governo assassino. Por Edmilson Siqueira

UM GOVERNO ASSASSINO

EDMILSON SIQUEIRA

Vários jornais em seus editoriais, vários colunistas e blogueiros já escreveram a palavra “assassino” para se referir ou ao governo ou ao presidente Jair Bolsonaro. Trata-se de adjetivação inédita na imprensa. Não me lembro, nos meus mais de 50 anos de acompanhamento da política brasileira, ter visto um órgão de imprensa ou um jornalista escrever essa palavra se referindo ao governo ou ao presidente.

Houve a ditadura iniciada em 1964, que vivi inteira, onde órgãos de repressão mataram opositores, mas se alguém escrevesse isso nos jornais, poderia entrar na fila da tortura e até da morte. Mas, depois que os milicos se mandaram e foi instalada a alternância no poder  através de eleições diretas (não dá pra chamar de democracia o que vivemos no Brasil), nenhum governo ganhou o epíteto de assassino antes que um ex-tenente promovido a capitão quando foi para a reserva, ganhasse as eleições e se fizesse merecedor do adjetivo que às vezes se torna substantivo.

Cabe aqui um parênteses: quem acusa todos os eleitores de Bolsonaro de terem colocado um monstro no poder, se esquecem que talvez a metade desses eleitores tenha votado nele para evitar o que consideravam um mal maior, que era a continuidade do PT no governo, que, pelo andar das pedaladas e da dislexia da mandatária, levaria o país à bancarrota, concentraria poder cada vez maior no partido e nos levaria a uma ditadura do proletariado com todas as terríveis consequências que isso significaria para todos nós. Uma venezuelização rápida de um gigante mundial (estamos, ainda, entre os 10 maiores), provocaria milhões de mortes pra dizer o mínimo.

… Aos que temem, com carradas de razão, a infecção pelo novo coronavírus, ele faz pose de herói e diz que “ninguém deve se apavorar diante da doença, que a liberdade é um bem maior que a vida”…

Mas o “mal menor” que tomou posse tem extrapolado todos os limites, principalmente depois que a pandemia da covid-19 se instalou no país. Não que não pudesse ser pior com um poste do Lula no poder, mas assistir ao desfile de horrores que emana do Palácio do Planalto e da maioria dos ministérios, tem sido uma via crucis que o brasileiro não merece – que nenhum povo merece – e que tem levado ao desespero muita gente. Ou chamar um presidente e seu governo de assassinos não revela um desespero dos jornais, dos colunistas e dos blogueiros? E trata-se de um desespero santo, totalmente justificado no dia a dia da pandemia e das loucuras que somos obrigados a aceitar saindo da boca de um bando completamente despreparado para exercer um mínimo de poder numa republiqueta de bananas.

Assim, ao lado de uma debacle econômica – a dívida total se aproxima perigosamente do PIB e o déficit anual está perto do trilhão de reais, com 14 milhões de desempregados – temos um governo que não só não sabe o que fazer para aplacar o caos das finanças, como também desdenha as mais elementares práticas sanitárias para livrar o país da pandemia que trava os negócios e mata quase mil brasileiros por dia.

Na área econômica, depois de ameaçar um monte de medidas velhas e inócuas e não conseguir emplacar uma reforma necessária de fato, o governo plantou na imprensa que estuda um imposto sobre o valor das propriedades declaradas no IR. Ou seja, a solução para o caos é tirar mais dinheiro do povo para alimentar os assassinos do poder.

Já ao aumento do número de internações e de mortes, constatadas diariamente nos tétricos boletins despejados nos lares em horário nobre, o assassino presidente declarou que estamos “no finzinho da pandemia”. Aos que temem, com carradas de razão, a infecção pelo novo coronavírus, ele faz pose de herói e diz que “ninguém deve se apavorar diante da doença, que a liberdade é um bem maior que a vida”. Ou seja: ele está dizendo para os elementos de seu rebanho que não precisam usar máscaras se não quiserem, não recusem convites para um festinha com famílias e amigos e podem até recusar vacinas. Para quem vai seguir os satânicos conselhos, espero que não tenha que sofrer esperando um leito de UTI ou com um tubo de plástico enfiado até o pulmão através da garganta. Muitos vão preferir a morte a esse sofrimento. E o assassino vai continuar dizendo que estamos no finalzinho da pandemia enquanto se multiplicam os enterros onde amigos dos mortos não podem nem se despedir.

Pressionado pela sociedade a apresentar um plano de imunização nacional e pelo STF que foi acionado para tomar uma providência diante da inércia, o que fez o assassino governo? Pegou um monte de anotações de experts no assunto, que estavam trabalhando justamente na confecção de um plano para vacinar todos os brasileiros, excluiu as anotações que não lhe agradavam, botou um título pomposo, uma capa colorida e enviou ao STF. E sem avisar os experts que o rascunho tinha virado trabalho oficial e enviado à mais alta corte de Justiça do país.

Ora, os cientistas, médicos sanitaristas e outros conhecedores do problema e em condição de apresentar soluções, se assustaram. Os nomes de todos eles estão no documento, a lhe dar credibilidade, mas só que não foram consultados antes e nem chamados para dar uma versão final que pudesse ser enviada a um ministro do Supremo. Ou seja: o governo, convocado a apresentar um plano nacional de vacinação pelo STF, enviou-lhe um rascunho, de onde eliminou partes importantes.

Mas não é só a eliminação de partes importantes que denuncia o crime: a ausência de outros “detalhes” também desmascara o rascunho que os assassinos do governo enviaram ao STF. Afirma o jornalista Josias de Souza em sua coluna: “Despejado sobre 193 páginas, o plano nacional para a vacinação contra a covid-19 é impreciso, incompleto e insano. A imprecisão é escancarada na ausência de uma data para o início da imunização. A incompletude revela-se no reconhecimento de que faltam vacinas para todos. A insanidade é denunciada pela insistência em menosprezar uma vacina disponível no Butantan.”

A desculpa dada pelo governo para a evidente falsidade ideológica cometida é que os pesquisadores foram convidados a opinar e não tinham poder de decisão. Ou seja, ficou pior, pois a decisão ficou por conta dos assassinos do governo.

Já o jornalista e escritor Ruy Castro, escreve em sua coluna deste domingo na Folha: “De repente materializa-se a esperança da vacina. E o que faz o demente Bolsonaro? Aproveita-se de que muitos estão loucos por um pretexto para sair e estimula uma última onda de contágio ao anunciar que a pandemia está “no finalzinho”. Enquanto outros países cuidam de orientar seus cidadãos, os assassinos que nos governam fazem da nossa tragédia uma farsa. Em breve, aqueles países estarão maciçamente vacinados. Nós, precariamente —alguns sim, outros não. Mas ninguém nos quererá por perto em conjunto.”

Assim, todos os dias o governo assassino de Jair Bolsonaro dá mais e mais motivos para que mais e mais pessoas considerem esse governo…  assassino.

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Edmilson Siqueira é jornalista

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