CONHECIMENTO

É o conhecimento, estúpido! Por Dagoberto Alves de Almeida

É O CONHECIMENTO, ESTÚPIDO!

DAGOBERTO ALVES DE ALMEIDA

…o presidente Jair Bolsonaro vetou a proibição de contingenciamento de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), talvez a principal fonte de financiamento de ciência e tecnologia neste país…

CIÊNCIA

James Carville, chefe da bem-sucedida campanha presidencial de Bill Clinton à Presidência dos Estados Unidos (fator político) no início da década de 90, para chamar a atenção sobre o fato de que qualquer arrazoado político só sensibilizaria o eleitor (fator social) se estivesse respaldado no aumento de emprego (fator econômico), cunhou a expressão “É a economia, estúpido!” Parafraseando essa expressão podemos mais apropriadamente interpretá-la como “É o conhecimento, estúpido!”

No último dia 13, o presidente Jair Bolsonaro vetou a proibição de contingenciamento de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), talvez a principal fonte de financiamento de ciência e tecnologia neste país. Caso esse veto não seja revertido pelo Congresso, o projeto de autoria do senador Izalci Lucas estará morto, com graves consequências para o que realmente importa para que o Brasil seja uma nação próspera: conhecimento científico e tecnológico. Foi por entender esse conceito básico que nações ao longo da história tiveram real protagonismo e soberania. Coreia do Sul e China são apenas dois dos exemplos mais recentes e acachapantes.

Na década de sessenta a renda per capita da Coreia do Sul era, em média, a metade da brasileira, ao passo que atualmente é 3,5 vezes maior. O exemplo chinês é tão dramático quanto. De acordo com o Banco Mundial em 1980 o PIB da China correspondia a 2% do PIB mundial. Atualmente o PIB chinês, com 14,4 trilhões de dólares, corresponde a 15,5% do PIB de todo o planeta, enquanto nós, com um PIB de 1,85 trilhões de dólares, é que amargamos os tais 2%. Aliás, até 1990 o PIB chinês era menor que o nosso.

O conhecimento proporcionado pela ciência, traduzido economicamente pela tecnologia, pode ser bem compreendido quando se compara, por exemplo, o valor agregado entre o minério de ferro e o aço. Em janeiro de 2020 o minério de ferro esteve cotado a 95,76 dólares a tonelada ao passo que nos Estados Unidos, graças a sobretaxa imposta pelo governo americano para o aço importado, a tonelada de bobina a quente de aço foi vendida por 1.015 dólares, mais de dez vezes o valor pago pela tonelada da commodity que lhe deu origem.

Ainda mais dramática é a agregação de valor proporcionada pela tecnologia aplicada ao café, commodity em que o Brasil é líder mundial – eu que o diga, natural que sou aqui do Sul de Minas, região dos melhores cafés do Brasil. Ainda assim, mais ganha é quem mais agrega valor ao longo da cadeia produtiva, do plantio e colheita até chegar às cafeterias mais descoladas. Nesse contexto, outras nações como Suíça e Alemanha ganham mais divisas com o café do que nós, os campeões mundiais de produção da mercadoria in natura. Senão vejamos, o preço hoje pago ao agricultor por uma saca de café é da ordem de 515 reais. Um saco de 60 kg de cápsulas de café da líder de mercado Nestlé Dolce Gusto Intenso seria de 12.316,07 reais, tendo como base o preço pago pelo consumidor final, de 22,99 reais na boca do caixa em um supermercado qualquer, por uma caixa de 16 cápsulas (112 gramas).

Ora, isso quer dizer que o produto com valor agregado se apresenta com preço cerca de 24 vezes maior.

A aplicação do conhecimento científico nos exemplos apresentados não é algo que se desconheça, em absoluto, visto que o Brasil é uma das nações que mais contribuem para alimentar o planeta, graças à tecnologia presente na agropecuária, além do exemplo da Embraer, que sobejamente tantos nos orgulha. Aliás, parabéns Ozires Silva pelos seus 90 anos bem vividos.

Ainda assim, fica o óbvio no apelo aos dirigentes e formuladores de políticas públicas em nosso país que, frequentemente, se esquecem de que o conhecimento é, de fato, a única e verdadeira riqueza e que o resto não passa de commodity. Atentem para o fato de que a frase É o conhecimento, estúpido! não é uma mera figura de linguagem, pois que sintetiza a percepção do valor da educação que sendo de qualidade difunde conhecimento e que se traduz em riqueza pela tecnologia. Só dessa forma o Brasil fará parte do rol das nações de maior prosperidade e – por que não? – almejar com a riqueza resultante maior justiça social.

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Página 7 - Dagoberto Alves de AlmeidaDagoberto Alves de Almeida – ex-reitor da Universidade Federal de Itajubá.

1 thought on “É o conhecimento, estúpido! Por Dagoberto Alves de Almeida

  1. Parabéns meu querido “aluno é primo. Sempre consciente, a par de tudo. Nós, da área da educação, entendemos muito bem o que estão fazendo com o Brasil. Siga em frente. Tenho muito orgulho de você.

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