CRUZ VERMELHA

Emblemas oficiais da Cruz Vermelha Internacional – ano de introdução

A Cruz Vermelha e a pirataria informática. Por José Horta Manzano

CRUZ VERMELHA
Emblemas oficiais da Cruz Vermelha Internacional – ano de introdução

O emblema da Cruz Vermelha é coisa séria. Introduzido em 1864 e confirmado por sucessivas convenções internacionais, a conhecida cruz de cor vermelha inscrita num quadrado de cor branca nada mais é que a bandeira suíça com as cores invertidas. O conjunto guarda as mesmas proporções da bandeira. Sua função é identificar, em zonas de conflito, os serviços sanitários e os sacerdotes militares, que estão lá para ajudar a quem precisa, pouco importando a cor do uniforme dos feridos.

Visto que a Suíça tem se mantido tradicionalmente neutra em conflitos, a bandeira com as cores invertidas foi escolhida com o propósito de sublinhar a neutralidade da Cruz Vermelha. Tanto na guerra quanto na paz, a organização se abstém de tomar partido por este ou por aquele lado.

Além da cruz propriamente dita, também é reconhecida oficialmente a Meia-Lua Vermelha (ou Crescente Vermelho). Utiliza-se em países de cultura maometana, onde a cruz pode ser percebida como símbolo imperialista. Outras regiões do mundo tentaram obter autorização para diferentes símbolos, mas o Comitê Internacional da Cruz Vermelha enxergou ali um risco de indesejável banalização do emblema.

Para resolver o problema de países que não desejassem utilizar nem cruz, nem meia-lua, o Comitê Internacional criou, em 2005, um terceiro emblema: o Cristal Vermelho – símbolo sem conotação religiosa. Ele é muito pouco utilizado, quase todos optando pela cruz ou pela meia-lua. A exceção é Israel, que, dentro de seu território, usa a estrela de Davi; em operações internacionais, ostenta o Cristal Vermelho.

A pirataria informática é uma praga de nossos dias. Ataques cibernéticos ameaçam desde corporações gigantescas até pequenas empresas. O objetivo dos piratas atuais (em português, hackers) é tão torpe quanto o de seus predecessores de três séculos atrás: chantagear as vítimas ao ameaçar de divulgar os dados surrupiados, na intenção de extorquir-lhes importantes somas em dinheiro. É moderna versão do antigo “A bolsa ou a vida!”. Ninguém está a salvo, nem mesmo o solitário indivíduo que trabalha diante de seu computador.

À vista disso, o Movimento Internacional da Cruz Vermelha, sediado em Genebra, está preocupado. Desde meados do século 19, a organização cresceu e está hoje estabelecida em praticamente todos os países do globo. Já vão longe os tempos em que sua ação se limitava a cuidar de feridos nas batalhas. Seu raio de ação abrange hoje não somente socorros urgentes prestados sob o fogo dos canhões, mas cuidam também de minorar o sofrimento dos que sobrevivem aos conflitos.

Cuidam com especial atenção das populações mais carentes, fornecendo próteses para amputados (mãos, braços, pés), serviços hospitalares, banco de sangue. Têm também programas de combate a endemias e epidemias, prevenção de propagação de doenças infecciosas em países miseráveis, amparo à maternidade, à miséria e à velhice, ajuda em caso de catástrofes naturais – enfim um grande volume de ajuda aos que precisam.

Essas atividades fazem que a Cruz Vermelha detenha dados pessoais de boa parte daqueles que recebem algum tipo de ajuda, o que significa um montão de gente. O comitê central está em pleno trabalho de reflexão sobre a melhor maneira de proteger todos esses indivíduos contra eventual exposição de seus dados pessoais provocada por algum crapuloso ataque cibernético.

Para isso, várias soluções estão sendo estudadas, entre elas, a criação de uma “Cruz Vermelha virtual”, ou seja, um marcador informático que pudesse agir como a cruz estampada nas ambulâncias que transportam feridos em campo de batalha. Buscam algo que fizesse saber a um eventual hacker que ele está a ponto de ultrapassar o limite de um território protegido e inviolável.

Considerando a enormidade das ramificações com que conta a Cruz Vermelha, o trabalho é gigantesco. Se estão fazendo isso, é porque ainda acreditam que um pirata, por mais pirata que seja, tira o chapéu quando entra na igreja. Em outras palavras: respeita o que tem de ser respeitado. Afinal, o emblema da cruz vermelha e o da meia-lua vermelha indicam aquilo que não deve ser violado.

Sabendo que, no Brasil, bandidos assaltam hospital, invadem delegacia, roubam merenda escolar e afanam placa de túmulo, fico com um pé atrás. Desejo pleno sucesso ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha, mas acredito que, no código da bandidagem, a ganância fala mais alto que a ética.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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