Bahrein

Bahrein. Por José Horta Manzano

O Bahrein, reino insular do Oriente Médio, é um país muito pequeno, mas muito rico. Pelas contas do FMI, seu PIB em 2017 foi de US$ 52.000 por habitante. Para efeito de comparação, no mesmo ano o Brasil cravou US$ 15.500 por habitante. Uma senhora diferença de 1 pra 3,5…

Bahrein

A economia do país é inteiramente baseada na extração de petróleo. Antes da descoberta do óleo negro, a ilha era habitada por tribos que comercializavam com outros povos da região. Não sei bem o que vendiam nem o que compravam, mas esse detalhe pouco interessa à nossa história.

O fato é que, como todo o mundo sabe, as reservas de petróleo não são infinitas. É difícil dizer quanto tempo vão durar, porque vai depender do ritmo de extração. Mas, do jeito que vão as coisas, com o mundo buscando (e encontrando!) fontes renováveis de energia, não vai demorar muito pra que o petróleo perca boa parte de seu interesse e os preços despenquem.

Os dirigentes do pequeno país não são bobos nem vivem dentro de uma bolha. Sabem perfeitamente que, se nada fizerem, dentro de poucas décadas voltarão a andar de camelo nas areias de seu desértico país. Com chance, poderão vender alguns quilos de tâmaras a alguma caravana de passagem.

A fim de não sofrer esse triste fim, já faz anos que vêm investindo para transformar o reino em um polo de “soft power”, um moderno centro de tecnologia, de telecomunicações e de turismo. Só assim escaparão de um retorno a condições medievais.

Bolsonaro esteve lá estes dias, pra inaugurar a embaixada do Brasil em Manama, a capital, e pra saudar o soberano. Na véspera de ser recebido pelo rei, nosso presidente estava ainda em Dubai. Foi lá que, imaginando que o auditório fosse integrado por um bando de ignorantes, contou a grande mentira que marcou seu passeio médio-oriental: que a Amazônia ainda estava “do mesmo jeitinho e do mesmo tamanho que tinha quando chegaram os portugueses 500 anos atrás”. A enormidade coincidiu com a publicação dos números de desmatamento do mês passado: 876,5 km2. Tem ideia do que isso signifique?

Faz dois dias, escrevi sobre o assunto. Volto a bater na mesma tecla porque acabo de me dar conta de que a superfície do Reino do Bahrein – com tudo incluído: a ilha principal, ilhas costeiras, camelos, o rei, os ouros e os mármores – atinge 785,0 km2. Resultado do páreo: só no mês de outubro, apesar do negacionismo crônico de Bolsonaro, o Brasil destruiu uma área de cobertura vegetal maior que a superfície do Bahrein inteiro!

Fico aqui calculando quantos barris de ouro negro o rei do desértico país não daria pra ter uma parte, uma pequena parte, um tiquinho desse verde todo que o Brasil vai destruindo a cada dia que passa. Nem que fosse meia dúzia de árvores.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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